segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Exército italiano vai plantar maconha para fins terapêuticos

Uma unidade do Exército italiano cultivará plantas de maconha a serem usadas para fins medicinais no país.
Os ministérios italianos da Defesa e da Saúde assinaram nesta semana um protocolo de cooperação nesse sentido.
O documento prevê o cultivo de cannabis pelo instituto farmacêutico militar na cidade de Florença.
Esse instituto normalmente produz medicamentos para uso exclusivo dos militares.
A produção de maconha ali será voltada exclusivamente para fins terapêuticos.
A maconha cultivada deverá substituir o produto importado, que é mais caro.
"Até agora, importamos cannabis para uso medicinal a 15 euros por grama. Agora o custo deverá cair pela metade", disse a ministra da saúde, Beatrice Lorenzin.


Sob controle

O instituto de Florença foi escolhido por ter a capacidade de produzir e manipular a planta.
Mas o plantio sob o controle dos militares visa também acalmar os ânimos dos críticos da medida, já que a segurança será total.
A maconha deverá ser usada para aliviar a dor de pacientes que fazem quimioterapia ou no tratamento paliativo dos sintomas de males como a esclerose múltipla.
Medicamentos à base de cannabis já são fornecidos gratuitamente em 11 das 20 regiões administrativas italianas.
Seu uso é monitorado. Só pacientes registrados recebem os remédios. Estima-se que cerca de 600 mil italianos participem deste programa.
A medida não tem nada a ver com uma liberalização da maconha no país, segundo destacou Lorenzin, que é contra o uso indiscriminado da droga.
Em fevereiro deste ano, o Tribunal Constitucional da Itália anulou uma lei de 2006 que impunha duras penas à posse, venda e cultivo de maconha, equiparando-as às de drogas mais pesadas.
Os primeiros remédios feitos com base na maconha italiana deverão chegar às farmácias do país em meados do ano que vem.
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/09/140919_exercito_italiano_planta_maconha_rb.shtml

Mudança climática ajuda a restaurar camada de ozônio


22/09/14 - O aquecimento global poderá trazer de chuvas e secas extremas à subida do nível do mar, mas ao menos uma coisa positiva ele já produziu: graças à mudança climática, a camada de ozônio (O3) que nos protege dos raios ultravioleta vem se restaurando mais rapidamente.

A OMM (Organização Meteorológica Mundial) publicou neste mês seu sétimo grande relatório científico sobre o problema. O documento aponta que, após ficar em níveis estagnados desde 2000, o ozônio estratosférico (que sofrera uma queda acentuada nos anos 1980 e 1990) está finalmente começando a se recuperar.
Os dados ainda não são conclusivos para toda a camada de ozônio estratosférica mas, em altitudes maiores, acima de 40 km, a recuperação já é fato. Ali, o ozônio se recuperou cerca de 3% na última década.


Metade dessa boa notícia, afirmam cientistas que trabalharam no documento, se deve à assinatura do Protocolo de Montreal, em 1987, o tratado internacional que obrigou a indústria a reduzir emissões de substâncias destruidoras de ozônio, como os CFCs (clorofluorcarbonetos).

A outra metade, no entanto, pode ser atribuída ao CO2 (gás carbônico), o principal causador do aquecimento global. Ao reter calor na troposfera (a camada inferior da atmosfera), a estratosfera, camada superior, se resfria. E, no frio, as reações químicas que quebram a molécula de ozônio ocorrem a uma taxa mais lenta.

Apesar de parte da melhora na camada de ozônio ser atribuída a um fenômeno que, por outras razões, é indesejado, o relatório da OMM tem um tom animador.

"Eu diria que é uma boa notícia, sim, mas num contexto com certa complexidade", disse à Folha Paul Newman, geocientista da Nasa e um dos autores principais do documento. Só o fato de a produção de CFCs ter sido reduzida, não ampliada, já se traduz em números de vidas salvas --2 milhões de pessoas deixaram de desenvolver câncer de pele, afirma a OMM.

A complexidade em avaliar a recuperação da camada de ozônio se deve ao fato de que sua oscilação natural é muito grande, o que torna a margem de erro das projeções muito alta. Além disso, a interação do problema do ozônio com o aquecimento global não se dá somente pelo resfriamento da estratosfera.

"Os CFCs não apenas danificam a camada de ozônio, mas também são gases de efeito estufa poderosos", explica Newman. "Ao regulamentar os CFCs, então, estávamos fazendo duas coisas: resolvendo o problema do ozônio e desacelerando o aquecimento global."


Uma estimativa do climatologista britânico Myles Allen publicada no ano passado aponta que a temperatura na superfície do planeta estaria 0,1°C mais quente hoje, em média, sem o Protocolo de Montreal.

O novo relatório da OMM, porém, alerta que esse benefício pode não durar muito. Os HFCs (hidrofluorcarnonetos), os compostos que a indústria começou a usar mais recentemente para substituir os CFCs, também são potentes gases-estufa, apesar de não destruírem ozônio.

"A camada de ozônio e a mudança climática estão intricadamente conectadas, e o aquecimento global ficará cada vez mais importante para o futuro da camada de ozônio", afirma o relatório.

http://www.udop.com.br/index.php?item=noticias&cod=1117776#nc

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Escócia pode deixar Reino Unido, mas não a Grã-Bretanha; veja diferença

Escócia vota se vai deixar de fazer parte do Reino Unido nesta quinta (18). 
País também faz parte da Commonwealth, a Comunidade Britânica.


A Escócia realiza nesta quinta-feira (18) um referendo para decidir sua indepência do Reino Unido. Mesmo se o "sim" pela separação política ganhar, a Escócia vai continuar fazendo parte da Grã-Bretanha, das Ilhas Britânicas e da Comunidade Britânica, a Commonwealth. Entenda as diferenças de cada um destes termos.
Reino Unido - É um Estado formado por quatro países: Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte. O Reino Unido é uma monarquia constitucional, com um governo parlamentar. A sede do governo fica em Londres. A chefe de Estado é a Rainha Elizabeth II. O primeiro ministro é David Cameron. O Reino Unido também é responsável pela proteção, relações internas e assuntos de negócios de 14 territórios ultramarinhos, que são governados por administradores nomeados pela rainha. Entre estes territórios estão Anguilla, Gibraltar, Ilhas Cayman e Ilhas Malvinas. A bandeira do Reino Unido é a Union Flag.
Grã-Bretanha - É a ilha onde se localizam três dos quatro países do Reino Unido: Inglaterra, Escócia e País de Gales. O território da ilha tem 229.848 km² de área. Não é correto dizer que Grã-Bretanha e Reino Unidos sejam sinônimos, uma vez que a Irlanda do Norte pertence ao Reino Unido, mas não à Grã-Bretanha.
Ilhas Britânicas - É um arquipélago com mais de 5 mil ilhas situadas no noroeste da Europa. As duas principais ilhas são a Grã-Bretanha (onde ficam Inglaterra, Escócia e País de Gales) e a ilha da Irlanda (onde ficam Irlanda do Norte e República da Irlanda). Outras ilhas que se destacam são Órcades, Shetland, Hébridas, Man e ilhas do Canal (como Jersey). Algumas dessas ilhas não pertencem ao Reino Unido.
Commonwealth - A Comunidade Britânica é uma associação voluntária de 53 países desenvolvidos ou em desenvolvimento. Reúne tanto países ricos, como a Inglaterra e o Canadá, como nações pobres, como a Namíbia. A Escócia faz parte da Commonwealth e seguirá membro da associação mesmo se deixar o Reino Unido. A chefe da Commonwealth é a rainha Elizabeth II, e um secretário-geral é escolhido periodicamente. O atual secretário é o indiano Kamalesh Sharma.


quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Elementos da conjuntura eleitoral 2014

