quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Ranking da Corrupção

1 Nova Zelândia (9,4)
2 Dinamarca (9,3)
3 Cingapura (9,2)
3 Suécia (9,2)
5 Suíça (9,0)
6 Finlândia (8,9)
6 Holanda (8,9)
8 Austrália (8,7)
8 Canadá (8,7)
8 Islândia (8,7)
11 Noruega (8,6)
12 Hong Kong (8,2)
12 Luxemburgo (8,2)
14 Alemanha (8,0)
14 Irlanda (8,0)
16 Áustria (7,9)
17 Japão (7,7)
17 Reino Unido (7,7)
19 Estados Unidos (7,5)
20 Barbados (7,4)
21 Bélgica (7,1)
22 Qatar (7,0)
22 Santa Lúcia (7,0)
24 França (6,9)
25 Chile (6,7)
25 Uruguai (6,7)
27 Chipre (6,6)
27 Estônia (6,6)
27 Eslovênia (6,6)
30 Emirados Árabes Unidos (6,5)
31 São Vicente e Granadinas (6,4)
32 Israel (6,1)
32 Espanha (6,1)
34 Dominica (5,9)
35 Portugal (5,8)
35 Porto Rico (5,8)
37 Botsuana (5,6)
37 Taiwan (5,6)
39 Brunei (5,5)
39 Omã (5,5)
39 Coreia do Sul (5,5)
42 Maurício (5,4)
43 Costa Rica (5,3)
43 Macau (5,3)
45 Malta (5,2)
46 Bahrein (5,1)
46 Cabo Verde (5,1)
46 Hungria (5,1)
49 Butão (5,0)
49 Jordânia (5,0)
49 Polônia (5,0)
52 República Tcheca (4,9)
52 Lituânia (4,9)
54 Seychelles (4,8)
55 África do Sul (4,7)
56 Letônia (4,5)
56 Malásia (4,5)
56 Namíbia (4,5)
56 Samoa (4,5)
56 Eslováquia (4,5)
61 Cuba (4,4)
61 Turquia (4,4)
63 Itália (4,3)
63 Arábia Saudita (4,3)
65 Tunísia (4,2)
66 Croácia (4,1)
66 Geórgia (4,1)
66 Kuait (4,1)
69 Gana (3,9)
69 Montenegro (3,9)
71 Bulgária (3,8)
71 Macedônia (3,8)
71 Grécia (3,8)
71 Romênia (3,8)
75 Brasil (3,7)
75 Colômbia (3,7)
75 Peru (3,7)
75 Suriname (3,7)
79 Burkina Fasso (3,6)
79 China (3,6)
79 Suazilândia (3,6)
79 Trinidad e Tobago (3,6)
83 Sérvia (3,5)
84 El Salvador (3,4)
84 Guatemala (3,4)
84 Índia (3,4)
84 Panamá (3,4)
84 Tailândia (3,4)
89 Lesoto (3,3)
89 Maláui (3,3)
89 México (3,3)
89 Moldova (3,3)
89 Marrocos (3,3)
89 Ruanda (3,3)
95 Albânia (3,2)
95 Vanuatu (3,2)
97 Libéria (3,1)
97 Sri Lanka (3,1)
99 Bósnia-Herzegóvina (3,0)
99 República Dominicana (3,0)
99 Jamaica (3,0)
99 Madagáscar (3,0)
99 Senegal (3,0)
99 Tonga (3,0)
99 Zâmbia (3,0)
106 Argentina (2,9)
106 Benin (2,9)
106 Gabão (2,9)
106 Gâmbia (2,9)
106 Níger (2,9)
111 Argélia (2,8)
111 Djibuti (2,8)
111 Egito (2,8)
111 Indonésia (2,8)
111 Kiribati (2,8)
111 Mali (2,8)
111 São Tomé e Príncipe (2,8)
111 Ilhas Salomão (2,8)
111 Togo (2,8)
120 Armênia (2,7)
120 Bolívia (2,7)
120 Etiópia (2,7)
120 Cazaquistão (2,7)
120 Mongólia (2,7)
120 Vietnã (2,7)
126 Eritreia (2,6)
126 Guiana (2,6)
126 Síria (2,6)
126 Tanzânia (2,6)
130 Honduras (2,5)
130 Líbano (2,5)
130 Líbia (2,5)
130 Maldivas (2,5)
130 Mauritânia (2,5)
130 Moçambique (2,5)
130 Nicarágua (2,5)
130 Nigéria (2,5)
130 Uganda (2,5)
139 Bangladesh (2,4)
139 Belarus (2,4)
139 Paquistão (2,4)
139 Filipinas (2,4)
143 Azerbaijão (2,3)
143 Comores (2,3)
143 Nepal (2,3)
146 Camarões (2,2)
146 Equador (2,2)
146 Quênia (2,2)
146 Rússia (2,2)
146 Serra Leoa (2,2)
146 Timor Leste (2,2)
146 Ucrânia (2,2)
146 Zimbábue (2,2)
154 Costa do Marfim (2,1)
154 Papua-Nova Guiné (2,1)
154 Paraguai (2,1)
154 Iêmen (2,1)
158 Camboja (2,0)
158 República Centro-Africana (2,0)
158 Laos (2,0)
158 Tadjiquistão (2,0)
162 Angola (1,9)
162 Congo (Brazzaville) (1,9)
162 República Democrática do Congo (1,9)
162 Guiné-Bissau (1,9)
162 Quirguistão (1,9)
162 Venezuela (1,9)
168 Burundi (1,8)
168 Guiné Equatorial (1,8)
168 Guiné (1,8)
168 Haiti (1,8)
168 Irã (1,8)
168 Turcomenistão (1,8)
174 Uzbequistão (1,7)
175 Chade (1,6)
176 Iraque (1,5)
176 Sudão (1,5)
178 Mianmar 1,4
179 Afeganistão (1,3)
180 Somália (1,1)

Fonte: ONG Tranparência Internacional

sábado, 14 de novembro de 2009

Brincando De Marionete

A trilha sonora é tiro a cena é de terror, o ar é triste tem aglomeração
Sirenes, viaturas, calibres, 12, 38, veja as manchas no chão
O carro preto e branco define atração,
17 caio pelo pionner cd na mão, a arma foi Glock
Fulano sem Ibope, Cinco na cabeça, passaporte pra morte
A sigla IML, define seu caminho
Oitava gaveta na geladeira, um cadáver decomposto
Do estilo que bóia no rio,
Defunto pra pesquisa olha o conto do legista
Pobre é fundamental pra medicina
Corta o cérebro,arranca o pulmão, abre o peito no meio e come o coração
É míssil teleguiado, controle remoto,
Marionete do sistema brasileiro de corpos
Sei que os porcos batem palmas pro meu caixão
Que deliram no cemitério, na detenção
Com nosso sangue escorrendo no chão
Querem grampo no meu pulso,
Me ver apodrecendo no X de uma delegacia
Esperando na febre, a quarta feira meu jumbo, a minha visita
Se pá um risco de cocaína, querem ver o meu ódio,
Minha semiautomática jogando na rota
Vela acesa meus pêsames, outro cadáver pá, outra vitima morta
Me querem de quebrada com um na cinta,
Um bolso entupido,roubando um toca fita
E dando 5g pro seu filho
Uma AR15 fodendo o carro forte, uma AR15 num banco, bebendo seu sangue
Em busca do cofre, uma facada no peito do pilantra,
Uma rajada nos playboy filhos da puta de zoomp, forum
Tirando um racha com suas piranhas,
Bomba relógio no seu escritório
Quero ver me olhar com nojo, sem fax, computador, celular, no seu velório,
Não vou estar no chão te estendendo a mão, ou comendo seu lixo
Use seu dinheiro pras puta das boate, pra faculdade do seu inútil filho
Use o dinheiro pra whysk, carro esporte,
Pro buffet do hotel de luxo, não cheiro de sua farinha
Tenho dignidade, não meto os cano na sua raça não vejo futuro
realça lut palatino, lagosta, caviar
Faça o seu papel, não abre o vidro no farol,
Nem estenda o pulso com um rolex, pra 380 não atirar
Ou pra não ver o moleque com o nariz escorrendo
Com roupas rasgadas, queimado de cigarro, feridas no corpo, fedendo
Se fodendo mendigando dinheiro,
Pra uma mãe ou pai, filho da puta pra cachaça,cigarro, crack,
Que neurose e desespero
Aí o sangue sobe, tem que ter enterro
Tiro de escopeta na cara, o álcool queimando pelo corpo inteiro
Aí você atrás das grades
Aí você com o ferro, fazendo boy pagar pedágio
Seu BO, no carro forte, assalto a banco
São apenas peças de um jogo
Onde matar ladrão é mais o fácil, é o aceitável
Aqui se joga na cadeia, não é pra se regenerar, é pra ver detento se matar
Se joga crack na favela, e se espera o resultado
Abra-cadabra, chove finado
Já assinei um 12, sei como é lá dentro
Aqui fora descobri que detendo tem rótulo na testa
Tatuagem, carimbo pra sempre detento,
Eterno marionete, cair na armadilha
Faço o contrario fulano, aposente os calibres,
Dispense a farinha, desfaça a quadrilha
Raciocine com o cérebro não com os calibres
O meu caminho eu mesmo traço é Dundum, Facção
Bem longe do crime, é o sistema brincando de marionetes

(Refrão)
Brincando de Marionetes,
É o sistema brincando de marionetes
Brincando de Marionetes
É os sistema brincando de marionetes

De braços abertos sobre a cabeça de outro cadáver está Jesus
Dando como premio a sua benção
E aceitando quem quer que seja sob a sua cruz
Não pede holerite, não olha a cor, não puxa o DVC
Não importa se fez faculdade, se tem curso superior
Ou se derrubou uns três antes de morrer
Nunca li a Bíblia, mal passei em porta de igreja
Nunca botei fé em religião,
Só tenho Deus uma certeza
Que aqui no inferno, até o diabo tem perdão vai pra cima,
Que todo homem merece misericórdia a graça de Nossa Senhora Aparecida
O detento puxando, quatro de ponta revezando seu sono atrás das grades
Enquanto uns dorme outros sonham com a liberdade
O moleque com a mão estendida querendo um pedaço de hot dog
Se contendo, ficando feliz com resto da sua fanta, apenas um gole
O mano HIV positivo na UTI, na cama do hospital
Ou deficiente sem sorriso, que sonha com sua moeda de 5, 10, 25
Qualquer real, se segura na mão de Deus e vai, diz o verso da canção
Mansão, iate, ouro, dólar, são em vão
Preto ou branco, pobre ou rico, pro buraco só leva o caixão
180 por hora, passou estilo carro de corrida
Pacoteira no bolso, Honda Civic instalado de cocaína
O perfil do jovem de bem, brasileiro do tipo que queima índio com alcool
O santo, o filho do juiz, o bom exemplo
A justiça no Brasil é pro detento na detenção
Que destrói o pavilhão com as mãos
Bota fogo, joga pedra no PM cuzão
Aí o promotor condena
Cola globo, sbt, revista veja querendo a noticia
Nosso sangue é manchete pro empresário que ouve a vida no rádio do seu carro
Com seu motorista 111 no saco, isso sim que é justiça
Sua raça cheira mata, derrete o cachimbo
Paga o honorário, pa e pum advogado ta lá pra tirar
E o delegado sorrindo, mas se a minha ta na cinta se liga na bronca
Sou assassino confesso sem defesa
Trinca de ponta, se enquadram minha goma, reviram a gaveta, já era o
guarda-roupas
Abrem o som, a tv atrás de flagrante
Vários chutes na boca, desrespeitam a minha mulher, minha filha
Sem mandato um batalhão de gambé na minha sala dando coronhada
Apavorando minha família
Não fui criado nos Jardins nem no Morumbi
Não me hospedo em hotel cinco estrela
Não tenho motorista, uma BMW, esperando por mim
Nasci pra assalto à banco e carro forte
Pra ser o elo da farinha da playboyzada pra favela
O justiceiro que respira morte, o assassino que abre sua cabeça no meio por
dinheiro
Ou o seqüestrador que te queima, te tortura, te esfaqueia no cativeiro
Que pega seu filho pelo pescoço de refém, exige carro, armas
E espalha os miolos dele como se fosse um cachorro papapa como se fosse
ninguém
Só o livro a caneta, o lápis, o caderno evitam que o Eduardo do céu seja o
Eduardo do inferno
Esqueça toda essa porra de BO, fita boa, armamento é tudo ilusão
De um abraço no seu pai, sua mãe, sua mina, isso sim é real não da sangue,
não da caixão
Seu trampo, seu estudo brecam o cano do PM,
Pobre informado, engatilhando o raciocínio,
É embaçado qualquer país treme, quando a sirene do carro funerário tocar
Entre as flores lá no caixão,
Quero ver o mano digno não marionete, que morreu na mão da rota
Apenas outra ladrão, aqui diz Facção, Facção.

