quarta-feira, 13 de abril de 2011
Algumas palavras sobre o Zapatismo
O zapatismo actual é um fenómeno político particular no conjunto dos movimentos políticos contemporâneos.
Sabe-se que nasce da acção de militantes radicais esquerdistas chegados às terras índias do Chiapas entre os anos 70 e 80 do século passado: estes jovens integraram-se bem nas comunidades indígenas locais e, com o passar do tempo, identificaram-se com estas comunidades ao ponto de desenvolver o papel de porta-vozes dos seus interesses.
Trata-se do ponto de partida para compreender o fenómeno zapatista: podemos dizer que agora apresenta uma matriz índia muito clara, sem ser somente o veículo de valores indígenas.
Em primeiro lugar, é hoje expressão e instrumento dos desejos das comunidades indígenas pela autonomia, ou seja, pela autodeterminação cultural e económica. A organização tradicional destas Comunidades não se baseia no domínio de um cacique despótico, mas numa autoridade que actua em baixo e permanece na assembleia comunitária, fonte do poder popular. O zapatismo de nova forma avaliou esta organização tradicional, e fez disto o ponto de partida para a sua aproximação aos problemas políticos.
Como disse o próprio subcomandante Marcos, o zapatismo não quer a conquista do poder ou - melhor dito - do domínio político. Deseja porém «abrir um espaço de luta política onde o povo cidadão (...) possa desenvolver uma participação política real, opinar e decidir qual o sistema social e o sistema político (...) que queira».
O objectivo é construir espaços livres e autogeridos para realizar directamente o contrapoder social. Embora tinha aparecido como movimento armado, o zapatismo está bem longe dos típicos movimentos guerrilheiros, in primis latino-americanos, e a sua atipicidade faz com que os "puristas" do anarquismo possam considerá-lo somente reformista.
Na realidade, o zapatismo é hoje a fonte duma acção maciça de resistência contra a penetração do Estado, do capital e do imperialismo nas zonas onde obra politicamente.
Estas três formas de domínio querem desapossar os povos indígenas do sul de México (do Estado de Chiapas, em particular) das suas terras e começar uma exploração total dos recursos daquelas regiões.
Enquanto os zapatistas controlarem aqueles territórios, os projectos do Estado mexicano, do capitalismo nacional e internacional, e do imperialismo ficarão paralisados.
O zapatismo com os indígenas do sul mexicano luta contra a penetração do Estado e a "ocidentalização", enquanto o anarquismo clássico luta dentro de territórios ocidentalizados, já moldados pelo Estado e pelo capital; e - por isto - utiliza métodos diferentes, que não podem ser os mesmos do zapatismo.
Mas o zapatismo tem uma possibilidade de acção maior na sociedade mexicana de hoje, sociedade que se quer disposta a reconhecer a identidade cultural e social de brancos, mestiços e índios: trata-se da defesa dos direitos e da auto-organização de classe dos explorados mexicanos. Nesta óptica são importantes a recente presença de Marcos na Cidade de México e o apoio zapatista às lutas dos camponeses vendedores de flores em Atenco, na zona de Texcoco, brutalmente atacados pela polícia. Se o zapatismo conseguir estender o seu raio de acção para além do sul, nesta conjuntura caracterizada por uma forte crise económica e social e pelo fortalecimento do controlo dos EUA nas fronteiras, contra a emigração mexicana, pode ser vejamos novidades interessantes no México, no futuro próximo. O importante é que a luta continue.
Pier Francesco Zarcone
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