Eleições: A saída à esquerda não é nas urnas, mas nas Ruas!
Elementos da conjuntura eleitoral – Coordenação Anarquista Brasileira (CAB)
O contexto de eleições em nosso país precisa ser analisado a partir de alguns elementos da conjuntura brasileira que procuraremos apontar na presente análise. São aspectos que acreditamos relevantes e em certa medida condicionantes de uma compreensão mais rigorosa das eleições e de algumas conclusões libertárias que no final apontaremos.
Quando o “Ganha, ganha”, pode se tornar o “Ganha, perde”
O Partido dos Trabalhadores já governa o país há 12 anos, desde 2002. Sua fórmula tem sido a de fortalecer o financiamento aos grandes capitalistas “tupiniquins”, bem como a expansão do crédito pessoal, que por tabela fortalece o mercado consumidor. O governo busca fortalecer os grandes capitalistas e, de quebra, cria empregos e melhora as condições de consumo da massa trabalhadora. Para completar temos ainda programas sociais que atendem a massa, a exemplo do Bolsa Família – “36 milhões de brasileiros foram tirados da extrema pobreza” (DILMA, 2014) e o Mais Médicos – que segundo o governo cobriu 50 milhões de pessoas desassistidas. Toda esta forma de governar tem sido sintetizadas por nossa corrente, no bojo da CAB, como o neodesenvolvimentismo, porque representa uma nova busca pelo desenvolvimento de alguns setores da economia como sua inserção na economia internacional por meio da injeção de recursos públicos (isto é mais intervenção que no período neoliberal), todavia com certa repaginação, pois não podemos comparar essas com as políticas desenvolvimentistas de outrora, afinal o Estado entra mais como financiador do que como agente direto do desenvolvimento, nesse sentido privatizações e parcerias público privadas vigentes da época neoliberal se mantém, quando muito ganham outra roupagem.
O que temos visto, nos últimos anos, são sintomas de certo “cansaço” deste modelo de desenvolvimento e crescimento. Falamos de alguns sinais desse esgotamento em nosso último documento:
“Em relação ao desenvolvimento capitalista, o PT atingiu alguns índices que permitem certa estabilidade e crescimento, como os 4,6% de desemprego, que permitem certa fluidez à economia; afinal, o consumo de massas é um de seus carros-chefes. Todavia, a não distribuição real de renda, ou seja, a socialização da miséria, gera índices de endividamento preocupantes, que prometem desacelerar o consumo de massas e o mercado imobiliário, com um grande risco desse endividamento se tornar inadimplência. As grandes obras e os megaeventos têm prazo de validade, e, quando finalizados, prometem desacelerar ainda mais a economia. O agronegócio, como apontado, está sujeito ao mercado internacional e, por isso, sensível às oscilações econômicas externas. Resta saber, também, até que ponto os bancos públicos suportarão manter o crédito no mercado, sem que o Estado se endivide ou tenha suas contas pressionadas, em especial no que tange aos programas sociais.
Como vemos, temos um modelo econômico que está distante de uma perspectiva transformadora; ele não pode ser assim caracterizado sequer em uma perspectiva reformista. Mesmo no que diz respeito ao equilíbrio capitalista, ele parece estar sustentado em “bases” instáveis, sujeitas a desequilíbrios. ”(CAB, 2014)
Sem ser taxativos e sem buscar fazer do alarmismo e catastrofismo elementos da análise, temos de ficar atentos a alguns movimentos do capitalismo brasileiro, pois certos sintomas de desaceleração e certa instabilidade econômica despontam na realidade, e sabemos os impactos que têm na conjuntura política do País.
O próprio governo de turno (Dilma-PT) , e seu programa eleitoral apontam que seu pilar é, e continuara o mesmo:
(…)A competitividade produtiva será atingida por meio dos investimentos em produção e consumo de massa, investimentos em infraestrutura social e econômica, na construção de um Brasil sem Burocracia e nas áreas de Educação, Ciência, Tecnologia e Inovação, construindo uma sociedade do conhecimento.”(DILMA, 2014)
Deste modo, não podemos ser otimistas, no sentido de esperar algo diferente nos próximos anos, a despeito de certa desaceleração da economia, teremos mais do mesmo. O próprio governo admite que o PIB que tinha a expectativa de crescimento de 2,5%, deve crescer no máximo 1,8%, o mercado e instituições financeiras apontam para 1,5% (os mais pessimistas instrumentos financeiros 0,52%), sendo que o PIB teve um crescimento de 1,03% no período da crise mundial (2009), como vemos estamos com nossa economia com taxas muito próximas do período de recessão. Claro que esta é uma tendência global, a Economia mundial deve ter expansão de 2,8% este ano. Mais pessimismo se aponta com a dita “recessão técnica”, que aponta para encolhimento da economia do Brasil no primeiro trimestre de 2014, de menos 0,6%. A expectativa de crescimento do Banco Mundial para os países em desenvolvimento em 2014 foi reduzida para 4,8%, ante uma expansão de 5,3% esperada no relatório divulgado pelo órgão em janeiro. Todavia, há de se destacar que dos BRICS o Brasil é melhor somente que a Rússia, nesse sentido passa a ter um desempenho econômico fraco mesmo quando comparado com países de mesmo perfil.
Com todos estes resultados preocupantes, o que vemos nas campanhas, e no próprio programa do PT, é a reafirmação do que foi feito e alguns “avanços” que serão feitos na mesma direção. Parece que viveremos do passado nestas eleições, afinal seus principais adversários são o PSDB, que representa o que de pior temos na política, e o PSB, uma “terceira via” que não traz nada de novo e já aponta que governará em prol do capital. Deste modo não podemos esperar mudanças vindo destes setores, ao menos mudanças positivas no que se refere a população e a economia do País. Assim, o processo eleitoral tem pouco a oferecer nesta área, de um lado o PT que promete reeditar aquilo que vemos patinar, do outro aqueles que governaram o País por anos, e tem governado alguns Estados (exemplo do Paraná, estado que Richa quebrou literalmente, o Estado está sem empréstimos federais e sequer tem dinheiro para abastecer carros oficiais).
Os principais setores da economia nacional sofrem para crescer. O setor automobilístico enfrenta significativa recessão, a produção de veículos é a principal queda na indústria, aponta IBGE no mês de maio de 2013. Em comparação com maio de 2013, setor de automotores recuou 20,1%. A produção industrial registrou terceira queda seguida em maio, com -0,6%. A venda de veículos no primeiro semestre de 2014 caiu 7,33% em relação ao ano passado, aparecendo como pior resultado desde 2010. O varejo tem desacelerado, e dos 8,4% do ano de 2012 (crescimento foi de 2004 a 2012), tem como estimativa para 2014 4%, segundo Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL). No setor imobiliário vemos significativa desaceleração este ano também, se em 2013 o financiamento imobiliário aumentou 34% em relação ao período anterior, este ano vemos acrescidos no setor meros 7%, a estimativa de crescimento é de 15% (menos da metade), de acordo com dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip). Se o consumo de massa é um dos pilares para o crescimento, tudo indica que está em um processo de decadência, pois os principais setores se encontram em franca desaceleração, deste modo entramos em um momento de enfraquecimento da economia. Tal queda nas taxas de crescimento são reflexos dos índices de endividamento da população, pois na medida em que o crescimento e aquecimento do mercado é fruto da expansão de crédito, e não dos ganhos reais, a tendência que se confirma é o endividamento das famílias. Segundo Roberto Luis Troster, ex-economista chefe da Federação Brasileira de Bancos, a situação em 2013 era a seguinte: 63% da população brasileira possui algum tipo de dívida e 20% de contas atrasadas; 76% destas pessoas têm dívidas no cartão de crédito e o juro médio desse tipo de conta, no Brasil, atualmente se encontra no patamar dos 130%. A inadimplência ainda era baixa, fechou 2013 em 2,33%. Recentemente, um dado no mínimo preocupante revelou que 57 milhões de brasileiros já se encontram inadimplentes, destes 60% dos endividados têm contas atrasadas que superam toda a renda mensal. Outro dado aponta que 53% das pessoas com dívidas possuem até duas contas não pagas no prazo. É necessário observar que este número representa que, do total da população brasileira com 18 anos ou mais (144 milhões de pessoas), cerca de 40% estão inadimplentes. Um cenário de crise não se estabelece devido ao desemprego baixo que gira, de acordo com dados do IBGE entre 4,6% e cerca 5%, que garantem um cenário de pleno emprego.
Como podemos explicar esta desaceleração? Bom já havíamos apontado em uma análise anterior que este modelo de crescimento não era sustentável, em seu sentido de gerar um ciclo de crescimento. Pois nota-se que desde que o PT assumiu, colocou em curso seu projeto neodesenvolvimentista, baseando-se no aumento da oferta de crédito e não da distribuição de renda, o que logicamente leva a população ao endividamento, estagnando, ou ao menos diminuindo a capacidade de crescimento. Anteriormente já havíamos levantado dados recentes que apontam a situação do aumento dos salários no Brasil