(Refrão) Brincando de Marionetes, é o sistema brincando de marionetes (2X)

Aí mano aposente seu calibre, dispense a farinha, desfaça a quadrilha, o
nosso sangue o cadáver embaixo do jornal, o moleque fumando crack, é o que
o sistema brasileiro de corpos quer, pobre se matando, pobre trocando tiro
entre si, pobre morrendo na mão da policia, pobre no cemitério, seu trampo e
seu estudo brecam o cano do PM, mano informado, digno se valorizando é
embaçado mano, o Brasil treme, Eduardo Dundum, Erick 12, Facção Central,
1998, Brincando de Marionetes.

Facção Central

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Geisy, uma universitária afogada na onda machista e conservadora



Gritos, corre-corre, policiais, bolinhas de papel e xingamentos. As imagens de centenas de estudantes cercando uma moça loira de jaleco branco se espalharam pela internet tão rápido quanto a onda criada nos corredores na Universidade Bandeirante de São Paulo (Uniban), em São Bernardo do Campo (SP), que perseguiu e expulsou a estudante do curso de Turismo, Geisy Villa Arruda, no dia 22 de outubro.

Na ocasião, Geisy usava um vestido curto, cor de rosa e, por isso, foi hostilizada, humilhada e duas vezes expulsa por alunos, professores e a reitoria da Uniban.

Apesar das cenas expostas no YouTube, parte dos meios de comunicação se somou a onda da Uniban e passou a criticar a vítima da agressão, apontando “a falta de etiqueta” da moça e seu “microvestido” como responsáveis pela selvageria.

Nos dias seguintes, Geisy foi cercada por programas de rádio, tevê, revistas e jornais impressos. Viu colegas e professores a hostilizarem via imprensa e por isso passou a sentir medo de voltar a estudar.

Em uma posição de dupla moral os meios de comunicação especularam sobre sua vida. De um lado venderam o corpo de uma bonita mulher (inclusive especulando se ela sairia nua em uma revista masculina), por outro condenaram seu comportamento.

Assim, num sábado, dia 7, a aluna foi expulsa pela reitoria da Uniban que, por meio de seu corpo jurídico, justificou a punição afirmando em nota que a aluna seria excluída “do quadro discente da instituição, em razão do flagrante desrespeito aos princípios éticos, à dignidade acadêmica e à moralidade”.

Dois dias depois, os questionamentos do Ministério Público Federal, do Ministério da Educação e da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres e uma manifestação organizada pela União Nacional dos Estudantes e pela Marcha Mundial das Mulheres em frente à universidade surtiram efeito e a aluna foi readmitida no curso de Turismo.

Sinais de que?

O episódio da Uniban traz luzes para aspectos de comportamentos crescentes na sociedade, como o conservadorismo e a despolitização dos jovens nas universidades. Sônia Coelho, militante da Marcha Mundial das Mulheres, conta que durante o protesto em frente à universidade “muitas eram as reações de repúdio contra quem estava protestando”.

“O que mais impressiona neste caso é o conjunto dos absurdos, a reação coletiva. Quem viu no YouTube, viu que realmente foi assustador” afirma Sônia, que completa: “A atitude da Uniban demonstra como a sociedade justifica sua violência contra as mulheres. E quando uma violência como esta é justificada na sociedade, isso estimula e banaliza a agressão. Esta violência não é contra a Geisy. Porque esta é a violência que deixa a mulher insegura, se perguntando se será agredida quando sair a noite na rua, já que um homem pode agredi-la e isso ser justificado na sociedade pelo comportamento da mulher”.

Na opinião de Fabiola Paulino, diretora de mulheres da UNE, as agressões de gênero fazem parte do cotidiano das estudantes do ensino superior de todas as universidades. “A gente sabe que essa é uma opressão cotidiana. Durante os trotes, os estudantes carregam nas ‘brincadeiras’ machistas. A trajetória acadêmica é de humilhação para as mulheres. É possível ver como as mulheres são tratadas como mercadoria nas imagens de cartazes das calouradas e nos convites para as festas das universidades”.

A diretora da UNE afirma que a questão de gênero, dos negros e dos movimentos sociais deveria estar presente nas universidades. “Ao contrário, o que temos, é uma educação cada vez mais mercadológica, contrária a uma educação de princípios e valores emancipatórios”, declara Fabiola.

Para a militante da Marcha Mundial das Mulheres, não só as universidades, mas a educação escolar, desde os primeiros anos, é um dos mais fortes agentes de reprodução da desigualdade e do machismo. Para combater essa violência, o artigo terceiro da Lei Maria da Penha prevê formação escolar que combata a opressão de gênero nas escolas constando “nos currículos escolares de todos os níveis de ensino, para os conteúdos relativos aos direitos humanos, à eqüidade de gênero e de raça ou etnia e ao problema da violência doméstica e familiar contra a mulher”.

www.bbcbrasil.com.br

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Vestibular - Era da informação

VESTIBULAR 2009

01.(IBMECRJ) Uma malha digital que cresce em velocidade vertiginosa está cobrindo nosso planeta: é a internet, a rede mundial de computadores. Considerando essa importante inovação tecnológica contemporânea, analise a informação:
A integração econômica global é facilitada pelo uso das mesmas técnicas, contudo, integrar não significa incluir a todos.

Com base nas informações e em seus conhecimentos, escolha a alternativa que melhor explica a afirmativa apresentada.
a) A era da informação e da revolução científica prioriza a qualificação da mão de obra e a incorporação de novas habilidades, reconhecendo a diferença existente entre ricos e pobres.
b) A velocidade da informação é o benefício apresentado pela internet para a globalização, pois reduz o espaço mundial a um espaço virtual, sem a necessidade de integrar a todos os internautas.
c) A internacionalização da rede e a incorporação de centenas de milhões de usuários por todo o planeta excluem as diferenças culturais e econômicas devido à mundialização dos padrões de consumo.
d) A internet dinamizou e tornou imediatas transações e negociações em escala mundial, evitando a exclusão digital pelas parcerias com empresas e investimentos em inovações tecnológicas.
e) Ao mesmo tempo em que a internet facilita o processo de integração econômica global, é também responsável pela chamada exclusão digital, pois acentua a distância entre os usuários e aqueles que já viviam em situação de marginalidade econômica e social.

02.(UESPI) O esboço esquemático, apresentado a seguir, é característico das sociedades:



a) socialistas.
b) fordistas.
c) informacionais.
d) comunistas.
e) monárquicas.

03.(UEPB)

Pela Internet (Gilberto Gil)
In: CD Quanta. Gilberto Gil. Warner Music Brasil Ltda, 1997, faixa 11. CD 1.

Criar meu web sit
Fazer minha home-page
Com quantos gigabytes
Um barco que veleje
Que veleje nesse infomar
Que aproveite a vazante da infomaré
Que leve um oriki1 do meu velho orixá
Ao porto de um disquete de um micro em Taipe
[...] Que leve meu e-mail até Calcutá
Depois de um hot-link
Juntar via Internet
Num site de Helsinque [...]
Eu quero entrar na rede
Promover um debate [...]
[...] Um haker mafioso acaba de soltar
Um vírus pra atacar programas no Japão
Eu quero entrar na rede pra conectar
Os lares do Nepal, os bares do Gabão
Que o chefe da polícia carioca avisa pelo celular
Que lá na praça Onze tem um videopôquer para se jogar
(grifos nossos)

(1 Oriki palavra da língua Yorùbá, que tem vários significados, um
deles pode-se traduzir como literatura ou textos para a língua
portuguêsa. (http://pt.wikipedia.org))

A partir dos fragmentos da letra da música, é possível perceber as transformações que o meio técnico-científico-informacional introduz na sociedade contemporânea, tais como:

I - A necessidade do domínio de um vocabulário específico e universal para se ter acesso ao sistema informacional e dele poder participar.
II - A permanente necessidade de atualização a partir da rapidez das transformações e da constante obsolescência dos objetos que são lançados no mercado.
III - O surgimento dos crimes virtuais e de novas formas de arbitrariedades só possíveis com o advento dessas novas tecnologias.
IV - O conhecimento do mundo ocorrendo em tempo real e simultâneo, o que permite não só a globalização econômica mais também cultural.

Estão corretas as proposições
a) I, II, III e IV.
b) I e III, apenas.
c) I, II e III, apenas.
d) II, III e IV, apenas.
e) I, II e IV, apenas.

04.(UEPB)

Com base nos seus conhecimentos e com o auxílio do texto apresentado na questão anterior, assinale com V ou com F as proposições, conforme sejam respectivamente verdadeiras ou falsas em relação à atual globalização do capitalismo.

( ) O progresso técnico e o acesso indiscriminado de todos os povos e classes sociais aos computadores e à Internet fazem com que o mundo se apresente sem fronteiras entre povos e nações, havendo hoje uma só realidade para todos.
( ) A cultura é um elemento diferenciador entre os povos, o que não permite a completa homogeneização do espaço num mundo globalizado pela informação instantânea e planetária.
( ) A relação tempo cronológico/ distância é redimensionada com o meio técnico-científico-informacional, já que pessoas, objetos e informações circulam com uma rapidez até então inimagináveis.
( ) Os modernos sistemas de comunicações tornaram possível a instantaneidade da informação e com isso o conhecimento dos eventos longínquos, o que faz com que todos os lugares se tornem espaços da globalização.

A seqüência correta das assertivas é

a) V V V V
b) F F V F
c) F V V V
d) V F V V
e) V V V F

05.(UFSCAR) A Terceira Revolução Industrial gerou mudanças profundas na configuração espacial do mundo, a qual o geógrafo Milton Santos denominou de meio técnico-científico-informacional. Sobre
essas mudanças, são feitas quatro afirmações. Analise-as.

I. O avanço do sistema de comunicações e de informática permitiu uma organização do espaço geográfico através de redes, que ampliam os fluxos possíveis, mesmo sem a fixação concreta das atividades produtivas em muitos pontos do espaço.
II. Apesar da ciência, da técnica e da produção estarem irregularmente distribuídas no espaço geográfico, as inovações tecnológicas estão disponíveis para todos, visto que elas transitam em fluxos que circulam por todo o mundo.
III. Embora a ampliação das relações internacionais, entre países da economia capitalista, tenha se iniciado há alguns séculos, essas mudanças alteraram o ritmo das interações espaciais, aumentando as trocas de mercadorias e a difusão de hábitos de consumo.
IV. A organização do espaço, através de redes, permitiu uma distribuição multiterritorial das atividades produtivas, gerando maior equilíbrio entre nações ricas e pobres, na divisão internacional do trabalho.
Estão corretas as afirmações:

a) I, II, III e IV.
b) I, II e III, apenas.
c) II, III e IV, apenas.
d) I e III, apenas.
e) II e IV, apenas.

06.(UFBA) Durante a guerra fria, os laboratórios do Pentágono chegaram a cogitar da produção de um engenho, a bomba de nêutrons, capaz de aniquilar a vida humana em uma dada área, mas preservando todas as construções. O Presidente Kennedy afinal renunciou a levar a cabo esse projeto. Senão, o que na véspera seria ainda o espaço, após a temida explosão seria apenas paisagem. Não temos melhor
imagem para mostrar a diferença entre esses dois conceitos. (SANTOS, 1996, p. 85).



Com base na leitura do texto e na observação das ilustrações, conceitue
a) paisagem;
b) espaço geográfico;
c) tempo histórico;
d) tempo geológico.

Resolução:

a) “A paisagem é tudo aquilo que vemos, o que a nossa visão alcança. É, portanto, o domínio do visível e pode ser percebida de modo diferenciado. A paisagem é mutável, isto é, ela se transforma ao longo do tempo, em função das diversas formas de produção do espaço pelas atividades humanas.

b) O espaço geográfico é o espaço organizado pelo homem em um substrato físico. É o espaço da geografia. É a paisagem incluindo a vida nela existente. Ele pode ser definido como o conjunto indissociável de sistemas de objetos (redes técnicas, prédios, ruas) e de sistemas de ações (organização do trabalho, produção, circulação, consumo de mercadorias, relações familiares e cotidianas), que procuram revelar as práticas sociais dos diferentes grupos que nele produzem, lutam, sonham, vivem e fazem da vida caminhar.

c) Tempo histórico — representa o tempo a partir do qual o homem marcou a sua presença na historicidade da Terra. Marca as transformações culturais realizadas pelo homem no espaço geográfico. Convencionou-se dividi-lo em séculos, períodos e idades. Envolve, portanto, o tempo cronológico e marca os momentos históricos em seu processo de sucessão e simultaneidade.

d) Tempo geológico — é utilizado para referir-se à história da formação da Terra e, devido a sua duração muito longa (milhões e milhões de anos), é dividido em eras, períodos e idades geológicas.

