Estranho como só agora descobriram suas artimanhas
16/07/2009
Editorial ed. 333
Todos os dias a imprensa corporativa vem denunciando alguma falcatrua do senhor José Ribamar Sarney como se ele não tivesse sido eleito presidente do Senado pela maioria dos seus “ingênuos coleguinhas”. Estranho como só agora descobriram suas artimanhas. Caso ele tivesse declarado apoio à candidatura de José Serra, certamente a chamada grande mídia não se interessaria por suas qualidades.
Vamos lembrar algumas, que eles sempre esconderam.
Afinal ele está, desde 1962, em cargos públicos adotando as mesmas práticas. Lá no início de sua carreira patrocinou a maior grilagem de terras públicas do Maranhão. Basta ler o livro do Padre Victor Angelim, editado pelos franciscanos na Editora Vozes. Depois disso, assumiu de corpo e alma a ditadura civil-militar. Construiu a Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido do regime, no Nordeste. Então, de simples oligarca rural e regional, montou um império de comunicação. Controla jornais, rádios e, claro, é sócio da Globo. Seu afilhado, o ministro Edison Lobão (Minas e Energia) é acionista do SBT.
Ao ver cair a ditadura, Sarney mudou de lado para continuar no poder. Virou presidente da Republica, só Deus sabe como.
Em São Luís, apropriou-se do Convento das Mercês, patrimônio histórico público, e colocou em nome de sua fundação, a qual preside. E lá pretende ser enterrado. O mausoléu e a lápide já estão prontos para visitação do público. Fez isso tudo com dinheiro público, inclusive da Petrobras.
Depois, desgastado com o pior governo que esse país já teve, foi candidatar-se senador pelo Amapá, Estado que jamais havia visitado, quanto mais morado. E a Justiça eleitoral aceitou sua candidatura.
Lá fez carreira com seus métodos. Conseguiu que cupinchas nos tribunais hipócritas cassassem o governador João Capiberibe do cargo de senador, para abrir espaço para um outro afilhado seu. Alegação: o senador Capiberibe teria usado R$ 36 para comprar o voto de duas empregadas domésticas, que negaram a acusação nos tribunais.
Em abril deste ano, conseguiu tirar do cargo, após mover pedras e montanhas, o governador legitimamente eleito no Maranhão, Jackson Lago. Chegou a ameaçar publicamente pelos jornais o advogado do governador, por ser seu afilhado político. A acusação que conseguiu tirar o cargo de Lago: participou de um comício em Imperatriz (MA), em abril de 2006, fora de época eleitoral, junto com o então governador, que era afilhado do Sarney, mas o havia traído. E, finalmente, sua filha pode retornar ao Palácio dos Leões, sede do governo estadual em São Luís.
Voltou a ser presidente do Senado duas vezes. Agora, na última, com apoio de senadores do PSB, PT etc., mesmo contra a candidatura do senador do PT do Acre, Tião Vianna.
Os tais atos secretos da mesa diretora do Senado foram instituídos desde sua primeira gestão, há seis anos. Milhares de funcionários foram contratados. O senado gasta ao redor de R$ 2 bilhões por ano. Gasta mais do que a maioria dos ministérios. Em que? Algum cidadão brasileiro é beneficiado?
O velho senador sofre agora de falta de memória. Esqueceu alguns seguranças do Senado protegendo sua casa em São Luís. Esqueceu de colocar na declaração de renda uma pequena casa de R$ 4 milhões que possui em Brasília. Esqueceu que mora lá e seguiu cobrando ajuda de aluguel do Senado. Esqueceu de avisar os demais correntistas e retirou R$ 2 milhões de suas contas do Banco Santos, 12 horas antes do Banco Central fechá-lo.
Há no Maranhão mais de 40 edifícios de órgãos públicos que levam nomes da família e inclusive um colégio estadual com nome dado a sua bisneta, quando a menina tinha apenas 5 anos. Já o Tribunal de Contas do Estado, que deveria fiscalizar isso tudo, se chama Governadora Roseana Sarney. Tudo isso é proibido pela Constituição. Mas nenhum jornalão paulista ou carioca criticou.
Sarney é a cara da classe dominante brasileira. A cara dele é a cara de todos os exploradores do povo brasileiro, que, no entanto, são mais “vivos” e hipócritas.
Muita gente do PT e do governo estão agora defendendo o nobre senador. Dizem ser uma pessoa de curriculum invejável. Fazem bem. Por duas razões: primeiro, porque ajudam o povo brasileiro a entender melhor como funciona a “democracia burguesa”, sempre a serviço de uma minoria; segundo, relembram o velho ditado: “Diga-me com quem andas e te direi quem és!”
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