“No que tange ao ganho real nos salários, este é muito pequeno no atual cenário. Apesar de que 84,5% das categorias que são monitoradas pelo DIEESE tiveram aumentos acima do INPC, apenas 0,6% receberam aumentos acima de 5%. A maior fatia recebeu entre 0,01% e 1%, somando 34,8% destes 84,5%. Nesta mesma pesquisa, constata-se que 64% tiveram um aumento da ordem de 0,01% a 2% acima do INPC. Em 2012 houve a maior taxa de aumentos acima de 5% do INPC. Isso atesta que o aumento no consumo se deu com a ampliação do crédito e corrobora a afirmação de que não há uma distribuição de renda significativa no país.” (CAB, 2014)
No que se refere o panorama da distribuição de renda encontramos também um quadro não muito positivo:
“Enquanto isso, a maior parte da população brasileira continua vivendo com menos de um salário mínimo: trabalhadores com 15 anos ou mais de idade que ganham menos de um salário mínimo somam 26,080 milhões, isso representa que 43% da famílias brasileiras apresentam uma renda per capita inferior à um salário mínimo.” (2)
Estes dois elementos quando se defrontam, demonstram a crueldade da realidade brasileira: enquanto 124 pessoas concentram mais de 12% do PIB, 26 milhões de trabalhadores vivem com menos de um salário mínimo por mês.
Mas para manter a aparência de “país rico”, o governo e a mídia disseminam o conceito de “classe média” como se houvesse mesmo, na prática, esse segmento que se diferencia dos pobres e miseráveis. Para o governo, essa “classe média’ abrange a população com renda per capita de R$ 291 até R$ 1019, ou seja, mais da metade da população brasileira pertence à classe média. Mas na prática, o que isso significa? O governo está mesmo redistribuindo a riqueza? Sim e não. Esta renda média está muito abaixo daquilo que o DIEESE aponta como necessário para se ter acesso aos direitos fundamentais, a instituição estipula que o salário mínimo brasileiro deveria ser de 2.621,70 R$ (2013). Percebe-se que, na realidade, o que acontece é que o governo redistribui a miséria. Segundo o IPEA, a pobreza reduziu no brasil de 32,4% para 22,6%, incluindo mais essa parcela da população na classe média, mas os mais ricos continuam da mesma forma, acumulando. Vejam: 1% da população mundial detém 43%da riqueza do globo, e 43% detém 2% da riqueza. (Banco Credit Suisse); apenas 6% dos brasileiros detém meios de produção próprios (IPEA); ou ainda: 1% dosproprietarios de terra brasileiros detém 45% da terra, 90% dos proprietários detém 20%(INCRA). Assim o que aparece como distribuição de riqueza nas afirmações do governo, na verdade se configura como uma dispersão da renda dos mais pobres, enquanto a acumulação dos mais ricos mantém os mesmos padrões, ou mesmo se intensifica, afinal com o crescimento da economia brasileira não contemplando a desconcentração de riqueza, acaba por estes segmentos se afastarem cada vez mais, afinal o crescimento dos mais ricos é assombrosamente maior. (CALC, 2013)
Como vemos, para além da distribuição de riqueza relacionada à população mais pobre, por meio de programas sociais (cujo o carro chefe é o bolsa família), não existe uma desconcentração real de riqueza, o que impede um ciclo contínuo de crescimento.
Em contra partida, os setores dominantes sentem a desaceleração, com um crescimento menor e com menores lucros (menores porque não batem recordes). Entre os bancos vemos na lista de maiores lucros, o Banco do Brasil, um banco público com lucro líquido de R$ 15,75 bilhões em 2013, ficando em primeiro lugar. O que demonstra que a oferta de crédito ainda é responsabilidade do Estado. Na sequência vem o O Itaú Unibanco com lucro líquido contábil de R$ 15,696 bilhões, acima do resultado de R$ 13,594 bilhões registrado um ano antes. Em terceira posição está o Bradesco, com um lucro líquido contábil de R$ 12,011 bilhões em 2013, valor acima dos R$ 11,381 bilhões obtidos no ano anterior. Não à toa vemos a pressão para o aumento da taxa Selic, a taxa básica de juros, pois como vemos tais bancos garantem um bom percentual de seus lucros no Brasil. O Santander, quarto nesta mesma lista, garante quase ¼ de seu lucro somente no Brasil. As classes oprimidas veem seu poder de compra diminuir com seu endividamento e com a inflação corroendo-as. A resposta para conter a inflação tem sido aumentar a taxa de juros, assim de um lado ou de outro quem “perde” é a população (com a alta da inflação ou com a alta dos juros), afinal investir no aumento da oferta não é do interesse dos grandes capitais financeiros. Pois no mesmo momento que governo declarou a diminuição do crescimento do PIB, alertou para um aumento na estimativa da inflação para o ano. Mesmo com desaceleração em junho, ainda batia o teto (de 6,5%) atingindo um acumulado de 6,52% nos últimos 12 meses. Em julho sofre ligeira desaceleração e se manteve por pouco, mas ainda acima do teto 6,51%.
Como vimos o governo continua apontando como modelo de crescimento a expansão de programas sociais, infraestrutura e a tal “competitividade produtiva”. Não vemos nenhum apontamento que o governo ira radicalizar na política de distribuição de renda ou ainda no investimento em setores estratégicos para fortalecer a indústria nacional realmente. O que vemos é que temo uma equação complexa a resolver, como manter o crescimento no consumo sem aumentos reais na renda? Como ampliar ainda mais o consumo e frear a inflação, se para conter a inflação o governo aumentou a taxa de juros para frear um pouco a procura? E mais como modernizar a indústria e o parque produtivo sem investimentos massivos na área ciência e tecnologia (o ápice de investimento é no ciência sem fronteiras, e não na montagem de equipamento em de C & T em solo nacional)? Como segurar capitais sem um disciplinamento dos mesmos (isto é, regulação, pois não há nacionalismo que faça capitalistas segurar o dinheiro em nossa economia)?
É inviável pensar em como atrair mais capitais produtivos para o País com uma taxa de juros de 11%, que favorece o capital financeiro, não à toa a venda de títulos públicos (títulos de dívida) bateu o recorde de R$ 57,97 bilhões. Não à toa a dívida pública volta a crescer 3,4%, chegando aos 2,12 trilhões. Não à toa vemos que as previsões para indústria são de encolhimento de 0,67% (pesquisa Fócus) neste ano de 2014 (a três meses a indústria encolhe). Entre os BRICS deixamos de ser a 4º economia com mais investimentos para passar a ser a 7º.
Qual solução apresenta o Governo? Por óbvio o aumento do crédito, a exemplo inverso do crescimento econômico os desembolsos do BNDES sobem 35% no 1º bimestre. No período, desembolsos chegaram a R$ 28,5 bilhões. Desembolsos para o setor de infraestrutura tiveram aumento de 82%, não à toa vemos que estes são os setores que mais financiam campanhas eleitorais. Não por acaso as contas do governo têm pior resultado para o 1º semestre em 14 anos.
Em junho, houve déficit de R$ 1,94 bilhão, pior resultado desde 1997. A arrecadação tem o pior crescimento desde 2009, isso resultado de desonerações fiscais, em especial a automóveis e eletros. Outro caminho encontrado pela presidente, e citado em seu programa como mais uma solução para o crescimento, são as parcerias público privadas, onde o governo entra com o financiamento (via BNDES), e o setor privado com a “gestão eficiente”, e é claro o lucro, tudo em prol do desenvolvimento. Entraram na onda da privatização portos, aeroportos, rodoferrovias, rodovias e Hospitais. Todas estas medidas para buscar manter as classes dominantes satisfeitas, e por outro lado impedir que as classes dominadas enfrentem o desemprego e achatamento ainda maior em sua capacidade de consumo.
Como vemos a economia enfrenta turbulência, e as classes dominantes ainda continuam a expandir seus ganhos, já ganharam mais, mas continuam ganhando. As classes dominadas vem perdendo o acesso a uma das únicas conquistas que obtiveram junto a este governo: o consumo. Têm percebido pouco a pouco perda de seu poder de compra, afinal endividados não tem condições de contrair mais despesas. Perdem com a alta da inflação, perdem com a alta dos juros, perdem quando o Estado se endivida e investe menos em áreas sociais, o mesmo ocorre quando o Estado arrecada menos, de um jeito ou de outro perde, e paga as contas do neodesenvolvimentismo. Tais aspectos não poderiam deixar de influenciar o panorama político. Afinal quando a política do “ganha-ganha” não é possível, sabemos quem tem de “perder”.
Acabou a festa do crescimento, acabaram os amigos…
Vemos junto das condições de instabilidade econômica, despontar os primeiros questionamentos a cerca do governo. O consenso de classes forjado pelo PT em seus 12 anos de governo, parece se abalar frente a incapacidade de manter um cenário de crescimento econômico. Se este governo já teve avaliações positivas acima de 60%, chegando a 68% em Dezembro de 2010, e mesmo em março de 2013 ainda contava 63% de aprovação, atualmente sua avaliação caiu a quase metade disso, pois em 4 meses a aprovação ao governo caiu nove pontos, de 43% para 34%. Ainda segundo a mesma pesquisa do Ibope (abril) a desaprovação à maneira de Dilma governar subiu de 43% para 48%. Segundo pesquisa do mesmo instituto realizada em julho, gostariam que o/a presidente mudasse totalmente o governo do país: 29%; mantivesse só alguns programas, mas mudasse muita coisa: 41%; fizesse poucas mudanças e desse continuidade para muita coisa: 18%; desse total continuidade ao governo atual: 10%; e não sabe / não respondeu: 2%. Essa desaprovação ao governo Dilma, que possui influência indireta nas eleições, não consegue, contudo, ser captada por Aécio, mas por Marina, uma suposta alternativa, que como veremos não pode ser encarada como uma “saída”.