VESTIBULAR 2008

07.(Ibmec)



a) O mapa indica países, entre eles a China e a Arábia Saudita, que controlam e censuram o acesso de seus habitantes às fontes de informação, como as disponíveis na Internet.
b) O mapa apresenta regiões caracterizadas por uma histórica luta pelos direitos civis, entre eles a liberdade de expressão, como a conquistada pelos chineses após 1989.
c) As áreas hachuradas fazem parte daquele que é considerado pelo atual governo norte americano
como sendo o “eixo do mal”.
d) As regiões destacadas no mapa não permitem nenhum acesso de correspondentes
internacionais de qualquer meio de comunicação ocidental.
e) Os países destacados no mapa passaram, nas últimas décadas, por um intenso processo de
nacionalização da imprensa, o que gerou protestos internacionais.

08.(Ufpi) Para o geógrafo Milton Santos paisagem é “o domínio do visível, aquilo que a vista abarca. Não é formada apenas por volumes, mas também de cores, movimentos, odores, sons (...). A dimensão da paisagem é a dimensão da percepção, o que chega aos sentidos.” (Metamorfose do Espaço Habitado. São Paulo: Hucitec, 1996, p.61-62).
Considerando essa afirmação, analise as sentenças a seguir:
I. A simples observação da paisagem não nos traz explicações sobre as funções das edificações, da organização dos sistemas de produção e de tecnologias empregadas.
II. Apenas os elementos naturais são suficientes para entendermos o espaço geográfico, visível através das paisagens.
III. Ao considerarmos os elementos naturais, as funções dos espaços construídos, as relações e as estruturas econômicas, sociais e políticas, estamos tratando do espaço geográfico e não apenas das paisagens.
IV. As paisagens geográficas envolvem não somente os aspectos naturais, mas também os aspectos visíveis da cultura das sociedades.

Está correto apenas o que se afirma em:

a) I e II
b) II e III
c) II e IV
d) I, II e IV
e) I, III e IV

09.(Fuvest)



A censura política na internet está, em geral, associada à atitude de países que pretendem
I. proteger suas culturas e valores nacionais, inibindo o contato com culturas de outras nações.
II. controlar o acesso a informações sobre a situação política interna e a questão dos direitos humanos.
III. isolar suas economias dos efeitos perversos de um mercado globalizado.

Está correto o que se afirma em
a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) I e II, apenas.
d) III, apenas.
e) I, II e III.

10.(Enade) Os países em desenvolvimento fazem grandes esforços para promover a inclusão digital, ou seja, o acesso, por parte de seus cidadãos, às tecnologias da era da informação. Um dos indicadores empregados é o número de hosts, isto é, o número de computadores que estão conectados à Internet. A tabela e o gráfico abaixo mostram a evolução do número de hosts nos três países que lideram o setor na América do Sul.



Dos três países, os que apresentaram, respectivamente, o maior e o menor crescimento percentual no número de hosts, no período 2003−2007, foram

a) Brasil e Colômbia.
b) Brasil e Argentina.
c) Argentina e Brasil.
d) Colômbia e Brasil.
e) Colômbia e Argentina.

11.(ESPM) O patrimônio cultural brasileiro é dos mais variados e apresenta íntima relação com o espaço geográfico. Ao lado e abaixo temos dois momentos da arquitetura brasileira que remetem a esta reflexão.

Sobre isso, podemos afirmar:



(www.vitruvius.com.br - 05/08)

a) A paisagem é um conceito geográfico caracterizado pela combinação do território com a cultura, como comprova a arte gótica exposta nas duas imagens.
b) A produção do espaço é uma ação exclusivamente antrópica em que o meio físico não apresenta relevância em sua construção.
c) O espaço é uma acumulação desigual de tempos, como pode ser observado nas arquiteturas barroca e moderna, expostas nas imagens.
d) O espaço é estático, a cultura, dinâmica e o papel da geografia é fazer a descrição do momento presente, como ocorrem nas imagens do século XX, expostas acima.
e) A globalização impôs tal padronização cultural aos lugares que extinguiu a preservação da arquitetura histórica, legando ao território, uma convivência exclusiva com a arte contemporânea.

12.(Unipam) “Tudo aquilo que nós vemos, o que nossa visão alcança, é a paisagem. Esta pode ser definida como o domínio do visível, aquilo que a vista abarca. Não é formada apenas de volumes, mas
também de cores, movimentos, odores, sons, etc. [...]”. (SANTOS, Milton. Metamorfoses do espaço habitado.

São Paulo: Hucitec, 1988).

Observe a paisagem abaixo.



Fonte: IVERNEL, Martin. Histoire-Geographie. Paris: Hatier, 2000. p. 274.

A partir da citação e da leitura da paisagem, todas as alternativas estão corretas, EXCETO:

a) A paisagem pode ser considerada como o resultado do processo de construção do espaço geográfico. Ela evidencia, por exemplo, a história da população que ali vive e a maneira como utiliza alguns recursos naturais em seu dia-a-dia.
b) Esta paisagem também pode ser analisada para além do que é percebido apenas pelo olhar. Isso quer dizer que é possível buscarmos explicações para aquilo que se encontra por detrás da paisagem, a busca dos significados do que aparece.
c) Na aparência, as formas da paisagem estão apresentadas de modo estático. Mas, por outro lado, a paisagem é resultado de todo um processo de movimentos da população em busca de sua sobrevivência, como também pode ser resultante de movimentos da natureza.
d) A paisagem é formada, ou por elementos físicos, ou por elementos culturais. Nessa análise, para a compreensão de uma determinada realidade, é imprescindível analisarmos, de maneira compartimentada, os aspectos naturais e os sociais.

13.(Unics) A que categoria geográfica se refere Milton Santos neste fragmento de texto?

“Formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos e
sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá.”

(SANTOS, M., 2004:63).

Assinale a alternativa correta:

a) Paisagem
b) Espaço geográfico
c) Território
d) Lugar
e) Região

VESTIBULAR 2007

14.(Ucpel) Pela Internet

Eu quero entrar na rede
Promover um debate
Juntar via Internet
Um grupo de tietes de Connecticut....

Gilberto Gil, 1999.

O trecho da música de Gilberto Gil traz à tona uma das grandes transformações tecnológicas dos últimos anos do século XX: a Internet. Na virada do século XIX para o XX, também houve o esboço de novas metas, as quais deveriam guiar o novo século. Sobre este último ponto, é correto afirmar que

a) se vivencia o surgimento de novas transformações derivadas, sobretudo, da revolução no campo das comunicações em que a cultura, por meio da Internet, atravessa as fronteiras dos Estados
Nacionais.
b) a transformação das pessoas passava inevitavelmente pelo processo de resgate de antigos
aspectos ligados aos valores tradicionais como, por exemplo, a família e a religião.
c) novas transformações entraram em curso, derivadas da revolução das comunicações. a chamada cultura transnacional , ou seja, existe a difusão de uma cultura cujos padrões atravessavam as fronteiras dos Estados Nacionais.
d) há o surgimento da globalização, com grande destaque para a tecnologia e a comunicação, instrumentos capazes de fazer circular mensagens instantaneamente por meio de satélites, o que causou uma verdadeira revolução tecnológica.
e) o grande desafio das sociedades ocidentais fazia referência à criação dos Estados Nacionais e, para isso, era necessário transformar as pessoas que regiam suas vidas pelos valores tradicionais, em cidadãos, que passariam a obedecer a regras e leis gerais.

15.(Ufop) Leia o texto a seguir:

[...] Fechado ao sul pelo morro, descendo escancelado de gargantas até o rio,
fechavam-no, a oeste, uma muralha e um vale. De fato, infletindo naquele rumo, o Vaza-
Barris, comprimido entre as últimas casas e as escarpas a pique dos morros
sobranceiros, torcia para o norte feito um cañon fundo. A sua curva forte rodeava,
circunvalando-a, depressão em que se erigia o povoado, que se trancava a leste pelas
colinas, a oeste e norte pelas ladeiras das terras mais altas, que dali se intumescem até
aos contrafortes extremos do Cambaio e do Caipá; e ao sul pela montanha. [...]

CUNHA, Euclides da. Os Sertões. Disponível em:
. Acesso em: 4 abr. 2007.

O texto acima descreve um(a):

a) Paisagem.
b) Território.
c) Região.
d) Lugar.

16.(Uepb)

“Toda paisagem que reflete uma porção do espaço ostenta marcas de um passado mais ou menos remoto, apagado ou modificado de maneira desigual, mas sempre presente”.
(Olivier Dolfus, 1991)

De acordo com o texto, podemos afirmar:

a) A paisagem é um conjunto de formas heterogêneas de idades diferentes.
b) A paisagem é estática, ao passo que o espaço é dinâmico.
c) As formas antigas da paisagem são sempre suprimidas, devido a seu envelhecimento técnico e social.
d) As paisagens refletem, sempre, as marcas das desigualdades sociais, por serem produzidas sob o modo de produção capitalista.
e) A paisagem é uma representação do espaço, mas não é espaço, portanto, exibe as formas, mas esconde a essência de sua produção.

17.(Ufrn) A produção do espaço geográfico é um processo histórico e social caracterizado pela apropriação dos recursos naturais pela sociedade e pelo progresso técnico vigente em cada momento histórico. Assim, com o desenvolvimento técnico-científico-informacional, traço marcante do mundo atual, o espaço geográfico

a) passou a ser produzido de forma generalizada, tendo em vista a distribuição homogênea do sistema técnico em escala global.
b) tornou-se mais denso em objetos artificiais, permitindo a aceleração dos fluxos da economia informacional.
c) foi unificado pelo surgimento das cidades globais, devido à distribuição uniforme do sistema mundial de redes de informações.
d) tornou-se globalizado, em virtude da universalização do acesso da população mundial aos objetos técnicos e informacionais.

18.(Fuvest)



O mapa acima representa as áreas de cobertura dos satélites utilizados pela CNN, uma das principais redes mundiais de comunicação. Com auxílio do mapa, é possível afirmar que as grandes redes de comunicação

a) têm como principal meta a divulgação das diferentes perspectivas de compreensão acerca de distintos problemas mundiais.
b) mantêm independência entre o conteúdo da informação e os interesses geopolíticos dos principais
governos do mundo.
c) contribuem para a criação de uma cultura mundial, desenvolvendo padronização da percepção de
conjunturas internacionais.
d) favorecem a criação de um mercado mundial, permitindo intercâmbio paritário entre culturas.
e) foram implantadas para se obter livre acesso à informação, resolvendo o problema do isolamento
cultural.

VESTIBULAR 2006

19.(Ucpel) O conjunto de lugares, marcados por diferentes naturezas, que passaram por diferentes processos históricos, unidos por uma complexa rede de relações que se realizam nas mais variadas escalas, denominase de

a) ecossistema.
b) bioma.
c) espaço geográfico.
d) nicho geográfico.
e) cornubação urbana.

20.(Fdels) O geógrafo Milton Santos propôs uma periodização para o espaço geográfico brasileiro,
segundo uma seqüência histórica de três meios geográficos: o “meio natural”, o “meio técnico” e o “meio técnico-científico-informacional”.

Em relação aos meios geográficos, considere as proposições abaixo:

I) O “meio natural” é caracterizado pela importância da natureza nos processos produtivos, pela reprodução da economia através da extensão horizontal da ocupação do território, pela fraca divisão social do trabalho. Foi dominante do Brasil até a segunda metade do século XIX.
II) O “meio técnico” expressa a introdução no país das inovações produzidas pela Revolução Industrial, não só estendendo o espaço construído como o fazendo crescer verticalmente, multiplicando e adensando áreas de concentração de atividades e de população. É acompanhado por uma maior divisão funcional e social do trabalho.
III) O “meio técnico-científico-informacional” inicia-se nos anos 1970/80. Expande-se o espaço virtual, transmitindo as imagens dos eventos em tempo real para todos os lugares. A informatização introduziu novas formas de produzir e criou o suporte técnico necessário para a globalização.

Podemos aceitar como corretas as proposições:

a) I, apenas
b) I e II, apenas
c) I e III, apenas
d) II e III, apenas
e) I, II e III

21.(Uel) “Na história primitiva, havia poucas formas criadas pelo homem, sendo bastante reduzido o número daquelas estabelecidas com um sentido de permanência ou de maior impacto. O espaço assemelhar-se-ia à tela proverbial esperando pela tinta da história humana. Neste aspecto, as
alternativas eram infinitas. Entretanto, cada objeto permanece na paisagem, cada campo cultivado, cada caminho aberto, poço de mina ou represa constitui uma objetificação concreta de uma sociedade e de seus termos de existência. As gerações vindouras não podem deixar de levar em conta essas formas. As cidades e as redes de transportes dos tempos modernos testemunham tal
herança, que se interpõe no curso do futuro.”
(SANTOS, Milton. Espaço e método. São Paulo: Nobel, 1992. p. 54.)

