sexta-feira, 13 de abril de 2012

Uma Solução rápida para a crise de alimentos

Controlar os biocombustíveis pode frear a alta de preços
por Timothy Searchinger
Quando o preço dos alimentos aumentou vertiginosamente, em 2007, e atingiu um pico no fim de 2008, os políticos e a imprensa depreciaram publicamente seu impacto sobre 1 bilhão de pessoas que já passava fome. Dois anos de excelentes condições climáticas para o crescimento de lavouras e boas safras deram alívio temporário, mas os preços mais uma vez atingiram níveis estratosféricos. Desta vez, as pessoas parecem menos atentas.

O público, em geral, tem memória curta quando se trata de problemas que afligem os mais necessitados no mundo, mas os especialistas, até certo ponto, também estão censurando. Os economistas fizeram tanto estardalhaço sobre a complexidade da crise de alimentos que ficou a impressão de que não existe solução imediata para esse caso, transformando-o num daqueles problemas insolúveis, como pobreza e saúde, que são fáceis de ocultar no fundo da
memória. Essa visão está equivocada.

Certamente reduzir a fome em um mundo que terá mais de 9 bilhões de pessoas por volta de 2050 é um desafio complexo e requer um amplo espectro de soluções. Mas esse é um problema de longo prazo, separado do rápido aumento no preço dos alimentos. Altos preços do petróleo e o dólar fraco tiveram sua parte na elevação dos custos de produção, mas não são suficientes para explicar por que os preços dos alimentos no atacado dobraram desde 2004.

O aumento de preços atual reflete uma deficiência na oferta para atender à demanda. A alta nos lucros do setor agrícola e no preço da terra sustentam essa explicação. Mas qual a razão desse desequilíbrio?

A produção agrícola não está mais lenta: a produção total mundial de grãos no ano passado foi a terceira mais alta da história. Na verdade, ela vem crescendo desde 2004 a taxas que, em média, ultrapassam a tendência de longo prazo desde 1980 e se ajusta aproximadamente às tendências das últimas décadas. Mesmo com o clima desfavorável da Rússia e do norte da Austrália, no ano passado, a produção média global das colheitas foi apenas 1% abaixo do que as tendências indicam: uma lacuna modesta.

O problema está, portanto, no crescimento rápido da demanda. O senso comum tem apontado a Ásia como a fonte de consumo crescente, mas não é bem assim. A China, de alguma forma, contribuiu para mercados mais fechados nos últimos anos, importando mais soja, e reduziu a exportação de grãos para aumentar seus estoques, o que poderia servir de alerta para os tomadores de decisão no futuro. É verdade que o consumo na China e na Índia vem aumentando, mas não mais rapidamente quanto nas décadas passadas. De maneira geral, a receita mais alta da Ásia não foi a responsável pelo aumento na demanda por alimentos.

Esse papel deve ser atribuído aos biocombustíveis. Desde 2004 esses produtos, que dependem de lavouras, praticamente dobraram a taxa de crescimento da demanda global de grãos e açúcar. E aumentaram a demanda anual da produção de óleos vegetais em cerca de 40%. Até a mandioca vem substituindo outras lavouras na Tailândia, que a China utiliza na produção de etanol.

A demanda crescente de milho, trigo, soja, açúcar, óleos vegetais e mandioca faz essas lavouras competirem por maiores áreas de cultivo, pelo menos até os fazendeiros terem tempo de arar florestas e pastagens, o que significa que a restrição ao mercado de uma lavoura se traduz na restrição a outros mercados. Além disso, a agricultura global pode manter o crescimento da demanda se o clima for favorável, mas até a moderadamente fraca estação de crescimento de 2010 foi sufi ciente para forçar uma queda nos estoques de grãos fora da China, o que fez os estoques globais diminuírem muito. Baixas reservas e demanda crescente, tanto para alimentos como para biocombustíveis, aumentam o risco de maior redução nos suprimentos, elevando os preços a níveis estratosféricos.

Os articulistas também costumam juntar todas as fontes de demanda de safras sem reconhecer seus diferentes pesos morais e seu potencial de controle. Nossa primeira obrigação é alimentar quem tem fome. Os biocombustíveis estão minando aos poucos nossa capacidade de fazer isso. Os governos podem frear os padrões recorrentes de crises de alimentos revendo suas demandas cada vez maiores de biocombustíveis.

Timothy Searchinger é pesquisador bolsista da Princeton University.

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