Como dito, os problemas para reprodução do ciclo de crescimento, e a desconfiança na política do governo já tem seus resultados eleitorais, que se não retiram a estabilidade do governo, fazem o consenso em torno do PT ser atingido. Percebe-se o quão frágil são as conquistas petistas, que garantiram crescimento aos de cima, e acesso ao consumo e emprego (de baixa qualidade diga-se) aos debaixo, que ao demonstrar seus primeiros sinais de cansaço devido o modelo de desenvolvimento adotado, já mostra que aquilo que era tão consensual, talvez não o fosse tanto assim. São os frutos da engenharia do pacto social montada em todos esses anos de governo petista que, ao priorizar e fazer de centro de sua estratégia conchavos e alianças com os setores dominantes acabou deixando de lado a mobilização e organização dos de baixo, enterrando de vez qualquer perspectiva de transformação Socialista.
Sem crescimento econômico: debandada dos de cima… Sem garantia de Direitos: Insatisfação dos de baixo!
Como apontamos, a diminuição na taxa de crescimento aliada a fatores de coerência ideológica tem gerado tensionamentos por parte dos setores dominantes ao governo petista. Muitos deles feitos por meio da mídia, que ataca o PT e busca ampliar o clima de instabilidade, buscando favorecer a “oposição” ao governo, que agora promete modernizar a base produtiva com uma reforma tributaria, isto é sempre menos Estado, no que tange a gestão da economia e direitos, afinal não estão falando de uma reforma tributaria para implementar impostos progressivos. Mesmo a direita entrou na onda de criticar a copa (como alguns apontavam o General Figueiredo não fez a copa), e contrastando os estádios com serviço público.
Como apontamos anteriormente também, se não houve uma mudança radical na distribuição de riqueza também não houve atendimento à população no que tange aos serviços fundamentais. Se observarmos os principais serviços de atendimento a população: educação, saúde, transporte e saneamento, os mesmos não passaram por mudanças significativas, esperadas de um partido reformista. Nem podia ser diferente, se olharmos o orçamento de 2014, 42% são destinados à dívida pública. Somando isso à Lei de Responsabilidade Fiscal, torna-se difícil discutir qualquer mudança, ou reforma que seja. Não surpreende a privatização estar em uma crescente. Vemos recentemente esta noticia: Fusão da Anhanguera e Kroton cria a 17ª maior empresa da Bovespa.
“Nova empresa passa a ter valor de mercado de mais de R$ 24 bilhões. Associação cria empresa com quase 1 milhão de alunos.”
(…)
De acordo com o CFM, do investimento federal total de R$ 47,3 bilhões em 2013, os R$ 3,9 bilhões da saúde representam 8,2%. Esse percentual, segundo a entidade, é menor que as fatias destinadas aos ministérios de Transportes (23,3%), Defesa (18,6%), Educação (16%) e Integração Nacional (9,3%).
Como pode-se notar a educação no Brasil continua a ser um negócio, e o aumento do investimento público se dá no setor privado. No ensino superior, por exemplo, veio por meio do PROUNI, que não é nada mais que a privatização de vagas públicas (estima-se que cada vaga no PROUNI custa cerca de 3 nas Universidades públicas). Ainda quando vamos olhar em como se encontra a educação, nos defrontamos com o seguinte panorama
Quando tocamos a situação das universidades, temos uma situação ainda mais crítica no que tange à administração do serviço por parte do poder público. Apenas 11% da população entre 25 e 64 anos de idade atingiu esse patamar educacional, quando o recomendável para nações desenvolvidas é, pelo menos, 31%. Atualmente, ao menos 74% dos estudantes do ensino superior têm de recorrer ao ensino privado, pois as instituições de ensino superior privado correspondem à maior parte deste serviço no Brasil. São 2.112 instituições privadas para 304 públicas. Somente 62% das pessoas com ensino superior e 35% das pessoas com ensino médio completo são classificadas como plenamente alfabetizadas. Segundo pesquisa do Instituto Paulo Montenegro e da ONG Ação Educativa, os níveis de alfabetização e alfabetização funcional melhoram seu desempenho de acordo com a renda. Percebe-se que o produtivismo imposto à educação brasileira por órgãos internacionais nos anos de neoliberalismo ferrenho, combinado com a falta de atenção naquilo que tange às políticas de bem-estar social (em que renda é somente um elemento) e com uma universalização que não representou aumento suficiente em verbas (por consequência em ganho estrutural e pessoal), gerou uma estrutura sobrecarregada (salas lotadas) com número pequeno de professores, acabando por se converter em uma educação massificada de péssima qualidade. Nosso país não somente tem uma educação de péssima qualidade, como, por conta da expansão via universidades privadas, é incapaz de promover o desenvolvimento tecnológico, pois as privadas não investem em pesquisa e possuem um frágil sistema de produção de conhecimento. O Brasil é responsável por meros 2,7% da produção científica no mundo, o que é pouco para uma das maiores economias mundiais. Não é à toa que somente quatro universidades brasileiras estão entre as 100 mais bem avaliadas dos BRICS. Nessa área, a privatização se estende a todos os níveis, do básico ao superior, seja por meio da privatização de receitas, da estrutura pública ou pela liberalização que transforma um direito em mercadoria.
No recém aprovado PNE (Plano Nacional de Educaçao), grande parte da discussão ficou em torno de orçamento, os famosos 10% do PIB, e 100% do Pré-Sal. Se estas discussões são importantes, não podemos esquecer de pensar na qualidade e gestão da educação, justamente o que mais preocupa no PNE que preve a privatização do sistema de educação de cima a baixo, desde a educação infantil até a pós graduação.
Na Saúde não temos melhores situações em pesquisa recente, realizada pelo TCU aponta que 64% dos Hospitais encontra sempre superlotados, 81% das unidades tem falta de médicos, e 73% das instalações são inadequadas. Em pesquisa ainda deste ano (2014), constatou-se algo que não soa nada estranho frente a este panorama, 93% da população se encontra insatisfeita com o SUS e convênios privados. Recentemente ainda encontrávamos o seguinte cenário
Segundo pesquisa de 2011, cerca de 70% da população se encontra insatisfeita com os serviços prestados pelo SUS. Esse número se refere àqueles que, frequentemente, buscam o serviço. A principal reclamação é de falta de médicos, seguida da demora em agendar consulta ou exame na rede pública (IPEA), que podem chegar, segundo algumas fontes, a 9 meses. Segundo outra pesquisa, cerca de 60% da população usa somente o SUS, enquanto outros 30% combinam o uso do SUS com a saúde privada. Na prática, cerca de 90% da população depende dos serviços do SUS. Ele não obtém aumento real em sua suplementação desde 1994, pois, a inflação no setor de saúde acumulada na última década, de 83,3%, acabou por absorver os 32% de aumento em subsídios no setor. Vemos o atual governo romper somente na retórica com a antiga política privatizante, impondo-a por meio de medidas mascaradas, como no caso das empresas públicas de direito privado (como a EBSERH), que abrem espaço para as privatizações (hospitais de porta dupla) e promovem a mercantilização da saúde (não só no sentido comercial, mas também de submetê-la à lógica da administração empresarial em detrimento do bem-estar. Em nível estadual temos as suas equivalentes, as Organizações Sociais (OSs). Somente apontando esses dados preliminares, sem nos determos à fundo nas estatísticas relacionadas à saúde pública brasileira, é notável que a sua situação é catastrófica.
Ainda no que se refere o saneamento básico, tema diretamente ligado a Saúde Pública, dos 100 maiores municípios, 34 não tem plano de saneamento estima-se que 35,5 milhões de pessoas não acessam o saneamento básico.
No que se refere aos transportes, dos 50 bilhões adicionados por Dilma no orçamento para área, parece que pouco se investiu em transporte para a população. Acabou que a única conquista real da população foi a redução da tarifa nas mais de 100 cidades, e algumas cidades que passaram a garantir o passe livre por meio da força das ruas. Em geral o transporte continua na mão das velhas máfias do transporte, mais do que isso, esse orçamento suplementar caiu na mão de velhas oligarquias. O Cade realizou denuncia de cartéis nas obras de metro em São Paulo, Distrito federal, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Como vemos a situação continua igual ou mesmo pior.
Tais dados revelam a realidade de um Brasil que ocupa a posição de 46° lugar em novo índice que mede a qualidade de vida. O Indicador global IPS avaliou ‘progresso social’ em 132 países. Brasil foi o melhor dos Brics, mas foi superado por outros latinos. O país mais bem-sucedido da região foi a Costa Rica, que apareceu em 25° lugar. Em seguida, vieram Uruguai (26°), Chile (30°), Panamá (38°) e Argentina (42°). Como vemos não necessariamente “País Rico é País sem Pobreza” pois, mesmo em índices de instituições burguesas, aparecemos atrás no que tange a qualidade de vida de países com economias muito menores.
Igual não é, mas também não cai muito longe…