Com base no texto, considere as afirmativas a seguir.
I. Na paisagem produzida pelas sociedades, coexistem temporalidades distintas que se manifestam na diversidade de formas e de artefatos.
II. O aumento da densidade das paisagens faz com que as sociedades humanas percam a possibilidade de legar registros concretos de seus termos de existência.
III. Formas e objetos socialmente criados e dispostos no espaço têm papel ativo, pois facilitam ou nibem transformações sociais.
IV. Para as futuras gerações, a paisagem assemelhar-se-á a uma tela em branco esperando pela tinta da história humana.

Estão corretas apenas as afirmativas:
a) I e II.
b) I e III.
c) III e IV.
d) I, II e IV.
e) II, III e IV.

22.(Pucrio) A Internet surgiu da aliança entre informática e telecomunicações. Sua expansão tem sido muito rápida: 25 milhões de internautas em 1990 e aproximadamente 500 milhões em 2002.
A Internet abre novas fronteiras devido às numerosas funções que ela exerce. Entre essas novas funções temos, EXCETO:

a) correio eletrônico;
b) banco de dados;
c) trabalho à distância;
d) tele-comércio;
e) tele-transporte.

23.(Ufpa) “Os espaços [...] requalificados atendem, sobretudo, aos interesses dos atores hegemônicos da economia, da cultura e da política e são incorporados plenamente às novas correntes mundiais. O meio técnicocientífico-informacional é a cara geográfica da globalização.”
(SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Ed. Hucitec, 1997, 2. ed., p. 191.).

Considerando o texto é correto afirmar acerca do processo de globalização:

a) Os sistemas de informação hoje existentes, apesar de avançados, ainda não possibilitam trocas de imagens, sons, dados e voz em tempo real por todo o mundo, o que promove uma relativa distância entre os espaços regionais.
b) Após a onda de inovação tecnológica que perdurou da Segunda Guerra Mundial até os anos 70, um novo caminho, a revolução tecnocientífica, baseado na emergência dos microeletrônicos e da transmissão de informações, reordena o espaço global.
c) Uma das características que marcaram desde o início a “era da informação” foi a utilização de tecnologias de mais durabilidade e de difícil substituição.
d) De acordo com a nova ordem mundial, não é mais o poderio militar que impossibilita a circulação de informação em tempo real, mas, sim, o poderio econômico e tecnológico.
e) A força cultural no mundo ocidentalizado impede que cada vez mais pessoas bebam os mesmos refrigerantes, comam nas mesmas redes de lanchonetes, ouçam os mesmos tipos de músicas,
assistam aos mesmos filmes e utilizem a mesma rede mundial de computadores para comunicação on line.

24.(Urca) Sobre Espaço Geográfico, assinale a opção verdadeira:

a) são as áreas que não sofreram intervenção humana, o que atualmente, com o nível de conhecimento do homem sobre o mundo, é inexistente;
b) é a base natural ou física sobre o qual se exerce soberania, sendo definido por suas fronteiras
administrativas;
c) é um conceito bastante controvertido, hoje em dia, mas se refere a uma relação íntima ou emocional dos habitantes com seu território;
d) somente surge após o território ser trabalhado, usado e modificado ou transformado pelas sociedades humanas, ou quando estas imprimem na paisagem as marcas de sua atuação e organização social;
e) é o termo designativo de um conjunto de pessoas que possuem língua e tradições comuns, sendo esse o caso mais específico do Nordeste do Brasil, cuja população é mais tradicionalista.

25.(Uem) Sobre as comunicações e sobre o fluxo de informações no espaço geográfico mundial, assinale
a alternativa incorreta.
a) Na atualidade, os fluxos de comunicação e de informação se dão em rede e atingem,
independentemente da infra-estrutura existente, todos os lugares do mundo.
b) Quando se assiste a um programa "via satélite", o sinal é emitido da estação geradora, por meio de
uma antena parabólica, em direção ao satélite, de onde é retransmitido de volta à Terra, sendo
recebido por outra antena.
c) Embora o lançamento de satélites artificiais utilizados nas comunicações seja uma conquista
da tecnologia moderna, as idéias básicas da física referentes a esse problema já tinham sido
analisadas por Newton (1642-1727).
d) Os satélites geoestacionários, uma das muitas tecnologias da informação, são hoje amplamente
utilizados na transmissão de sinais de TV e em telefonia a grandes distâncias.
e) As tecnologias da informação e da comunicação possibilitam a implantação de um capitalismo
global, em que é possível produzir e distribuir informações e produtos para diferentes pontos do
planeta em tempo real.

26.(Uel) “A penetração intensa da televisão no Brasil está inscrita na paisagem urbana e rural, nas páginas de revista, na profusão de aparelhos nos interiores das casas, nas mansões de alto luxo, nos barracos das favelas das cidades grandes, nas casas modestas e nas praças públicas de cidades pequenas. Os recordes nas vendas de televisores se explicam pela presença de diversos aparelhos por domicílio, cuidadosamente dispostos em vários cômodos das residências, às vezes em meio a altares domésticos. ”
(HAMBURGER, Esther. Diluindo fronteiras: a televisão e as novelas no cotidiano. In: SCHAWRCZ, Lilia Moritz (Org.) História da vida privada no Brasil: contrastes da intimidade contemporânea. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 440.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre a relação da televisão com a sociedade moderna,
considere as afirmativas a seguir.

I. A penetração intensa da televisão no Brasil rompeu as fronteiras das diferenças sociais
e gerou uma sociedade livre da exclusão social.
II. O ato alienado de assistir à televisão promove uma falsa idéia de inclusão social e de equidade entre as etnias.
III. A difusão do sistema de TV por assinatura é expressão do apartheid social, pois permite a poucos o acesso a informações sobre outras culturas.
IV. Nas sociedades capitalistas, a televisão incita ao consumismo devido a sua forma de atração e seu poder de penetração junto às diversas classes sociais.

Estão corretas apenas as afirmativas:

a) I e II.
b) I e IV.
c) II e III.
d) I, III e IV.
e) II, III e IV.

27.(Uepb)

Antes longe era distante
perto, só quando dava
quando muito, ali defronte
e o horizonte acabava [...]

De jangada leva uma eternidade
de saveiro leva uma encarnação

Pela onda luminosa
leva o tempo de um raio
tempo que levava Rosa
pra aprumar o balaio [...]

Esse tempo nunca passa [...]
Mora no som da cabeça [...]
No instante em que tange o berimbau,
Meu camará
[...] De avião (leva) o tempo de uma saudade...

O fragmento da composição Parabolicamará, de Gilberto Gil, reflete:

I. A relativização da distância/tempo a partir da emergência do meio técnico-científico-informacional, no qual apenas alguns grupos sociais estão inseridos.
II. A importância que a velocidade alcançada pelos transportes e pelas comunicações passou a ter no atual processo de globalização, bem como no mito do espaço/tempo contraídos.
III. A coexistência de técnicas e culturas diversas que se fazem presentes no espaço, diferenciando lugares e povos, apesar de todo o processo de globalização que tende à uniformização.
IV. A massificação das culturas e lugares que passaram a viver, indistintamente, o “tempo rápido” da globalização, através de um meio técnico-científico-informacional que chegou para todos.

Está(ão) correta(s) apenas a(s) proposição(ões):

a) I, III e IV
b) II, III e IV
c) I, II e III
d) I e IV
e) IV

28.(Uel) Analise a imagem a seguir.



Fonte: HARVEY, DAVID. A condição pós-moderna. São Paulo: Loyola, 1989. p. 220.

Com base na imagem e nos conhecimentos sobre o tema, é correto afirmar:

a) A intensificação da circulação de mercadorias e de pessoas está representada na progressiva
redução do planisfério na imagem.
b) Houve uma diminuição real da superfície do planeta paralelamente à conservação de sua forma.
c) A difusão do uso dos transportes modernos acarretou uma diminuição das distâncias
métricas entre os continentes.
d) Entre 1950 e 1960, ocorreu um aumento na velocidade máxima dos meios de transporte, diretamente
proporcional ao ocorrido nos períodos anteriores.
e) A diminuição do tamanho da representação do planeta entre 1850 e 1960, na imagem, resultou da
ampliação do tráfego nos grandes centros urbanos.

29.(Ufpel) Uma malha digital que cresce em velocidade vertiginosa está cobrindo nosso planeta: é a internet, a rede mundial de computadores. Considerando essa importante inovação tecnológica contemporânea, analise a informação:

A integração econômica global é facilitada pelo uso das mesmas técnicas, contudo, integrar não significa incluir a todos.

Com base nas informações e em seus conhecimentos, escolha a alternativa que melhor explica a afirmativa apresentada.
a) A era da informação e da revolução científica prioriza a qualificação da mão-de-obra e a incorporação de novas habilidades, reconhecendo a diferença existente entre ricos e pobres.
b) A velocidade da informação é o benefício apresentado pela internet para a globalização, pois reduz o espaço mundial a um espaço virtual, sem a necessidade de integrar a todos os internautas.
c) A internacionalização da rede e a incorporação de centenas de milhões de usuários por todo o planeta exclui as diferenças culturais e econômicas devido à mundialização dos padrões de consumo.
d) A internet dinamizou e tornou imediatas transações e negociações em escala mundial, evitando a exclusão digital pelas parcerias com empresas e investimentos em inovações tecnológicas.
e) Ao mesmo tempo em que a internet facilita o processo de integração econômica global, é também responsável pela chamada exclusão digital, pois acentua a distância entre os usuários e aqueles que já viviam em situação de marginalidade econômica e social.

30.(ENADE) Leia e relacione os textos a seguir.

O Governo Federal deve promover a inclusão digital, pois a falta de acesso às tecnologias digitais acaba por excluir socialmente o cidadão, em especial a juventude.
(Projeto Casa Brasil de inclusão digital começa em 2004. In: MAZZA, Mariana. JB online.)

Comparando a proposta acima com a charge, pode-se concluir que



a) o conhecimento da tecnologia digital está democratizado no Brasil.
b) a preocupação social é preparar quadros para o domínio da informática.
c) o apelo à inclusão digital atrai os jovens para o universo da computação.
d) o acesso à tecnologia digital está perdido para as comunidades carentes.
e) a dificuldade de acesso ao mundo digital torna o cidadão um excluído social.

01.E
02.C
03.A
04.C
05.D
06.RESPOSTAS
07.A
08.E
09.C
10.D
11.C
12.D
13.B
14.A
15.A
16.E
17.B
18.C
19.C
20.D
21.B
22.E
23.B
24.D
25.A
26.E
27.C
28.A
29.E
30.E

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Manifesto em defesa do MST

Contra a violência do agronegócio e a criminalização das lutas sociais

As grandes redes de televisão repetiram à exaustão, há algumas semanas, imagens da ocupação realizada por integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em terras que seriam de propriedade do Sucocítrico Cutrale, no interior de São Paulo. A mídia foi taxativa em classificar a derrubada de alguns pés de laranja como ato de vandalismo.

Uma informação essencial, no entanto, foi omitida: a de que a titularidade das terras da empresa é contestada pelo Incra e pela Justiça. Trata-se de uma grande área chamada Núcleo Monções, que possui cerca de 30 mil hectares. Desses 30 mil hectares, 10 mil são terras públicas reconhecidas oficialmente como devolutas e 15 mil são terras improdutivas. Ao mesmo tempo, não há nenhuma prova de que a suposta destruição de máquinas e equipamentos tenha sido obra dos sem-terra.

Na ótica dos setores dominantes, pés de laranja arrancados em protesto representam uma imagem mais chocante do que as famílias que vivem em acampamentos precários desejando produzir alimentos.

Bloquear a reforma agrária
Há um objetivo preciso nisso tudo: impedir a revisão dos índices de produtividade agrícola - cuja versão em vigor tem como base o censo agropecuário de 1975 - e viabilizar uma CPI sobre o MST. Com tal postura, o foco do debate agrário é deslocado dos responsáveis pela desigualdade e concentração para criminalizar os que lutam pelo direito do povo. A revisão dos índices evidenciaria que, apesar de todo o avanço técnico, boa parte das grandes propriedades não é tão produtiva quanto seus donos alegam e estaria, assim, disponível para a reforma agrária.

Para mascarar tal fato, está em curso um grande operativo político das classes dominantes objetivando golpear o principal movimento social brasileiro, o MST. Deste modo, prepara-se o terreno para mais uma ofensiva contra os direitos sociais da maioria da população brasileira.

