sexta-feira, 11 de maio de 2012

Bolívia e Argentina dividem opiniões sobre impacto de nacionalizações

A nacionalização de uma companhia de energia na Bolívia dias depois da expropriação da petroleira YPF pela Argentina divide especialistas sobre a possibilidade de que uma onda de medidas do tipo esteja em curso na região.
Na Bolívia, o presidente Evo Morales anunciou a nacionalização da empresa elétrica TDE (controlada pela Red Eléctrica Española) durante as comemorações de 1º de maio. Dias antes, a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, já havia atraído holofotes internacionais para a região ao anunciar a expropriação da YPF, controlada pela também espanhola Repsol.

Para alguns analistas, as medidas sugerem um risco claro de novas nacionalizações. Para outros, tratam-se de casos isolados que, ainda assim, podem ter implicações sobre os negócios da região, em razão de uma eventual insegurança jurídica criada pelos eventos.
José Maria Román Porta, analista da Fundación Ciudadania y Valores, entidade com sede em Madri, diz que a repercussão foi negativa sobretudo na Espanha, já que o controle acionário de ambas empresas é de investidores espanhois.
"São empresas que formam parte da estratégia e da independência energética da Espanha", disse.
"No caso da Bolívia, a repercussão política é mais relevante porque a empresa tem participação do governo espanhol, e isso implica diretamente o Estado", afirmou.
O volume de investimentos na Bolívia, no entanto, é significativamente menor do que o empreendido na Argentina. Outra diferença foi a retórica empregada no processo. Enquanto Cristina Kirchner adotou um discurso mais agressivo, Morales chegou a comunicar ao governo espanhol a nacionalização da TDE.

Crise

O correspondente da BBC no Cone Sul, Vladimir Hernández, diz que existe entre alguns setores a impressão de que as empresas espanholas estavam lidando com a crise aumentando a parcela de lucros enviada para a Espanha de suas empresas na região.
"Em 2011, a diretoria da Repsol - YPF aprovou o envio de 90% de seus lucros para os acionistas e isso foi duramente criticado pelo governo argentino que considerou que mais deveria ser investido onde se exploravam os recursos naturais", diz Hernández.
Para analistas, as nacionalizações sinalizam insegurança jurídica ao ocorrerem duas vezes seguidas na mesma região.
"Há muita incerteza no futuro econômico mesmo que o volume de negócios seja pequeno. A receita que tinha a Red Eléctrica Española e o volume de negócios que representava não eram grandes, mas se cria um temor ante a uma possível onda de nacionalizações", diz Román Porta.

Sem alarmismo

No entanto, embora a Espanha tenha classificado a nacionalização boliviana de "negativa", o ministro espanhol de Economia e Competitividade, Luis de Guindos, disse que a decisão da Bolívia não tem relação com a tomada na Argentina.
"Não acreditamos em absoluto que exista uma situação generalizada, são situações independentes", disse ele.
Para o país que nacionaliza, o efeito, segundo o analista em relações internacionais Andrés Serbin, não é necessariamente "negativo".
Ele cita o exemplo da PDVSA (Petróleos de Venezuela), nacionalizada em 1976.
"Ao manter seu profissionalismo, se tornou uma das maiores petroleiras do mundo", diz Serbin.
O jornalista da BBC diz que, "embora as nacionalizações tenham gerado temor, grupos de empresários estrangeiros na Argentina consideraram a nacionalização da YPF como um acontecimento pontual e não uma ameaça generalizada".
De fato, após anunciar a estatização da empresa elétrica, o presidente boliviano, Evo Morales, inaugurou uma usina de gás e elogiou a espanhola Repsol.
"Quero saudar o presidente da Repsol (Antonio Brufau, presente na ocasião), sua presença, seu esforço, seu trabalho, como sócios", disse ele, de acordo com a agência de notícias EFE.
"Reconheço e reconhecemos a liderança da Repsol, uma das maiores empresas internacionais do mundo, que sempre será respeitada como sócia", disse Morales.

 http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/05/120502_bolivia_nacionaliza_rc.shtml

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