Parte da esquerda desqualifica seu próprio debate apontando que o PT segue a mesma cartilha neoliberal do PSDB. Entendemos que tais afirmativas, para além de serem de certo modo inverdades, desqualificam a esquerda que acaba por afirmar que a realidade promovida pelo PSDB, de privatizações estrito senso, e menos participação do Estado na economia são idênticas por parte do governo PT. Não se pode comparar o atual governo ao período do PSDB, quando somente de 95 a 2000 o desemprego cresceu 155,5%, e o investimento público na geração de emprego declinou 32,2 %. Soma-se que em 2000 o desemprego batia os alarmantes 15%, dos quais hoje estamos distantes. A política de protagonismo econômico do Brasil frente a economia mundial também é um diferencial. O Banco do Brics é um de seus últimos exemplos. A lógica ainda é a lógica capitalista, por óbvio, em especial porque o multilateralismo brasileiro pouco leva em conta as alianças políticas, mas o pragmatismo econômico (basta ver que Rússia e China estão longe de serem países democráticos), e visa em especial criar zonas de influência do imperialismo brasileiro.
Todavia vemos que a lógica privatizante permaneceu (agora sob a égide das PPPs), e que o investimento público, como demonstramos, não atingiu aquilo que espera-se de um governo reformista. Deste modo destacar diferenças não significa capitular ao “melhorismo” do PT, nem mesmo defendê-lo, mas compreender uma reconfiguração dos inimigos de classe. Ou seja, não há como negar que o governo PT se preocupou, de alguma forma, em favorecer a parcela mais precarizada da população brasileira, porém, sempre com políticas dualistas, onde os pobres ganham um pouco e os ricos ganham mais. Exemplo disso são os programas sociais que o governo PT desenvolveu durante sua gestão, como o Minha Casa Minha Vida ou o Minha Casa Melhor que, claramente, são políticas de estímulo ao consumo que visam aquecer o mercado.
Outro tema que vem aproximando o PT do PSDB é a forma como vem sendo tratados os movimentos sociais. Pois a repressão aos mesmos se tornou uma constante, como a judicialização da luta política. Os casos de São Paulo (2 presos) e do Rio de Janeiro (23 indiciados) são exemplares, e, se não são de responsabilidade direta do PT, são realizados com sua benção. Não é raro a guarda nacional e o exército serem acionados para combater movimentos. E mais, o PT foi um dos partidos que mais se esforçou por aprovar o projeto de lei que visava conter os protestos, aderindo mesmo ao projeto da bancada do PDT para acelerar a criação de dispositivos legais para reprimir manifestações. Cabe mencionar que o próprio exército vem sendo mobilizado para investigar manifestantes, algo que desde a ditadura não se via. Parece que estamos a relembrar a onda de terror e medo de investigações massivas, que chegam a absurdos para condenar militantes. A própria anistia internacional interveio no tema dos protestos relacionados à Copa, apontando que o Brasil vinha infringindo o direito a livre manifestação. Isto parece um contrassenso em um governo que tem sua presidente saída dos quadros da luta contra a ditadura, e mais absurdo quando vemos o cinismo da mesma: “Na minha época eramos presos por fazer política”. Tem se tornado lugar comum, os movimentos sociais serem tornados caso de polícia, e temos visto o mesmo tipo de montagem de “farsas” contra movimentos, dignos das épocas mais reacionárias de nosso país, botijões da gás que viram explosivos, livros de determinadas ideologias (em especial anarquistas) que se tornam prova de crimes (como na invasão do Ateneu Batalha da Várzea), mais recentemente ainda camisas, bandanas e suvenires de banda se tornaram prova de crime.
Para criminalizar o protesto, o PT e o PSDB vem contando com o apoio da mesma mídia que o PT acusa de golpista (e realmente o é até hoje, o wikileaks recentemente revelou documentos que revelam ligações de agentes da Globo e Folha de São Paulo a cônsules americanos). Mídia que os governistas apontam como sua principal oposição. Todavia há de se lembrar que se as concessões continuam na mão dos oligopólios da informação, é com a anuência do PT. Governos como o de Chaves e Kichiner revisaram tais concessões. Todos estes processos de criminalização buscam silenciar aqueles que denunciam o “bem estar” tupiniquim, criado por um governo que concede muito aos de cima, e que cede pouco aos de baixo, que precisa se comparar o tempo todo àquilo que existe de pior na política institucional para se situar a esquerda. Não tem existido deste modo menor constrangimento por parte do governo do PT na montagem e sustentação de farsas (é o caso de Tarso no RS) contra os movimentos sociais e na intensificação da repressão e organização de uma máquina de repressão aos movimentos sociais. A criação de bodes expiatórios como mascarados, black blocs, “fascistas” etc., se mostra como a faceta de farsas criadas para abafar as vozes descontentes, afinal a população deve aceitar resignada que o melhor que podemos alcançar em matéria de mudança social é o PT, e que qualquer oposição fortalece a oposição tucana, isto, claro, na visão do governismo. Estas farsas, que sim podem ser aproximadas (guardadas as proporções) aos tempos tucanos, e mesmo dos “anos de chumbo”, de alguma maneira obtiveram êxito em certo esvaziamento das ruas. Porém se a mídia consegue cumprir o papel de confundir, e busca esvaziar as ruas elegendo novos inimigos para colocar no lugar das classes dominantes, criando um antagonismo entre população e militantes/ativistas, estabelecendo as urnas como lócus da política, por outro vemos que o descontentamento e concordância com a necessidade de mudança não muda. Temos de observar ainda que em matéria de direitos humanos, este governo já firmou seu pacto com os setores mais conservadores, demonstrando que não podemos esperar nem as tímidas mudanças sociais que ensaiou o Uruguai, onde se descriminalizou o aborto e o uso da maconha, e mais deixando voltar a tona pautas de direita como internação compulsória para usuários de drogas e a malfadada “cura gay”. O PT é conivente com tais absurdos, pois nos bastidores Dilma já acalmou alguns dos setores mais conservadores da sociedade, (a exemplo de seu “pacto” com os neopentecostais) comprando seu apoio ao trancar pautas relacionadas a liberdades civis e direitos Humanos.
Já não nos defrontamos com o momento em que 8 em 10 brasileiros apoiavam as manifestações (Datafolha, 2013), que dois milhões saíram as ruas, em um contexto onde ocorreu uma manifestação a cada 3 dias na paulista (CET, 2014), não podemos dizer que a população está “acomodada” com a situação. Em uma recente pesquisa mostrou-se que se 73% dos paulistas vêm mais prejuízos do que ganhos nas manifestações, ainda sim 52% dos mesmos apoia as mesmas (Datafolha, 2014), cabe destacar a que pesquisa foi realizada no primeiro dia da greve de ônibus. De São Paulo, Estado mais rico em pesquisas do tipo, vemos que com o início da Copa caem 61%, mas que por outro lado temos 14,5% mais manifestações que em 2013 no primeiro semestre. O que podemos apurar disso, é que se as manifestações estão menores, se tornaram frequentes e parte do cotidiano, o “senso comum” já as compreende como parte da vida política, e isso podemos entender como uma mudança ideológica significativa na consciência dos brasileiros. Se a massa saiu às ruas, os velhos movimentos ganharam nova força em uma conjuntura ideológica mais favorável, vimos greves massivas, sem teto, etc. Por outro lado vemos uma confusão instaurada pelos meios de comunicação, endossadas por nossas personalidades políticas, que demonstram que se não existe uma homogeneidade entre PT e PSDB, as classes que os mesmos representam (ambos disputam a capacidade de representar as classes dominantes) tem uma mesma preocupação, assim passam a existir muitos pontos de contato, talvez o principal é de que os poderosos não gostam da organização e luta dos de baixo, e que seu trato é o mesmo, cooptar quem se pode cooptar, reprimir quem não concordar. Não é à toa que o candidato à presidência do reacionário PSDB (que tem em seu seio desde narcotraficantes, a membros da Opus Dei) não tem problema algum em colocar: “Política e administração pública é você copiar as coisas que dão certos e aprimorá-las. [...] Não tenho o menor constrangimento de mantê-los e aprimorá-los [os programas socias do PT]“. Como vemos escolhemos no máximo com qual “molho” vamos ao fogo. O problema é da democracia burguesa, e não dos partidos em questão, salvaguardadas as diferenças, ambos terão que manter a “ordem”, sem ao mesmo tempo alterar nada de fato, pois não se pode distribuir direitos sem mexer na concentração de riqueza. Isso ficou claro nos dividendos políticos gerados na “sala de cima” da política pelo junho de 2013: mais repressão, fortalecimento do aparato militar, farsas e mentiras da mídia encomendadas por estes senhores e senhoras e claro mais recursos públicos paras as quadrilhas que se associam ao poder público.
Uma “Nova Velha” Alternativa
A “fatalidade” da queda do avião de Campos, abriu espaço a uma “nova” e ao mesmo tempo velha conhecida do eleitorado, Marina Silva. Dirigente da Rede Sustentabilidade, sigla que não foi legalizada, como herdeira natural de Campos assume a cabeça da chapa liderada pelo PSB (Partido Socialista Brasileiro – cujo socialismo resistiu somente na sigla). A fraqueza do PSB e seu programa fica eminente, na medida em que cede sua sigla a uma “forasteira” no partido (afinal Marina apenas aluga a sigla por seu partido, a Rede, estar ilegal) na eminência do sucesso eleitoral. Isso tanto procede, que quando o chefe da campanha de Campos padece, tão logo o PSB anuncia Marina como nova candidata a presidência.