O pesado operativo midiático-empresarial visa isolar e criminalizar o movimento social e enfraquecer suas bases de apoio. Sem resistências, as corporações agrícolas tentam bloquear, ainda mais severamente, a reforma agrária e impor um modelo agroexportador predatório em termos sociais e ambientais, como única alternativa para a agropecuária brasileira.

Concentração fundiária

A concentração fundiária no Brasil aumentou nos últimos dez anos, conforme o Censo Agrário do IBGE. A área ocupada pelos estabelecimentos rurais maiores do que mil hectares concentra mais de 43% do espaço total, enquanto as propriedades com menos de 10 hectares ocupam menos de 2,7%. As pequenas propriedades estão definhando enquanto crescem as fronteiras agrícolas do agronegócio.

Conforme a Comissão Pastoral da Terra (CPT, 2009) os conflitos agrários do primeiro semestre deste ano seguem marcando uma situação de extrema violência contra os trabalhadores rurais. Entre janeiro e julho de 2009 foram registrados 366 conflitos, que afetaram diretamente 193.174 pessoas, ocorrendo um assassinato a cada 30 conflitos no 1º semestre de 2009. Ao todo, foram 12 assassinatos, 44 tentativas de homicídio, 22 ameaças de morte e 6 pessoas torturadas no primeiro semestre deste ano.

Não violência
A estratégia de luta do MST sempre se caracterizou pela não violência, ainda que em um ambiente de extrema agressividade por parte dos agentes do Estado e das milícias e jagunços a serviço das corporações e do latifúndio. As ocupações objetivam pressionar os governos a realizar a reforma agrária.

É preciso uma agricultura socialmente justa, ecológica, capaz de assegurar a soberania alimentar e baseada na livre cooperação de pequenos agricultores. Isso só será conquistado com movimentos sociais fortes, apoiados pela maioria da população brasileira.

Contra a criminalização das lutas sociais

Convocamos todos os movimentos e setores comprometidos com as lutas a se engajarem em um amplo movimento contra a criminalização das lutas sociais, realizando atos e manifestações políticas que demarquem o repúdio à criminalização do MST e de todas as lutas no Brasil.

Assinam esse documento:

Eduardo Galeano - Uruguai
István Mészáros - Inglaterra
Ana Esther Ceceña - México
Boaventura de Souza Santos - Portugal
Daniel Bensaid - França
Isabel Monal - Cuba
Michael Lowy - França
Claudia Korol - Argentina
Carlos Juliá – Argentina
Miguel Urbano Rodrigues - Portugal
Ignacio Ramonet - Espanha
Julio Gambina - Argentina
Fernando Martinez Heredia - Cuba
Carlos Aguilar - Costa Rica
Ricardo Gimenez - Chile
Pedro Franco - República Dominicana
Arturo Bonilla Sánchez - México

do Brasil:

Antonio Candido
Ana Clara Ribeiro
Anita Leocadia Prestes
Andressa Caldas
André Vianna Dantas
André Campos Búrigo
Augusto César
Carlos Nelson Coutinho
Carlos Walter Porto-Gonçalves
Carlos Alberto Duarte
Carlos A. Barão
Cátia Guimarães
Cecília Rebouças Coimbra
Ciro Correia
Chico Alencar
Claudia Trindade
Claudia Santiago
Chico de Oliveira
Demian Bezerra de Melo
Emir Sader
Elias Santos
Eurelino Coelho
Eleuterio Prado
Fernando Vieira Velloso
Gaudêncio Frigotto
Gilberto Maringoni
Gilcilene Barão
Irene Seigle
Ivana Jinkings
Ivan Pinheiro
José Paulo Netto
Leandro Konder
Luis Fernando Veríssimo
Luiz Bassegio
Luis Acosta
Luisa Santiago
Lucia Maria Wanderley Neves
Marcelo Badaró Mattos
Marcelo Freixo
Maria Rita Kehl
Marilda Iamamoto
Mariléa Venancio Porfirio
Mauro Luis Iasi
Maurício Vieira Martins
Otília Fiori Arantes
Paulo Arantes
Paulo Nakatani
Plínio de Arruda Sampaio
Plínio de Arruda Sampaio Filho
Renake Neves
Reinaldo A. Carcanholo
Ricardo Antunes
Ricardo Gilberto Lyrio Teixeira
Roberto Leher
Roberto Schwarz
Sara Granemann
Sandra Carvalho
Sergio Romagnolo
Sheila Jacob
Virgínia Fontes
Vito Giannotti

Para subscrever esse manifesto, clique no link:

http://www.petitiononline.com/boit1995/petition.html

Drogas, armas e violência

Um helicóptero abatido desde o morro dos Macacos, como no Iraque ou nos filmes de aventura, foi a grande sensação pelo seu ineditismo entre nós. Como se os fogos cruzados não fossem fatos corriqueiros, vividos no cotidiano das favelas e nas áreas circundantes. O fato, entretanto, teve um resultado positivo. Apesar da tragédia e de mortes de profissionais em serviço, chamou a atenção do grande público para uma realidade que é crônica. Do outro lado, trouxe um elemento negativo: crer que a situação só vai piorando, o que não é bem verdade, como intentaremos dizer adiante.

Esses problemas de drogas, armas e violência não se resolvem de uma hora para outra. É preciso medidas em muitas direções e algumas, isto é importante, já estão sendo tomadas. A Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia, recentemente articulada pelo Viva Rio, as vai sinalizando. Não esperemos resultados mágicos, mas um lento e progressivo processo. Um fato importante: se estão concretizando articulações entre o nível federal, o estadual e o municipal, ainda que perdurem velhos ressaibos de dividir atribuições estanques. Frente a um fenômeno global, há que enfrentá-lo por todos os lados, na força pública, na saúde, na educação, com a juventude e os pais, com as religiões.

Em que momento iremos chegar a distinguir a diferença entre os efeitos das diversas drogas: o da maconha, apenas um pouco mais daninha que o cigarro, da cocaína e principalmente o do crack, este mais barato e com resultados devastadores? Uma pesquisa mostrou que as prisões se dão em boa parte entre usuários eventuais que utilizam pequenas doses. Não se ataca a origem. Porque não descriminalizar esses usuários e concentrar-nos nos criminosos maiores, que fazem circular as drogas? Nesse sentido, um projeto está amadurecendo, para ser encaminhado à Câmara de Deputados. Teríamos, a médio prazo, de chegar à legalização do uso da maconha, mas ao que tudo indica, não existe, no momento, clima favorável no legislativo. As religiões e os preconceitos ainda bloqueiam. E os meios de comunicação não ajudam nessa tarefa de colaborar para derrubar barreiras. Mas há que chegar lá.

Quando nos Estados Unidos se levantou a interdição do álcool, ruíram as gangues e os gangsteres que viviam da proibição e da contravenção. O próprio jogo do bicho, ainda formalmente proibido, já está em baixa e não é nele que se concentram as principais medidas. Muitos dos grandes contraventores emigraram para negócios mais rentáveis de drogas e de armas.

Há ações em curso em algumas favelas do Rio, em programas de pacificação, com a presença militar e civil de entidades das próprias comunidades e de ONGs que ali atuam. Existe também um difícil e lento processo de reciclar as polícias e de orientá-las numa direção de prevenção e não de mera repressão.

Em lugar de elencar problemas é tempo de visibilizar ações em curso. E elas estão aí. Não é verdade que a situação agora seja mais violenta do que em anos anteriores. Não nos deixemos enganar pela espetacularidade do caso do helicóptero. Aplaudamos e colaboremos para serem conhecidas ações de cidadania em Dona Marta, Cidade de Deus, Chapéu Mangueira, Manguinhos ou na Maré, com a presença da polícia, do PAC, do BNDES, da Fiocruz, da UFRJ ou de ONGs como Ibase, Viva Rio, Bento Rubião e Ceasm. É possível perceber um movimento em curso, contraditório, que convive com terríveis ações em sentido contrário, como aquela morte de um grupo de jovens que voltavam pacificamente de uma festa. Não nos enganemos, ainda haverá outras mobilizações destruidoras, O assassinato rotineiro convive com práticas em sentido criativo.

E há o grande problema das armas. Compete à polícia federal vigiar as fronteiras, mas também, os corredores internos de armamentos, que não vêm apenas do exterior, mas do próprio exército, cujos membros podem ser cúmplices por omissão, quando não diretamente envolvidos no roubo.

Bogotá conseguiu, com ações integradas, tornar-se uma cidade sem a violência de anos atrás, quando sair desacompanhado à rua era um enorme risco. Segue a insegurança e a luta fratricida em várias áreas do país. Mas uma profilaxia na capital da Colômbia está dando certo.

Nesse sentido, a preparação da copa do mundo de 2014 e as olimpíadas de 2016 podem ser uma excelente oportunidade para ações conjuntas do estado em seus vários âmbitos e da sociedade civil organizada. Despoluir a baía da Guanabara sim, como os ingleses despoluíram o Tâmisa. Mas além e mais do que isso, faz-se necessário expulsar grupos criminosos do Grande Rio, o que não se resume a ações nas favelas. No asfalto também há a necessidade de medidas fortes e eficientes. E não continuemos a ser cidades sitiadas e rodeadas de muros de proteção, num horrível apartheid social e cultural.

Estive folheando velhas crônicas de 1908 de João do Rio, que tão bem conheceu e descreveu esta cidade, “nova – a única talvez no mundo – cheia de tradições” (Cinematógrafo. Crônicas cariocas, ABL, 2009). Observava, naqueles anos, os terríveis problemas da violência: “é assombrosa a proporção de crimes nesta cidade” (p. 28). Pregava já então, certamente ingenuamente iludido: “Com uma boa polícia de costumes, a cidade dentro em pouco estará regenerada”. Mas dizia com acerto: “Não é depois do crime que se é útil. É antes. De posse desse princípio a autoridade procede como um cultivador num jardim. Firme para impedir o crime” (p. 227). E sonhava, desta vez mais lúcido: “A reforma é um resultado da evolução... Reformemos, reformemos, reformemos quanto for possível” (p. 39).

Onde descobrir o bom no meio de maldades e de destruições? Não estarão amarrados uns aos outros, difíceis de separar? Nosso cronista indicava: “A escuridão parecia aumentar, e, involuntariamente ... sentimos n’alma a emoção inenarrável que a bondade do que julgamos mau sempre nos causa” (p. 33). Isso era dito por um observador perspicaz, atento aos meio-tons e aos entreveros da realidade, onde bem e mal nem sempre ficam fáceis de distinguir. Não são, pois, problemas de hoje. Vêm, pelo menos, do começo do século passado. Mas, como João do Rio, podemos esperar e apoiar transformações.

O Rio precisa voltar a ser uma cidade acolhedora, cosmopolita e alegre. Ali conviviam a violência indicada pelo cronista, com a hospitalidade e uma certa euforia irresponsável. Os velhos sambas do morro são uma bela expressão desse último clima. E já existem, repito, medidas nessa direção.

Em lugar de análises de conjuntura paralisantes que só mostram o lado negativo, há que deixar aparecer e valorizar iniciativas que estão acontecendo em vários lugares. Alguns podem não estar de acordo com certos aspectos de políticas federais, do estado ou do município, nem simpatizar com estas ou aquelas pessoas que estão à frente das ações. Deixemos, porém, cair barreiras, preconceitos e antipatias menores. Nosso Rio de Janeiro está em processo de transformação e temos de colaborar para que isso seja cada vez mais efetivo.

Luiz Alberto Gómez de Sousa, sociólogo e ex-funcionário das Nações Unidas, é diretor do Programa de Estudos Avançados em Ciência e Religião da Universidade Cândido Mendes.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

FESTIVAL QUEBRAMAR 2009 - PROGRAMAÇÃO



Finalmente saiu a programação final do Festival QUEBRAMAR 2009 (Macapá /AP).Serão 2 dias e 19 bandas (locais e + 6 estados) mandando muito som bem ao lado da Fortaleza de São José de Macapá.O acesso é livre!Saca aí quem vai "quebrar" o palco esse ano !

DIA 06 NOV/09 (sexta)
Bandas:
LINHA DURA (MT)
MINIBOXLUNAR (AP)
Mr.JUNGLE (RR)
ULTIMATO (RO)
PROFETICA (AP)
SINCERA(PA)
SAMSARAMAYA (AP)
GODZILLA (AP)
FAX MOLDEN (AP)
DEGRAU NORTE (AP)

Dia 07 NOV/09 (Sabado)
Bandas:
RATOS DE PORAO (SP)
SPS12 (AP)
FACAS VOADORAS (MS)
DELINQUENTES (PA)
AMAUROSE (AP)
STEREOVITROLA (AP)
RONI MORAES (AP)
INTHRUDER (AP)
HELOIN (AP)

HORA:18:00H

Um século depois, Brasil repete os mesmos erros para a Amazônia

No ano de 1907, um magnata estadunidense com o nome de Percival Farquhar recebeu a concessão pública do governo brasileiro para iniciar, no coração da Amazônia brasileira, a construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, que liga Porto Velho a Guajará-Mirim, atual estado de Rondônia. Pelos registros oficiais da empresa Madeira-Mamoré Railway Company, de propriedade de Farquhar, 1552 trabalhadores morreram em sua construção por doenças ou acidentes de trabalho. Devido ao rastro de mortes, a linha de ferro ficou conhecida como a “Ferrovia do Diabo”.

