A estratégia das guerras imperiais dos EUA implica uma colaboração cada vez mais profunda entre a CIA e o Pentágono
29/07/2011
Miguel Urbano Rodrigues
O general David Petraeus despediu-se em Kabul das tropas de ocupação dos EUA com um discurso cauteloso. Vai assumir a direção da CIA.
A cerimônia quase coincidiu com a despedida nos EUA do diretor da CIA, Leon Panetta, transferido para secretário da Defesa.
A mídia estadunidense derramou elogios sobre ambos.
Petraeus é apresentado como um estratego muito dotado, um soldado-intelectual, quase um pensador. Estudou em Princeton, é mestre em Relações Internacionais, lecionou em academias militares e escreveu ensaios e livros de que muitos falam e poucos leram. Em artigos apologéticos chamam-lhe “o pacificador do Iraque”, não obstante a resistência à ocupação estadunidense aumentar a cada mês naquele país.
Leo Panetta foi nomeado para dirigir o Pentágono como prêmio pelo papel que desempenhou como cérebro e coordenador da operação concebida pela CIA para assassinar Bin Laden numa cidade do Paquistão.
Quando Petraeus assumiu o comando no Afeganistão após o afastamento do general Stanley Mc Chrystal – demitido por criticar Obama - fixou dois objetivos principais: ganhar a guerra e criar um exército afegão capaz de “garantir a segurança” no país. Nem um nem outro foram atingidos.
Transcorridos dois anos, as áreas sob controle da Resistência aumentaram e os atentados terroristas são mais frequentes.
Respondendo a Petraeus, o seu substituto, general John Allen, pronunciou um discurso que caiu mal em Washington. Aconselhou civis e militares a não alimentarem ilusões. Esclareceu que “o terrorismo no pais é uma realidade” e o horizonte se apresenta carregado de ameaças e desafios.
Quanto ao exército afegão, a esperança de Petraeus também não se confirmou. A realidade desmentiu as previsões. Até o The New York Times reconhece que os soldados fogem ao combate, as deserções aumentam e a infiltração dos talibãs alastra, atingindo os comandos. O assassinato recente em Kandahar do irmão de Hamid Karzai por um homem da sua confiança comprovou essa evidência.
Nos comentários à ida de Petraeus para a CIA e de Panetta para secretário da Defesa, a mídia de referência estadunidense chama a atenção para o fato de a decisão do presidente Obama tornar transparente a íntima colaboração hoje existente entre a CIA e o Pentágono.
No Afeganistão e no Paquistão a maioria dos bombardeios são agora realizados pelos drones, os aviões sem piloto. A guerra está a assumir um caráter cada vez mais eletrônico. É a CIA a partir dos EUA quem define quase sempre os alvos a atingir. As operações são montadas em computadores, a milhares de quilômetros de distância das aldeias atacadas. O balanço dos “erros” é pesado: centenas de camponeses, mulheres e crianças têm sido abatidos nesses bombardeios criminosos.
Os governos afegão e paquistanês, refletindo a pressão popular, sentem a necessidade de denunciar essas chacinas. Porta-vozes do Exército e da Força Aérea, rotineiramente, lamentam e anunciam a abertura de inquéritos rigorosos. Mas não há notícia de qualquer punição.
O general David Petraeus declarou que pretende aperfeiçoar o sistema. Como? Numa entrevista à Newsweek informou que vai reforçar a contratação de agentes e informadores da CIA em países da Ásia Central.
Entretanto, Obama aproveita todas as oportunidades para afirmar que os EUA vão honrar o compromisso de retirar as suas tropas do Afeganistão até fi nal do próximo ano, transferindo as “suas responsabilidades” para as forças armadas daquele país. Não diz, porém, que os soldados norte-americanos estão a ser substituídos em ritmo acelerado por mercenários recrutados entre a escória social estadunidense e latino-americana.
A nomeação do general Petraeus para diretor da CIA e a de Leon Panetta para secretário da Defesa confirmam o óbvio. A estratégia das guerras imperiais dos EUA implica uma colaboração cada vez mais profunda entre a CIA e o Pentágono. Com a total aprovação do Presidente Barack Obama, Premio Nobel da Paz.
Miguel Urbano Rodrigues é jornalista e escritor português.
Texto originalmente publicado na edição 439 do Brasil de Fato.
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