Não podemos deixar de lembrar que Marina, é uma velha novidade, na medida em que fez parte do atual governo. Mas as semelhanças com o passado, não param por ai. Se temos como “velhas” alternativas o PT de Dilma (mesmo lugar da onde saiu Marina) e o PSDB de Aécio, e como novidade a Marina da Rede (travestida de PSB), nos bastidores da política, a realidade é a mesma. Marina tem como grande financiador o maior banco privado do País: o Itaú. Conta com Neca Setúbal como sua estrategista, nada mais nada menos que a herdeira da rede bancária. Como já discutimos, sem enfrentar o capital financeiro que morde boa parte dos recursos orçamentários do país (com a arrolagem da dívida pública), fica difícil pensar em mudanças quaisquer. Quando tem-se o capital financeiro pagando a conta de uma candidatura, é eminente que esta candidatura em nada rompera com o status quo.
Outra mostra de que Marina é mais do mesmo fica por conta de sua prontidão em abrir mão de compromissos históricos seus e de sua legenda (no caso a Rede e não o PSB), que são com a ecologia e a tal sustentabilidade (conceito tão disputado que sem uma longa discussão pouco define, atualmente). Marina já se dispôs a apoiar e financiar o setor do agronegócio (supostamente seus inimigos históricos na pauta ambiental). Se aquilo que era o “coração” do programa de seu partido já se esvaiu na eminência de uma vitória eleitoral, no caso a suposta “intransigência” da ambientalista na defesa do meio ambiente, não podemos esperar que aquilo que está em um segundo plano resista. Deste modo temos uma terceira via que renuncia seu “programa” na primeira oportunidade, que flexibiliza aquilo que lhe é mais caro em nome do pragmatismo eleitoral. Diante de poucas certezas “programáticas” de Marina, a suposta Terceira Via: também representa a vitória do Capital. Entendemos que esses 3 projetos (PT, PSDB e PSB/REDE) representam variações administrativas no marco do Estado e que seguirão ajustados às relações de poder do sistema de controles do capitalismo financeiro. Não podemos nos deixar iludir pelas falsas alternativas; a SAÍDA À ESQUERDA É SÓ UMA.
As Ruas são a Única Saída à Esquerda
Junho de 2013 nos mostrou que existe certo descontentamento com o governo atual, principalmente pelos setores médios da população. Porém, a esquerda combativa (leia-se esta, a esquerda que luta por fora do poder burguês) tem tido imensas dificuldades de aglomerar todo este descontentamento em termos de organização e construção programática dos de baixo. Nesse sentido veremos setores oportunistas “surfando na onda”, da necessidade de mudança, chamando às “urnas” que são o “verdadeiro” lugar da cidadania (Marina Silva tão prontamente tomou este posto). Mesmo assim, observamos uma disposição da população para com a luta e ação direta, que a muito não víamos. Quando se trata da juventude, aquela parcela da população escolarizada (os dados mostram que em junho a maioria era de universitários), com um perfil etário que não viu as mazelas do PSDB, mas que também não viu o PT em seus áureos anos de combate, tem aparecido com disposição para exigir mais, e isso o próprio PT admite em seu programa para 2014. Segundo a Pesquisa Agenda Brasil Juventude, nove em dez jovens acreditam que podem mudar o mundo, 83% entendem que a política é importante, e destes 45 % ( a resposta mais escolhida) dos jovens entendem “a participação e mobilização nas ruas e ações diretas” são o mais importante, seguido de 44% para “atuação em associações ou coletivos que se organizam por alguma causa”, em terceiro “atuação em conselhos, conferências, audiências públicas ou outros canais de participação deste tipo”, com 35%. Podemos ver que as “ruas” vencem na pesquisa, todavia os instrumentos da Política Nacional de Participação Social, ainda ocupam um bom espaço, assim sendo a cooptação e manipulação da participação popular ainda estão voga, em franca disputa com os movimentos sociais independentes, afinal esta foi uma das últimas cartadas de Dilma para tentar capitalizar a revolta das ruas, a institucionalização do PNPP. Sabemos que este é mais um engodo, não porque discordamos da participação popular, mas porque sabemos que na ordem do dia não serão colocados o orçamento, a dívida pública, mas sim a reforma política, que nada irá alterar, afinal as eleições e nossos representantes são uma das facetas do poder burguês. As relações de poder que garantem os privilégios e dominação das classes dominantes não serão alteradas pelas eleições. Nesse sentido, antes mesmo das eleições começarem, podemos ter uma certeza: as classes dominantes vencerão, e as classes oprimidas perderão, perder com governos que já tem pactuados seus acordos com as elites, os donos do poder, perder quando manipulados se enganarem e verem o poder neste processo, e assim se deixando cooptar pelo processo que somente legitima a Ditadura Burguesa com a áurea de democrática. A única vitória possível pelos oprimidos virá de sua organização e luta, pois mesmo as reformas não virão de uma mágica varinha de condão do Estado, mas pela capacidade de pressão que tem as classes oprimidas. É essa força que faz mesmo o reacionário PSDB aceitar programas sociais (afinal é temperatura da luta de classes que faz a política ceder, e não a benevolência ou consciência subjetiva destes senhores). Nesse ponto concordam PT e PSDB, bem como a classe dominante, o poder não pode se reorganizar, tampouco se democratizar, com reforma ou sem reforma política as eleições ainda serão uma encenação, o “espetáculo democrático”, pois os temas estratégicos para a população somente podem aparecer na ordem do dia por meio de sua ação direta. Junho é uma pequena mostra disso, se arrefecendo o espírito de luta na massa, as pautas das ruas saíram de cena ou fizeram uma metamorfose, se tornando interessantes a burguesia (voltemos ao caso da suplementação orçamentária ao transporte, cujo o dinheiro vem caindo nas mão dos velhos cartéis). PT e PSDB não são iguais, mas ambos são partidos da ordem burguesa que disputam a gestão do aparelho, não um projeto de sociedade. A esquerda “revolucionária” que participa das eleições sequer tem força para disputar o aparelho, e serve como mera legitimação do processo, emprestando-o ares de plural e democrático. As mudanças que se ensaiaram vieram todas das ruas, e somente aí se apresenta uma saída à esquerda para o processo. Seus programas recheados de “boas intenções”, como eles mesmo sabem, sequer tem chances nas eleições minoritárias, menos ainda nas disputas em torno do poder executivo, elucidando mais uma vez que não há “milagre” que substitua o trabalho e a organização de base, demonstrando que sua incansável propaganda (12 anos o PSOL, e 20 anos do PSTU) pouco renderam eleitoralmente ou organicamente. Sequer são capazes de criar um campo de unidade da esquerda, apresentando nas eleições uma esquerda que é minúscula e fragmentada, e que muito pouco pode definir na atual política brasileira.
O terreno ainda é fértil ao nosso campo, que ganha mais espaço público que em outros tempos. Não ao acaso nos tornamos o bode expiatório mais atingido pelas farsas policiais. A população, em especial a juventude, está aberta para discutir uma nova política. Uma “Outra Campanha” nunca esteve tão em voga, afinal o consenso dos Partidos da ordem atual em torno da necessidade de pactuar as classes sociais, e de gerir a miséria capitalista da forma mais “humana” possível, fazem com que as massas olhe com ceticismo o processo eleitoral. Acreditamos que a única saída à esquerda possível é a organização dos de baixo e sua luta direta nas ruas. Apostamos na construção de processos de massas, sem “imposição” de programas “revolucionários” de cima. Afinal vanguardas descoladas não radicalizaram os de baixo por osmose, pois estes constroem seu espírito reivindicativo no dia a dia dos conflitos e das mobilizações.
As Ruas ainda jogam peso no imaginário daqueles que fizeram sua experiência de luta em 2013. O protagonismo político exercido pela população, na opinião dos anarquistas, sempre teve como lócus as manifestações e ações diretas em geral. Diante da realidade, que nos ofereceu uma recente revolta de massas no Brasil, este elemento das Ruas se mantém vivo no imaginário coletivo. Tanto o é que todos os candidatos da extrema esquerda a extrema direita reivindicam o legado de junho. O TRE tenta capitalizar nas urnas a “vontade de mudança”, tentando estabelecer uma disputa de “urnas” versus “ruas”, tentando definir que o lugar da política e da decisão, tem dia, hora e local marcado, estes definidos pelas classes dominantes, que já venceram antes do “gongo soar”.
Para nós Socialistas Libertários, a política dos de baixo não se faz nas urnas, mas no cotidiano do protagonismo de classe e da ação direta. Falar disso no atual momento não significa mais remeter a abstrações ou ao passado “dos anos dourados dos movimentos de massa”, mas remeter a algo que evoca no imaginário coletivo um real exercício do poder do povo. Sem sermos ingênuos acreditando que só ir as ruas basta, sabemos que a falta de organização de base fragiliza os processos de mobilização e facilitam as tentativas de controle pelos dominantes. Deste modo, nossa aposta é nas Ruas como espaço privilegiado da ação política, mas também é a aposta na organização horizontal e de base que fortalece a ação direta, com uma agenda popular que delibera, encaminha e executa seu programa: um programa dos de baixo, que não delega poder a nenhum político de plantão. Ou se vota com os de cima, ou se organiza e se luta com os de baixo!