A linha foi construída com o objetivo de ultrapassar o trecho de cachoeiras do rio Madeira para facilitar o escoamento da borracha boliviana e brasileira e outras mercadorias, para exportação. A partir de Porto Velho, as mercadorias seguiam por via fluvial pelo rio Amazonas até chegar ao Oceano Atlântico e de lá encontrar o mercado exterior.

No dia 1º de agosto de 1912 a ferrovia foi inaugurada com 366 km. O ano coincidiu com o declínio do preço da borracha devido à concorrência dos seringais do sudeste asiático e a invenção da borracha sintética. Depois de 54 anos de atividades, 1966, o presidente da República, Humberto de Alencar Castelo Branco, ordenou o fechamento da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré por entender que esta só dava prejuízos. No seu lugar seria construída a rodovia, BR-364, que liga Porto Velho à Guajará-Mirim, conhecida nas décadas seguintes como a “Rodovia do Ouro”.

Um século depois da inauguração da Ferrovia do Diabo, o governo brasileiro, em pareceria com empresas privadas transnacionais, anunciou, para o mesmo trecho do rio, o início das atividades do complexo de hidrelétricas do Madeira, que contará na primeira etapa do projeto com as usinas de Santo Antônio e Jirau. Juntos, os empreendimentos devem gerar 6.450 megawatts por hora (MW), o que corresponde à metade da potência da usina de Itaipu.

Para o estado de Rondônia, não há novidades no projeto do complexo de hidrelétricas do rio Madeira. Trata-se de mais uma etapa dos ciclos econômicos de exploração dos recursos humanos e naturais (como os ciclos fracassados da borracha, da ocupação fundiária e do ouro) por grandes empresas iniciadas em anos passados. Nesses períodos, dezenas de milhares de pessoas de outros estados migraram para lá em busca de trabalho e terra. Em sua história, Rondônia jamais teve à frente um administrador nascido em seus limites.

Faraônico

O projeto do complexo de hidrelétricas do rio Madeira compreende a construção de Santo Antônio, Jirau, Guajará e Cachoera Esperança (do lado da Bolívia); a construção de eclusas, hidrovias e de uma linha de transmissão de 3070 km que sairá de Porto Velho para abastecer São Paulo.

Segundo o Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB), cerca 5 mil pessoas serão expulsas de suas casas para implementação de Jirau e Santo Antônio. Para a construção das duas hidrelétricas e suas eclusas serão investidos R$ 28 bilhões. Ao todo, serão inundados mais de 500 quilômetros quadrados de terras.

Exportação energética

O sociólogo professor a Universidade Federal e Rondônia, Luis Fernando Novoa Garzon, explica que o projeto para o rio Madeira é parte da opção política do governo federal de fortalecer o modelo de aliança com grandes monopólios especializados nos recursos naturais e agrícolas. “Os países centrais carecem de energia barata e esse é o grande insumo do setor de celulose, do setor de alumínio, do setor metalúrgico. Então, a energia barata no Brasil significa a viabilização e a consolidação desse modelo depredador de recursos naturais e a Amazônia é o grande estoque desses recursos. Então, você casar uma fonte de energia em expansão com esses enclaves é tudo que os setores empresariais, especialmente internacionais que estão postados no Brasil, desejam”, afirma.

Além da energia que servirá, principalmente, para as suas indústrias de alumínio, siderurgia, celulose, papel de grandes cidades do centro-sul do país, o megaprojeto tem em curso o mesmo objetivo empreendido na “Ferrovia do Diabo”: vencer o trecho de cachoeiras do maior afluente do rio Amazonas garantindo o escoamento hidroviário dos recursos naturais da região amazônica de forma barata e rápida.

Socialização dos riscos

Os custos do empreendimento financeiros ficam em sua maior parte por parte do governo. Mas, além do risco do investimento financeiro, especialmente assumido por parte do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o banco assumiu riscos sociais e financeiros.

“O investimento público deveria ser muito mais rigoroso, criterioso, especialmente quando se trata de impactos ambientais, sociais e territoriais assume do que bancos privados. O projeto é majoritariamente privado, as concessionárias são privadas, a energia do seu ponto de vista do consumo final será utilizada esse consumo pelas grandes empresas e o banco público é que financia todo esse sistema. Então, é como se o governo estivesse dando todas as possibilidades de viabilização, que do ponto de vista de mercado, não há”, avalia o professor Novoa. (CN)

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terça-feira, 3 de novembro de 2009

O conto da ilha desconhecida

José Saramago


Um homem foi bater à porta do rei e disse-lhe, Dá-me um barco. A casa do rei tinha muitas mais portas, mas aquela era a das petições. Como o rei passava todo o tempo sentado à porta dos obséquios (entenda-se, os obséquios que lhe faziam a ele), de cada vez que ouvia alguém a chamar à porta das petições fingia-se desentendido, e só quando o ressoar contínuo da aldraba de bronze se tornava, mais do que notório, escandaloso, tirando o sossego à vizinhança (as pessoas começavam a murmurar, Que rei temos nós, que não atende), é que dava ordem ao primeiro-secretário para ir saber o que queria o impetrante, que não havia maneira de se calar. Então, o primeiro-secretário chamava o segundo-secretário, este chamava o terceiro, que mandava o primeiro-ajudante, que por sua vez mandava o segundo, e assim por aí fora até chegar à mulher da limpeza, a qual, não tendo ninguém em quem mandar, entreabria a porta das petições e perguntava pela frincha, Que é que tu queres. O suplicante dizia ao que vinha, isto é, pedia o que tinha a pedir, depois instalava-se a um canto da porta, à espera de que o requerimento fizesse, de um em um, o caminho ao contrário, até chegar ao rei. Ocupado como sempre estava com os obséquios, o rei demorava a resposta, e já não era pequeno sinal de atenção ao bem-estar e felicidade do seu povo quando resolvia pedir um parecer fundamentado por escrito ao primeiro-secretário, o qual, escusado se ria dizer, passava a encomenda ao segundo-secretário, este ao terceiro, sucessivamente, até chegar outra vez à mulher da limpeza, que despachava sim ou não conforme estivesse de maré.

Contudo, no caso do homem que queria um barco, as coisas não se passaram bem assim. Quando a mulher da limpeza lhe perguntou pela nesga da porta, Que é que tu queres, o homem, em lugar de pedir, como era o costume de todos, um título, uma condecoração, ou simplesmente dinheiro, respondeu, Quero falar ao rei, Já sabes que o rei não pode vir, está na porta dos obséquios, respondeu a mulher, Pois então vai lá dizer-lhe que não saio daqui até que ele venha, pessoalmente, saber o que quero, rematou o homem, e deitou-se ao comprido no limiar, tapando-se com a manta por causa do frio. Entrar e sair, só por cima dele. Ora, isto era um enorme problema, se tivermos em consideração que, de acordo com a pragmática das portas, ali só se podia atender um suplicante de cada vez, donde resultava que, enquanto houvesse alguém à espera de resposta, nenhuma outra pessoa se poderia aproximar a fim de expor as suas necessidades ou as suas ambições. À primeira vista, quem ficava a ganhar com este artigo do regulamento era o rei, dado que, sendo menos numerosa a gente que o vinha incomodar com lamúrias, mais tempo ele passava a ter, e mais descanso, para receber, contemplar e guardar os obséquios. À segunda vista, porém, o rei perdia, e muito, porque os protestos públicos, ao notar-se que a resposta estava a tardar mais do que o justo, faziam aumentar gravemente o descontentamento social, o que, por seu turno, ia ter imediatas e negativas consequências no afluxo de obséquios. No caso que estamos narrando, o resultado da ponderação entre os benefícios e os prejuízos foi ter ido o rei, ao cabo de três dias, e em real pessoa, à porta das petições, para saber o que queria o intrometido que se havia negado a encaminhar o requerimento pelas competentes vias burocráticas. Abre a porta, disse o rei à mulher da limpeza, e ela perguntou, Toda, ou só um bocadinho. O rei duvidou por um instante, na verdade não gostava muito de se expor aos ares da rua, mas depois reflexionou que pareceria mal, além de ser indigno da sua majestade, falar com um súdito através de uma nesga, como se tivesse medo dele, mormente estando a assistir ao colóquio a mulher da limpeza, que logo iria dizer por aí sabe Deus o quê, De par em par, ordenou. O homem que queria um barco levantou-se do degrau da porta quando começou a ouvir correr os ferrolhos, enrolou a manta e pôs-se à espera. Estes sinais de que finalmente alguém vinha atender, e que portanto a praça não tardaria a ficar desocupada, fizeram aproximar-se da porta uns quantos aspirantes à liberalidade do trono que por ali andavam, prontos a assaltar o lugar mal ele vagasse. O inopinado aparecimento do rei (nunca uma tal coisa havia sucedido desde que ele andava de coroa na cabeça) causou uma surpresa desmedida, não só aos ditos candidatos mas também à vizinhança que, atraída pelo repentino alvoroço, assomara às janelas das casas, no outro lado da rua. A única pessoa que não se surpreendeu por aí além foi o homem que tinha vindo pedir um barco. Calculara ele, e acertara na previsão, que o rei, mesmo que demorasse três dias, haveria de sentir-se curioso de ver a cara de quem, sem mais nem menos, com notável atrevimento, o mandara chamar. Repartido pois entre a curiosidade que não pudera reprimir e o desagrado de ver tanta gente junta, o rei, com o pior dos modos, perguntou três perguntas seguidas, Que é que queres, Por que foi que não disseste logo o que querias, Pensarás tu que eu não tenho mais nada que fazer, mas o homem só respondeu à primeira pergunta, Dá-me um barco, disse. O assombro deixou o rei a tal ponto desconcertado, que a mulher da limpeza se apressou a chegar-lhe uma cadeira de palhinha, a mesma em que ela própria se sentava quando precisava de trabalhar de linha e agulha, pois, além da limpeza, tinha também à sua responsabilidade alguns, trabalhos menores de costura no palácio como passajar as peúgas dos pajens. Mal sentado, porque a cadeira de palhinha era muito mais baixa que o trono, o rei estava a procurar a melhor maneira de acomodar as pernas, ora encolhendo-as ora estendendo-as para os lados, enquanto o homem que queria um barco esperava com paciência a pergunta que se seguiria, E tu para que queres um barco, pode-se saber, foi o que o rei de facto perguntou quando finalmente se deu por instalado, com sofrível comodidade, na cadeira da mulher da limpeza, Para ir à procura da ilha desconhecida, respondeu o homem, Que ilha desconhecida, perguntou o rei disfarçando o riso, como se tivesse na sua frente um louco varrido, dos que têm a mania das navegações, a quem não seria bom contrariar logo de entrada, A ilha desconhecida, repetiu o homem, Disparate, já não há ilhas desconhecidas, Quem foi que te disse, rei, que já não há ilhas desconhecidas, Estão todas nos mapas, Nos mapas só estão as ilhas conhecidas, E que ilha desconhecida é essa de que queres ir à procura, Se eu to pudesse dizer, então não seria desconhecida, A quem ouviste tu falar dela, perguntou o rei, agora mais sério, A ninguém, Nesse caso, por que teimas em dizer que ela existe, Simplesmente porque é impossível que não exista uma ilha desconhecida, E vieste aqui para me pedires um barco, Sim, vim aqui para pedir-te um barco, E tu quem és, para que eu to dê, E tu quem és, para que não mo dês, Sou o rei deste reino, e os barcos do reino pertencem-me todos, Mais lhes pertencerás tu a eles do que eles a ti, Que queres dizer, perguntou o rei, inquieto, Que tu, sem eles, és nada, e que eles, sem ti, poderão sempre navegar, Às minhas ordens, com os meus pilotos e os meus marinheiros, Não te peço marinheiros nem piloto, só te peço um barco, E essa ilha desconhecida, se a encontrares, será para mim, A ti, rei, só te interessam as ilhas conhecidas, Também me interessam as desconhecidas quando deixam de o ser, Talvez esta não se deixe conhecer, Então não te dou o barco, Darás. Ao ouvirem esta palavra, pronunciada com tranquila firmeza, os aspirantes à porta das petições, em quem, minuto após minuto, desde o princípio da conversa, a impaciência vinha crescendo, e mais para se verem livres dele do que por simpatia solidária, resolveram intervir a favor do homem que queria o barco, começando a gritar, Dá-lhe o barco, dá-lhe o barco. O rei abriu a boca para dizer à mulher da limpeza que chamasse a guarda do palácio a vir restabelecer imediatamente a ordem pública e impor a disciplina, mas, nesse momento, as vizinhas que assistiam das janelas juntaram-se ao coro com entusiasmo, gritando como os outros, Dá-lhe o barco, dá-lhe o barco. Perante uma tão iniludível manifestação da vontade popular e preocupado com o que, neste meio tempo, já haveria perdido na porta dos obséquios, o rei levantou a mão direita a impor silêncio e disse, Vou dar-te um barco, mas a tripulação terás de arranjá-la tu, os meus marinheiros são-me precisos para as ilhas conhecidas. Os gritos de aplauso do público não deixaram que se percebesse o agradecimento do homem que viera pedir um barco, aliás o movimento dos lábios tanto teria podido ser Obrigado, meu senhor, como Eu cá me arranjarei, mas o que distintamente se ouviu foi o dito seguinte do rei, Vais à doca, perguntas lá pelo capitão do porto, dizes-lhe que te mandei eu, e ele que te dê o barco, levas o meu cartão. O homem que ia receber um barco leu o cartão de visita, onde dizia Rei por baixo do nome do rei, e eram estas as palavras que ele havia escrito sobre o ombro da mulher da limpeza, Entrega ao portador um barco, não precisa ser grande, mas que navegue bem e seja seguro, não quero ter remorsos na consciência se as coisas lhe correrem mal. Quando o homem levantou a cabeça, supõe-se que desta vez é que iria agradecer a dádiva, já o rei se tinha retirado, só estava a mulher da limpeza a olhar para ele com cara de caso. O homem desceu do degrau da porta, sinal de que os outros candidatos podiam enfim avançar, nem valeria a pena explicar que a confusão foi indescritível, todos a quererem chegar ao sítio em primeiro lugar, mas com tão má sorte que a porta já estava fechada outra vez. A aldraba de bronze tornou a chamar a mulher da limpeza, mas a mulher da limpeza não está, deu a volta e saiu com o balde e a vassoura por outra porta, a das decisões, que é raro ser usada, mas quando o é, é. Agora sim, agora pode-se compreender o porquê da cara de caso com que a mulher da limpeza havia estado a olhar, foi esse o preciso momento em que ela resolveu ir atrás do homem quando ele se dirigisse ao porto a tomar conta do barco. Pensou ela que já bastava de uma vida a limpar e a lavar palácios, que tinha chegado a hora de mudar de ofício, que lavar e limpar barcos é que era a sua vocação verdadeira, no mar, ao menos, a água nunca lhe faltaria. O homem nem sonha que, não tendo ainda sequer começado a recrutar os tripulantes, já leva atrás de si a futura encarregada das baldeações e outros asseios, também é deste modo que o destino costuma comportar-se connosco, já está mesmo atrás de nós, já estendeu a mão para tocar-nos o ombro, e nós ainda vamos a murmurar, Acabou-se, não há mais que ver, é tudo igual.

