quinta-feira, 2 de abril de 2009

Queda da população pode afetar economia da Rússia

O declínio acentuado da população russa poderá ter graves consequências nas áreas econômica e de defesa e ameaçar o crescimento do país na próxima década, segundo a opinião de especialistas ouvidos pela BBC Brasil.

De acordo com Sergei Zakharov, do Instituto de Demografia da Higher School of Economics, em Moscou, a Rússia de 2020 estará sofrendo os efeitos da redução da sua população. Em 2015 a Rússia já poderá ter oito milhões de pessoas na força de trabalho a menos do que tem hoje e, no Exército, a redução poderá ser de até um milhão até 2050.

"Os números são assustadores", diz Zakharov.

Um estudo patrocinado pelas Nações Unidas e divulgado ano passado por especialistas em demografia mostrou que a população do país poderá encolher dos atuais 142 milhões de pessoas para 100 milhões até 2050.

Natalidade e mortalidade

Dois principais fatores explicam o declínio da população russa. O primeiro são as baixas taxas de natalidade registradas ao longo das últimas décadas, uma tendência observada em muitos países europeus e agravada na Rússia pelas dificuldades econômicas dos anos 90, quando o país sofreu a transição do comunismo para o capitalismo.

O segundo fator é a alta taxa de mortalidade, principalmente entre os homens em idade reprodutiva.

Segundo Zakharov, um em cada três russos morre antes de se aposentar e as causas mais comuns são externas, como alcoolismo, acidentes de trânsito e mortes por envenenamento, causadas por consumo de bebida alcoólica fabricada de forma clandestina.

De acordo com dados oficiais, o número de mortes superou o de nascimentos em 12 milhões de 1992 a 2007, uma perda compensada parcialmente pela chegada de 5,5 milhões de imigrantes no mesmo período.

A Rússia é um dos únicos países do mundo em que a expectativa de vida diminuiu desde os anos 60. De acordo com dados oficiais de 2006, os homens russos vivem em média 60 anos, 15 abaixo da média europeia. Para as mulheres, a expectativa de vida é de 72 anos.

Impactos

O encolhimento da população pode ter diversos impactos na economia russa. Economistas estimam que a redução da força de trabalho possa resultar na queda da produção econômica, causando um impacto direto no Produto Interno Bruto (PIB) do país.

Uma população em declínio também poderá afastar investidores internacionais, interessados no potencial do consumo interno.

"Onde o investidor prefere aplicar recursos? Na Índia ou na China, onde a renda per capita cresce junto com a população, ou na Rússia, onde a renda per capita vem crescendo, mas o mercado consumidor vem encolhendo?", indaga Markus Jaeger, economista do Deutsche Bank.

A previdência social também poderá sofrer com a crise demográfica, afirma Jaeger.

"Se a força de trabalho não for renovada, não haverá pessoas suficientes para gerar a renda necessária para pagas as pensões de aposentados. Isso pode prejudicar as políticas fiscais e econômicas e gerar tensões políticas", estima o economista.

Ainda segundo Jaeger, em termos demográficos a Rússia está na pior posição em relação aos outros países do BRIC.

Ele detalha que na Índia a população vem crescendo rapidamente, enquanto na China a força de trabalho continuará expandindo até 2015, data a partir da qual a população começará a envelhecer, mas não deverá declinar. Já o Brasil, segundo ele, se beneficiará de um aumento de 20% na força de trabalho até 2025.

"A Rússia, infelizmente, poderá sofrer um colapso populacional", acredita.

Medidas

Para tentar reverter o declínio da população, o governo vem oferecendo, desde 2006, estímulos financeiros para famílias que decidirem ter o segundo filho.

A estratégia teve resultados imediatos, com aumento de 130 mil nascimentos de 2006 para 2007. Para Sergei Zakharov, os resultados são temporários e serão seguidos, segundo ele, por uma "queda catastrófica na taxa de natalidade".

Outra estratégia do governo é estimular a imigração. Em 2006, o governo do ex-presidente e atual primeiro-ministro, Vladmir Putin, implementou um programa que visa a atrair para a Rússia imigrantes de etnia eslava que falem russo.

O presidente do Centro de Pesquisa sobre Problemas de População, da Universidade Estadual de Moscou, Valery Yelizarov, teme que a imigração cause tensões sociais na Rússia.

"Os russos não gostam de estrangeiros, não gostam de se misturar com pessoas de outras culturas e credos", afirma ele. "E, com a crise financeira deixando milhões de russos sem emprego, os imigrantes serão cada vez mais alvos de ataques xenófobos", acrescenta.

Para Yelizarov, o governo deveria ampliar o programa de benefícios às famílias e agir para diminuir os índices de mortalidade.

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