Coordenação Anarquista Brasileira – CAB
Setembro de 2014

sábado, 6 de setembro de 2014

Escoceces vão às urnas sobre independência: Cinco questões

No próximo dia 18 de setembro, os escoceses vão às ruas para decidir se permanecem no Reino Unido - junto com Inglaterra, País de Gales e Irlanda do Norte - ou se seguem o caminho da independência.
Ao longo de séculos de história, os escoceses lutaram ferrenhamente para manter-se como nação soberana. A atual união política com a Inglaterra, oficializada há 305 anos, ocorreu, em parte, em meio a uma séria crise financeira.
As pesquisas, que antes apontavam uma vitória confortável do "não" à separação, hoje sugerem uma disputa apertada. Entre os cinco milhões de escoceses, os que argumentam pela independência dizem que a economia, as políticas sociais e a criatividade escocesas floresceriam se o país tivesse mais autonomia.

Para o campo oposto, a Escócia está mais segura fazendo parte do Reino Unido. Muitos se contentariam com mais autonomia financeira e legal para o Parlamento escocês - já o Legislativo com maior grau de "poderes devolvidos" por Westminster à população local de Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales.
Dois debates acalorados entre o líder da campanha Better Together(Melhor Juntos), Alistair Darling, e o líder do movimento nacionalista escocês, Yes Scotland (Sim, Escócia), Alex Salmond, ainda não persuadiram totalmente os indecisos.

Salmond, líder do Partido Nacional Escocês, governista, e chefe do governo escocês, e Darling, representante do Partido Trabalhista britânico, deixaram de lado as amenidades e partiram para a ofensiva na tentativa de ganhar os eleitores.
A BBC Brasil preparou uma lista de cinco pontos que os leitores levarão em conta na hora de fazer sua escolha.

1. Moeda

A questão da moeda a ser adotada por uma Escócia independente tem atraído atenção na campanha do referendo. Nos debates, Darling indicou que caso a Escócia vote pela independência, não poderá manter a libra esterlina como moeda nacional.
Salmond diz que é perfeitamente possível para a Escócia continuar usando a libra, da mesma forma que outras nações usam o dólar sem a necessidade de pedir permissão ao governo americano. Entretanto, o descompasso entre as duas economias pode trazer consequências ruins para o novo país.
Por exemplo, no caso de um aumento na taxa de juros, que seria decidida apenas pelo Banco Central ao sul da fronteira, sem qualquer controle de Edimburgo.
Se abrir mão da libra, a autoridade monetária escocesa teria de provar aos investidores que tem competência para administrar sua própria moeda sem sair imprimindo dinheiro quando o governo decidisse gastar mais. Até que os mercados se convencessem disso, argumentam os céticos, a Escócia teria de pagar juros mais altos sobre empréstimos.
A campanha do "não" também alerta para a possibilidade de algumas empresas britânicas deixarem a Escócia. A Inglaterra continuaria sendo o maior parceiro econômico de uma Escócia independente; no entanto, variações na taxa de câmbio entre a libra e a nova moeda escocesa poderiam elevar os custos para as empresas, criando incentivos para que se mudassem.
O desejo de pertencer a um mercado maior (o inglês) ou, no caso de empresas do setor financeiro, de fazer parte do principal centro financeiro da Europa - Londres -, também poderia levar empresas a cruzar a fronteira.
Essas questões são consideradas por Salmond como uma forma de intimidar o povo escocês. Ele acredita que uma união monetária por meio da libra pode ser negociada entre as duas partes. Caso contrário, argumenta, a Escócia teria direito a recusar responsabilidade sobre uma fração da dívida britânica.
A Escócia poderia ainda adotar o euro, a moeda da União Europeia, mas o governo escocês já disse que não é favorável a essa opção.

2. Petróleo

As reservas de gás e petróleo do Mar do Norte são outro tema quentíssimo nesse referendo.
Salmond diz que uma Escócia independente reservaria um décimo da renda do petróleo - que a ala Yes Scotland calcula ser equivalente a £1 bilhão, ou US$ 1,6 bilhão - para criar um fundo de reserva que acumularia, em uma geração, £30 bilhões, quase US$ 50 bilhões.
O primeiro-ministro britânico, David Cameron, diz que a exploração do petróleo no Mar do Norte tem sido uma história de sucesso para a Grã-Bretanha. Mas nesse momento, em que a extração vai se tornando mais difícil, é importante que a indústria do petróleo possa se apoiar nos "ombros largos" do Reino Unido, argumenta.
Parte do problema é que as reservas de petróleo não são renováveis, e não há consenso, entre especialistas, em relação à quantidade de petróleo que ainda resta na região.
O governo britânico prevê que os impostos arrecadados com o petróleo vão cair de £6 bilhões em 2012-13 para £3,5 bilhões em 2018-19.
O governo escocês calcula que mais de 90% dos £6 bilhões arrecadados vieram de águas escocesas. As previsões de renda do "setor escocês" em 2018-19 variam entre £3,2 bilhões e £8 bilhões.
Previsões desse tipo são complicadas. Elas levam em conta a quantidade extraída de petróleo e gás, os preços globais, índices de impostos e flutuações na taxa de câmbio entre a libra e o dólar.
Alguns especialistas creem que os números escoceses estejam superestimados em até 60%. Outros, que os ganhos escoceses futuros podem ser seis vezes maiores do que os britânicos estimam. A dúvida não facilita uma decisão por parte do eleitorado.