Andando, andando, o homem chegou ao porto, foi à doca, perguntou pelo capitão, e enquanto ele não chegava deitou-se a adivinhar qual seria, de quantos barcos ali estavam, o que iria ser o seu, grande já se sabia que não, o cartão de visita do rei era muito claro neste ponto, por conseguinte ficavam de fora os paquetes, os cargueiros e os navios de guerra, tão-pouco poderia ser ele tão pequeno que resistisse mal às forças do vento e aos rigores do mar, o rei também havia sido categórico neste ponto, Que navegue bem e seja seguro, foram estas as suas formais palavras, assim implicitamente excluindo os botes, as faluas e os escaleres, os quais, sendo bons navegantes, e seguros, conforme a condição de cada qual, não tinham nascido para sulcar os oceanos, que é onde se encontram as ilhas desconhecidas. Um pouco afastada dali, escondida por trás de uns bidões, a mulher da limpeza correu os olhos pelos barcos atracados, Para o meu gosto, aquele, pensou, porém a sua opinião não contava, nem sequer havia sido ainda contratada, vamos ouvir antes o que dirá o capitão do porto. O capitão veio, leu o cartão, mirou o homem de alto a baixo, e fez a pergunta que o rei se tinha esquecido de fazer, Sabes navegar, tens carta de navegação, ao que o homem respondeu, Aprenderei no mar. O capitão disse, Não to aconselharia, capitão sou eu, e não me atrevo com qualquer barco, Dá-me então um com que possa atrever-me eu, não, um desses não, dá-me antes um barco que eu respeite e que possa respeitar-me a mim, Essa linguagem é de marinheiro, mas tu não és marinheiro, Se tenho a linguagem, é como se o fosse. O capitão tornou a ler o cartão do rei, depois perguntou, Poderás dizer-me para que queres o barco, Para ir à procura da ilha desconhecida, Já não há ilhas desconhecidas, O mesmo me disse o rei, O que ele sabe de ilhas, aprendeu-o comigo, É estranho que tu, sendo homem do mar, me digas isso, que já não há ilhas desconhecidas, homem da terra sou eu, e não ignoro que todas as ilhas, mesmo as conhecidas, são desconhecidas enquanto não desembarcarmos nelas, Mas tu, se bem entendi, vais à procura de uma onde nunca ninguém tenha desembarcado, Sabê-lo-ei quando lá chegar, Se chegares, Sim, às vezes naufraga-se pelo caminho, mas, se tal me viesse a acontecer, deverias escrever nos anais do porto que o ponto a que cheguei foi esse, Queres dizer que chegar, sempre se chega, Não serias quem és se não o soubesses já. O capitão do porto disse, Vou dar-te a embarcação que te convém, Qual é ela, É um barco com muita experiência, ainda do tempo em que toda a gente andava à procura de ilhas desconhecidas, Qual é ele, Julgo até que encontrou algumas, Qual, Aquele. Assim que a mulher da limpeza percebeu para onde o capitão apontava, saiu a correr de detrás dos bidões e gritou, É o meu barco, é o meu barco, há que perdoar-lhe a insólita reivindicação de propriedade, a todos os títulos abusiva, o barco era aquele de que ela tinha gostado, simplesmente. Parece uma caravela, disse o homem, Mais ou menos, concordou o capitão, no princípio era uma caravela, depois passou por arranjos e adaptações que a modificaram um bocado, Mas continua a ser uma caravela, Sim, no conjunto conserva o antigo ar, E tem mastros e velas, Quando se vai procurar ilhas desconhecidas, é o mais recomendável. A mulher da limpeza não se conteve, Para mim não quero outro, Quem és tu, perguntou o homem, Não te lembras de mim, Não tenho idéia, Sou a mulher da limpeza, Qual limpeza, A do palácio do rei, A que abria a porta das petições, Não havia outra, E por que não estás tu no palácio do rei a limpar e a abrir portas, Porque as portas que eu realmente queria já foram abertas e porque de hoje em diante só limparei barcos, Então estás decidida a ir comigo procurar a ilha desconhecida, Saí do palácio pela porta das decisões, Sendo assim, vai para a caravela, vê como está aquilo, depois do tempo que passou deve precisar de uma boa lavagem, e tem cuidado com as gaivotas, que não são de fiar, Não queres vir comigo conhecer o teu barco por dentro, Tu disseste que era teu, Desculpa, foi só porque gostei dele, Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar. O capitão do porto interrompeu a conversa, Tenho de entregar as chaves ao dono do barco, a um ou a outro, resolvam-se, a mim tanto se me dá, Os barcos têm chave, perguntou o homem, Para entrar, não, mas lá estão as arrecadações e os paióis, e a escrivaninha do comandante com o diário de bordo, Ela que se encarregue de tudo, eu vou recrutar a tripulação, disse o homem, e afastou-se.

A mulher da limpeza foi ao escritório do capitão para recolher as chaves, depois entrou no barco, duas coisas lhe valeram aí, a vassoura do palácio e a prevenção contra as gaivotas, ainda não tinha acabado de atravessar a prancha que ligava a amurada ao cais e já as malvadas estavam a precipitar-se sobre ela aos guinchos, furiosas, de goela aberta, como se ali mesmo a quisessem devorar. Não sabiam com quem se metiam. A mulher da limpeza pousou o balde, meteu as chaves no seio, firmou bem os pés na prancha, e, redemoinhando a vassoura como se fosse um espadão dos tempos antigos, fez debandar o bando assassino. Foi só quando entrou no barco que compreendeu a ira das gaivotas, havia ninhos por toda a parte, muitos deles abandonados, outros ainda com ovos, e uns poucos com gaivotinhos de bico aberto, à espera da comida, Pois sim, mas o melhor é mudarem-se daqui, um barco que vai procurar a ilha desconhecida não pode ter este aspecto, como se fosse um galinheiro, disse. Atirou para a água os ninhos vazios, quanto aos outros deixou-os ficar, até ver. Depois arregaçou as mangas e pôs-se a lavar a coberta. Quando acabou a dura tarefa, foi abrir o paiol das velas e procedeu a um exame minucioso do estado das costuras, depois de tanto tempo sem irem ao mar e sem terem de suportar os esticões saudáveis do vento. As velas são os músculos do barco, basta ver como incham quando se esforçam, mas, e isso mesmo sucede aos músculos, se não se lhes dá uso regularmente, abrandam, amolecem, perdem nervo, E as costuras são como os nervos das velas, pensou a mulher da limpeza, contente por estar a aprender tão depressa a arte de marinharia. Achou esgarçadas algumas bainhas, mas contentou-se com assinalá-las, uma vez que para este trabalho não podiam servir a linha e a agulha com que passajava as peúgas dos pajens antigamente, quer dizer, ainda ontem. Quanto aos outros paióis, viu logo que estavam vazios. Que o da pólvora estivesse desmunido, salvo uns pozinhos negros no fundo, que primeiro mais lhe pareceram caganitas de rato, não lhe importou nada, de facto não está escrito em nenhuma lei, pelo menos até onde a sabedoria duma mulher da limpeza é capaz de alcançar, que ir em busca duma ilha desconhecida tenha de ser forçosamente uma empresa de guerra. Já a ralou, e muito, a falta absoluta de munições de boca no paiol respectivo, não por si própria, que estava mais do que acostumada ao mau passadio do palácio, mas por causa do homem a quem deram este barco, não tarda que o sol se ponha, e ele a aparecer-me aí a clamar que tem fome, que é o dito de todos os homens mal entram em casa, como se só eles é que tivessem estômago e sofressem da necessidade de o encher, E se já traz marinheiros para a tripulação, que são uns ogres a comer, então é que não sei como nos iremos governar, disse a mulher da limpeza.

Não valia a pena ter-se preocupado tanto. O sol havia acabado de sumir-se no oceano quando o homem que tinha um barco surgiu no extremo do cais. Trazia um embrulho na mão, porém vinha sozinho e cabisbaixo. A mulher da limpeza foi esperá-lo à prancha, mas antes que ela abrisse a boca para se inteirar de como lhe tinha corrido o resto do dia, ele disse, Está descansada, trago aqui comida para os dois, E os marinheiros, perguntou ela, Não veio nenhum, como podes ver, Mas deixaste-os apalavrados, ao menos, tornou ela a perguntar, Disseram-me que já não há ilhas desconhecidas, e que, mesmo que as houvesse, não iriam eles tirar-se do sossego dos seus lares e da boa vida dos barcos de carreira para se meterem em aventuras oceânicas, à procura de um impossível, como se ainda estivéssemos no tempo do mar tenebroso, E tu, que lhes respondeste, Que o mar é sempre tenebroso, E não lhes falaste da ilha desconhecida, Como poderia falar-lhes eu duma ilha desconhecida, se não a conheço, Mas tens a certeza de que ela existe, Tanta como a de ser tenebroso o mar, Neste momento, visto daqui, com aquela água cor de jade e o céu como um incêndio, de tenebroso não lhe encontro nada, É uma ilusão tua, também as ilhas às vezes parece que flutuam sobre as águas, e não é verdade, Que pensas fazer, se te falta a tripulação, Ainda não sei, Podíamos ficar a viver aqui, eu oferecia-me para lavar os barcos que vêm à doca, e tu, E eu, Tens com certeza um mester, um ofício, uma profissão, como agora se diz, Tenho, tive, terei se for preciso, mas quero encontrar a ilha desconhecida, quero saber quem sou eu quando nela estiver, Não o sabes, Se não sais de ti, não chegas a saber quem és, O filósofo do rei, quando não tinha que fazer, ia sentar-se ao pé de mim, a ver-me passajar as peúgas dos pajens, e às vezes dava-lhe para filosofar, dizia que todo o homem é uma ilha, eu, como aquilo não era comigo, visto que sou mulher, não lhe dava importância, tu que achas, Que é necessário sair da ilha para ver a ilha, que não nos vemos se não nos saímos de nós, Se não saímos de nós próprios, queres tu dizer, Não é a mesma coisa. O incêndio do céu ia esmorecendo, a água arroxeou-se de repente, agora nem a mulher da limpeza duvidaria de que o mar é mesmo tenebroso, pelo menos a certas horas. Disse o homem, Deixemos as filosofias para o filósofo do rei, que para isso é que lhe pagam, agora vamos nós comer, mas a mulher não esteve de acordo, Primeiro, tens de ver o teu barco, só o conheces por fora, Que tal o encontraste, Há algumas bainhas das velas que estão a precisar de reforço, Desceste ao porão, encontraste água aberta, No fundo vê-se alguma, de mistura com o lastro, mas isso parece que é próprio, faz bem ao barco, Como foi que aprendeste essas coisas, Assim, Assim como, Como tu, quando disseste ao capitão do porto que aprenderias a navegar no mar, Ainda não estamos no mar, Mas já estamos na água, Sempre tive a idéia de que para a navegação só há dois mestres verdadeiros, um que é o mar, o outro que é o barco, E o céu, estás a esquecer-te do céu, Sim, claro, o céu, Os ventos, As nuvens, O céu, Sim, o céu.