3. Fronteiras

Declarações de que a fronteira entre os dois países teria de ser controlada caso a Escócia se tornasse independente também têm gerado discussões.
A polêmica resulta das posições de Salmond em relação à imigração. Ele espera aumentar a entrada de imigrantes na Escócia em 10% - de 22 mil para 24 mil pessoas por ano - para expandir a força de trabalho e, dessa forma, contribuir para financiar a aposentadoria dos escoceses.
O chefe do governo escocês argumenta que uma Escócia independente não precisaria de postos de controle na fronteira, já que o país continuaria a integrar a área de transito livre de que fazem parte o restante do Reino Unido, a República da Irlanda, a Ilha de Man e as ilhas no Canal da Mancha.
Atualmente, Reino Unido e República da Irlanda não fazem parte do chamado acordo de Schengen, que permite trânsito livre, sem passaporte, entre vários países europeus.
A ministra do Interior britânica, Theresa May, disse considerar a possibilidade de "algum tipo de controle de fronteira". Ed Miliband, líder do Partido Trabalhista, disse que um governo trabalhista também consideraria a criação de postos na fronteira se a Escócia optasse pela independência.
A preocupação é que as regras de imigração em cada lado da fronteira sejam diferentes, servindo de incentivo para imigrantes ilegais desembarcarem na Escócia e para então se deslocarem para a Inglaterra.
Além disso, existe a questão da entrada ou não da Escócia na União Europeia. Analistas acreditam que o novo país muito provavelmente teria de solicitar sua entrada na União Europeia, em cujo caso talvez fosse obrigada a assinar o acordo de Schengen.
Se isto acontecer, Escócia e o país ao sul da fronteira teriam regras migratórias diferentes, implicando a necessidade de algum tipo de controle fronteiriço.
Entre as questões que mais preocupam os eleitores britânicos, a imigração só perde em importância para o tópico economia, segundo pesquisas de opinião.

4. A União Europeia

A questão da entrada na UE não se refere apenas às regras migratórias. A dúvida é se uma Escócia independente teria de negociar sua participação no bloco como país integrante ou partindo do zero, como país novato.
Para o Yes Scotland, a negociação se daria pela continuidade do status atual; a ala Better Together diz que a Escócia teria de sair da EU e depois requisitar admissão, o que levaria anos.
O atual presidente da Comissão Europeia, o português José Manuel Barroso, diz que seria dificílimo para a Escócia ser admitida na UE. Mas intelectuais como a acadêmica da Universidade de Oxford Sionaidh Douglas-Scott creem que o processo seria relativamente simples.
Para o Reino Unido, a questão é importante porque influenciaria as suas relações com o novo país em áreas como direitos humanos e comércio exterior.

5. Defesa nuclear

Outro tema controverso é o sistema britânico de defesa nuclear - atualmente composto de quatro submarinos carregados com os mísseis Trident. O programa está instalado na Base Naval de Clyde, na costa oeste da Escócia, desde a década de 1960.
O governo britânico diz que não tem planos de transferir o sistema caso a Escócia vote pela independência.
Tanto os partidos Conservador quanto Trabalhista britânicos querem que o sistema atual seja substituído por outro, igual, no final da década de 2020. Liberal Democratas querem diminuir o número de submarinos para três.
No entanto, o governo escocês diz que, se a Escócia votar "sim", o programa Trident será removido quando as armas forem recolhidas, em 2020. Salmond propõe incluir em uma Constituição a proibição à instalação de armas nucleares no país.
Alguns analistas acreditam que a independência da Escócia equivaleria a uma "declaração unilateral de desarmamento" britânica.

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/09/140828_escocia_independencia_mv.shtml

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Ritmo "incrível" da perda de gelo polar alarma cientistas

Satélite europeu mostra que as camadas de gelo estão encolhendo 500 quilômetros cúbicos por ano na Antártida e na Groenlândia
por The Observer — publicado 01/09/2014 03:29, última modificação 01/09/2014 17:34


As duas maiores camadas de gelo do planeta – na Groenlândia e na Antártida – estão encolhendo a um ritmo surpreendente de 500 quilômetros cúbicos por ano. Essa é a descoberta feita por cientistas usando dados da sonda europeia CryoSat-2, que mede a espessura das camadas de gelo e geleiras da Terra desde seu lançamento pela Agência Espacial Europeia em 2010.
Ainda mais alarmante é que a perda de gelo nessas regiões mais que duplicou desde 2009, revelando o drástico impacto que a mudança climática começa a ter em nosso mundo.
Os pesquisadores, sediados no Instituto Alfred Wegener do Centro Helmholtz de Pesquisa Polar e Marinha, na Alemanha, usaram 200 milhões de pontos de dados em toda a Antártida e 14,3 milhões na Groenlândia, todos coletados pelo CryoSat para estudar como as camadas de gelo se modificaram nos últimos três anos. O satélite possui um altímetro de grande precisão, que envia pulsos de radar curtos refletidos na superfície do gelo. Ao medir o tempo que isso leva, pode-se calcular a altura do gelo abaixo da espaçonave.
Descobriu-se pelas quedas médias de elevação detectadas pelo satélite que a Groenlândia sozinha está perdendo cerca de 375 quilômetros cúbicos por ano, enquanto na Antártida o volume de perda anual é de aproximadamente 125 quilômetros cúbicos. Esses índices – descritos como "incríveis" por um pesquisador – são os maiores observados desde que começaram os registros de altimetria por satélite, há de 20 anos, e significam que a contribuição anual das camadas de gelo para a elevação do nível do mar duplicou desde 2009, segundo os pesquisadores, em um trabalho publicado em Cryosphere na edição de agosto.
"Descobrimos que desde 2009 a perda de volume na Groenlândia aumentou por um fator aproximado de 2, e a camada de gelo na Antártida Ocidental por um fator de 3", disse a glaciologista Angelika Humbert, um dos autores do estudo. "Tanto a camada de gelo na Antártida Ocidental quanto na Península Antártida, no extremo-oeste, estão rapidamente perdendo volume. Em comparação, o leste da Antártida ganha volume, mas em um ritmo moderado que não compensa as perdas do outro lado do continente."
Os pesquisadores disseram ter detectado as maiores mudanças de elevação do mar causadas por perda de gelo na geleira Jakobshavn, na Groenlândia – recentemente, descobriu-se que ela perde gelo para os oceanos mais depressa do que qualquer outra geleira –, e na geleira da Ilha Pine, que, como outras geleiras da Antártida Ocidental, vem diminuindo rapidamente nos últimos anos.
A descoberta dessas perdas de gelo é especialmente notável e constitui mais um golpe para as teorias dos que negam a mudança climática, afirmando que a rápida perda de gelo no Ártico que se observa atualmente é compensada por um aumento correspondente na Antártida. As medições do CryoSat mostram que a Antártida – embora consideravelmente mais fria que o Ártico por causa de sua elevação média muito maior – não está ganhando qualquer gelo. Na verdade, de modo geral perde volumes consideráveis, e no caso da Antártida Ocidental o faz em ritmo alarmante.
Esse ponto foi salientado por Mark Drinkwater, cientista da missão CryoSat da Agência Espacial Europeia. "Esses resultados oferecem uma nova perspectiva crítica sobre o recente impacto da mudança climática nas grandes camadas de gelo. Isto é particularmente evidente em partes da Península Antártida, onde algumas características notáveis podem comprovar o impacto do aquecimento constante da península em índices muitas vezes maiores que a média global."
http://www.cartacapital.com.br/sustentabilidade/ritmo-incrivel-da-perda-de-gelo-polar-alarma-cientistas-2204.html