Em menos de um quarto de hora tinham acabado a volta pelo barco, uma caravela, mesmo transformada, não dá para grandes passeios. É bonita, disse o homem, mas se eu não conseguir arranjar tripulantes suficientes para a manobra, terei de ir dizer ao rei que já não a quero, Perdes o ânimo logo à primeira contrariedade, A primeira contrariedade foi estar à espera do rei três dias, e não desisti, Se não encontrares marinheiros que queiram vir, cá nos arranjaremos os dois, Estás doida, duas pessoas sozinhas não seriam capazes de governar um barco destes, eu teria de estar sempre ao leme, e tu, nem vale a pena estar a explicar-te, é uma loucura, Depois veremos, agora vamos mas é comer. Subiram para o castelo de popa, o homem ainda a protestar contra o que chamara loucura, e, ali, a mulher da limpeza abriu o farnel que ele tinha trazido, um pão, queijo duro, de cabra, azeitonas, uma garrafa de vinho. A lua já estava meio palmo sobre o mar, as sombras da verga e do mastro grande vieram deitar-se-lhes aos pés. É realmente bonita a nossa caravela, disse a mulher, e emendou logo, A tua, a tua caravela, Desconfio que não o será por muito tempo, Navegues ou não navegues com ela, é tua, deu-ta o rei, Pedi-lha para ir procurar uma ilha desconhecida, Mas estas coisas não se fazem do pé para a mão, levam o seu tempo, já o meu avô dizia que quem vai ao mar avia-se em terra, e mais não era ele marinheiro, Sem tripulantes não poderemos navegar, Já o tinhas dito, E há que abastecer o barco das mil coisas necessárias a uma viagem como esta, que não se sabe aonde nos levará, Evidentemente, e depois teremos de esperar que seja a boa estação, e sair com a boa maré, e vir gente ao cais a desejar-nos boa viagem, Estás a rir-te de mim, Nunca me riria de quem me fez sair pela porta das decisões, Desculpa-me, E não tornarei a passar por ela, suceda o que suceder. O luar iluminava em cheio a cara da mulher da limpeza, É bonita, realmente é bonita, pensou o homem, que desta vez não estava a referir-se à caravela. A mulher, essa, não pensou nada, devia ter pensado tudo durante aqueles três dias, quando entreabria de vez em quando a porta para ver se aquele ainda continuava lá fora, à espera. Não sobrou migalha de pão ou de queijo, nem gota de vinho, os caroços das azeitonas foram atirados para a água, o chão está tão limpo como ficara quando a mulher da limpeza lhe passou por cima o último esfregão. A sereia de um paquete que saía para o mar soltou um ronco potente, como deviam ter sido os do leviatã, e a mulher disse, Quando for a nossa vez faremos menos barulho. Apesar de estarem no interior da doca, a água ondulou um pouco à passagem do paquete, e o homem disse, Mas baloiçaremos muito mais. Riram os dois, depois ficaram calados, passado um bocado um deles opinou que o melhor seria irem dormir, Não é que eu tenha muito sono, e o outro concordou, Nem eu, depois calaram-se outra vez, a lua subiu e continuou a subir, em certa altura a mulher disse, Há beliches lá em baixo, o homem disse, Sim, e foi então que se levantaram, que desceram à coberta, aí a mulher disse, Até amanhã, eu vou para este lado, e o homem respondeu, E eu vou para este, até amanhã, não disseram bombordo nem estibordo, decerto por estarem ainda a praticar na arte. A mulher voltou atrás, Tinha-me esquecido, tirou do bolso do avental dois cotos de vela, Encontrei-os quando andava a limpar, o que não tenho é fósforos, Eu tenho, disse o homem. Ela segurou as velas, uma em cada mão, ele acendeu um fósforo, depois, abrigando a chama sob a cúpula dos dedos curvados, levou-a com todo o cuidado aos velhos pavios, a luz pegou, cresceu lentamente como faz o luar, banhou a cara da mulher da limpeza, nem seria preciso dizer o que ele pensou, É bonita, mas o que ela pensou, sim, Vê-se bem que só tem olhos para a ilha desconhecida, aqui está como as pessoas se enganam nos sentidos do olhar, sobretudo ao princípio. Ela entregou-lhe uma vela, disse, Até amanhã, dorme bem, ele quis dizer o mesmo doutra maneira, Que tenhas sonhos felizes, foi a frase que lhe saiu, daqui a pouco, quando lá estiver em baixo, deitado no seu beliche, vir-lhe-ão à ideia outras frases, mais espirituosas, sobretudo mais insinuantes, como se espera que sejam as de um homem quando está a sós com uma mulher. Perguntava-se se já dormiria, se teria tardado a entrar no sono, depois imaginou que andava à procura dela e não a encontrava em nenhum sítio, que estavam perdidos os dois num barco enorme, o sonho é um prestidigitador hábil, muda as proporções das coisas e as suas distâncias, separa ás pessoas, e elas estão juntas, reúne-as, e quase não se vêem uma à outra, a mulher dorme a poucos metros e ele não soube como alcançá-la, quando é tão fácil ir de bombordo a estibordo.

Tinha-lhe desejado felizes sonhos, mas foi ele quem levou toda a noite a sonhar. Sonhou que a sua caravela ia no mar alto, com as três velas triangulares gloriosamente enfunadas, abrindo caminho sobre as ondas, enquanto ele manejava a roda do leme e a tripulação descansava à sombra. Não percebia como podiam ali estar os marinheiros que no porto e na cidade se tinham recusado a embarcar com ele para ir à procura da ilha desconhecida, provavelmente arrependeram-se da grosseira ironia com que o haviam tratado. Via animais espalhados pela coberta, patos, coelhos, galinhas, o habitual da criação doméstica, debicando os grãos de milho ou roendo as folhas de couve que um marinheiro lhes atirava, não se lembrava de quando os tinha trazido para o barco, fosse como fosse era natural que ali estivessem, imaginemos que a ilha desconhecida é, como tantas vezes o foi no passado, uma ilha deserta, o melhor será jogar pelo seguro, todos sabemos que abrir a porta da coelheira e agarrar um coelho pelas orelhas sempre foi mais fácil do que persegui-lo por montes e vales. Do fundo do porão veio agora um coro de relinchos de cavalos, de mugidos de bois, de zurros de asnos, as vozes dos nobres animais necessários para o trabalho pesado, e como foi que vieram eles, como podem estar numa caravela onde a tripulação humana mal cabe, de súbito o vento deu uma guinada, a vela maior bateu e ondulou, por trás dela estava o que antes não se vira, um grupo de mulheres que mesmo sem as contar se adivinha serem tantas quantos os marinheiros, ocupam-se nas suas coisas de mulheres, ainda não chegou o tempo de se ocuparem doutras, está claro que isto só pode ser um sonho, na vida real nunca se viajou assim. O homem do leme buscou com os olhos a mulher da limpeza e não a viu, Talvez esteja no beliche de estibordo, a descansar da lavagem da coberta, pensou, mas foi um pensar fingido, porque ele bem sabe, embora também não saiba como o sabe, que ela à última hora não quis vir, que saltou para o cais, dizendo de lá, Adeus, adeus, já que só tens olhos para a ilha desconhecida, vou-me embora, e não era verdade, agora mesmo andam os olhos dele a procurá-la e não a encontram. Neste momento o céu cobriu-se e começou a chover, e, tendo chovido, principiaram a brotar inúmeras plantas das fileiras de sacos de terra alinhadas ao longo da amurada, não estão ali porque se suspeite que não haja terra bastante na ilha desconhecida, mas porque assim se ganhará tempo, no dia em que lá chegarmos só teremos que transplantar as árvores de fruto, semear os grãos das pequenas searas que vão amadurecer aqui, enfeitar os canteiros com as flores que desabrocharão destes botões. O homem do leme pergunta aos marinheiros que descansam na coberta se avistam alguma ilha desabitada, e eles respondem que não vêem nem de umas nem das outras, mas que estão a pensar em desembarcar na primeira terra povoada que lhes apareça, desde que haja lá um porto onde fundear, uma taberna onde beber e uma cama onde folgar, que aqui não se pode, com toda esta gente junta. E a ilha desconhecida, perguntou o homem do leme, A ilha desconhecida é coisa que não existe, não passa duma ideia da tua cabeça, os geógrafos do rei foram ver nos mapas e declararam que ilhas por conhecer é coisa que se acabou desde há muito tempo, Devíeis ter ficado na cidade, em lugar de vir atrapalhar-me a navegação, Andávamos à procura de um sítio melhor para viver e resolvemos aproveitar a tua viagem, Não sois marinheiros, Nunca o fomos, Sozinho, não serei capaz de governar o barco, Pensasses nisso antes de ir pedi-lo ao rei, o mar não ensina a navegar. Então o homem do leme viu uma terra ao longe e quis passar adiante, fazer de conta que ela era a miragem de uma outra terra, uma imagem que tivesse vindo do outro lado do mundo pelo espaço, mas os homens que nunca haviam sido marinheiros protestaram, disseram que ali mesmo é que queriam desembarcar, Esta é uma ilha do mapa, gritaram, matar-te-emos se não nos levares lá. Então, por si mesma, a caravela virou a proa em direcção à terra, entrou no porto e foi encostar à muralha da doca, Podeis ir-vos, disse o homem do leme, acto contínuo saíram em correnteza, primeiro as mulheres, depois os homens, mas não foram sozinhos, levaram com eles os patos, os coelhos e as galinhas, levaram os bois, os burros e os cavalos, e até as gaivotas, uma após outra, levantaram voo e se foram do barco transportando no bico os seus gaivotinhos, proeza que não tinha sido cometida antes, mas há sempre uma vez. O homem do leme assistiu à debandada em silêncio, não fez nada para reter os que o abandonavam, ao menos tinham-no deixado com as árvores, os trigos e as flores, com as trepadeiras que se enrolavam nos mastros e pendiam da amurada como festões. Por causa do atropelo da saída haviam-se rompido e derramado os sacos de terra, de modo que a coberta era toda ela como um campo lavrado e semeado, só falta que venha um pouco mais de chuva para que seja um bom ano agrícola. Desde que a viagem à ilha desconhecida começou que não se vê o homem do leme comer, deve ser porque está a sonhar, apenas a sonhar, e se no sonho lhe apetecesse um pedaço de pão ou uma maçã, seria um puro invento, nada mais. As raízes das árvores já estão penetrando no cavername, não tarda que estas velas içadas deixem de ser precisas, bastará que o vento sopre nas copas e vá encaminhando a caravela ao seu destino. É uma floresta que navega e se balanceia sobre as ondas, uma floresta onde, sem saber-se como, começaram a cantar pássaros, deviam estar escondidos por aí e de repente decidiram sair à luz, talvez porque a seara já esteja madura e é preciso ceifá-la. Então o homem trancou a roda do leme e desceu ao campo com a foice na mão, e foi quando tinha cortado as primeiras espigas que viu uma sombra ao lado da sua sombra. Acordou abraçado à mulher da limpeza, e ela a ele, confundidos os corpos, confundidos os beliches, que não se sabe se este é o de bombordo ou o de estibordo. Depois, mal o sol acabou de nascer, o homem e a mulher foram pintar na proa do barco, de um lado e do outro, em letras brancas, o nome que ainda faltava dar à caravela. Pela hora do meio-dia, com a maré, A Ilha Desconhecida fez-se enfim ao mar, à procura de si mesma.