quinta-feira, 30 de abril de 2009

Vulcanismo

Vulcão é uma estrutura geológica criada quando o magma, gases e partículas quentes (como cinzas) escapam para a superfície terrestre. Eles ejectam altas quantidades de poeira, gases e aerossóis na atmosfera, podendo causar resfriamento climático temporário. São frequentemente considerados causadores de poluição natural. Tipicamente, os vulcões apresentam formato cónico e montanhoso.

A erupção de um vulcão pode resultar num grave desastre natural, por vezes de consequências planetárias. Assim como outros desastres dessa natureza, as erupções são imprevisíveis e causam danos indiscriminados. Entre outras coisas, tendem a desvalorizar os imóveis localizados em suas vizinhanças, prejudicar o turismo e consumir a renda pública e privada em reconstruções. Na Terra, os vulcões tendem formar-se junto das margens das placas tectónicas. No entanto, existem excepções quando os vulcões ocorrem em zonas chamadas de hot spots (pontos quentes). Por outro lado, os arredores de vulcões, formados de lava arrefecida, tendem a ser compostos de solos bastante férteis para a agricultura.

A palavra "vulcão" deriva do nome do deus do fogo na mitologia romana Vulcano. A ciência que estuda os vulcões designa-se por vulcanologia.

Tipos de vulcão

Uma das formas de classificação dos vulcões é através do tipo de material que é eruptido, o que afecta a forma do vulcão. Se o magma eruptido contém uma elevada percentagem em sílica (superior a 65%) a lava é chamada de félsica ou "ácida" e tem a tendência de ser muito viscosa (pouco fluida) e por isso solidifica rapidamente. Os vulcões com este tipo de lava têm tendência a explodir devido ao facto da lava facilmente obstruir a chaminé vulcânica. O Monte Pelée na Martinica é um exemplo de um vulcão deste tipo.
Se, por outro lado, o magma é relativamente pobre em sílica (conteúdo inferior a 52%) é chamado de máfico ou "básico" e causa erupções de lavas muito fluidas capazes de escorrer por longas distâncias. Um bom exemplo de uma escoada lávica máfica é a do Grande Þjórsárhraun (Thjórsárhraun) originada por uma fissura eruptiva quase no centro geográfico da Islândia há cerca de 8000 anos. Esta escoada percorreu cerca de 130 quilómetros até ao mar e cobriu uma área com 800 km².
  • Vulcão-escudo: o Havaí e a Islândia são exemplos de locais onde são encontrados vulcões que expelem enormes quantidades de lava que gradualmente constroem uma montanha larga com o perfil de um escudo. As escoadas lávicas destes vulcões são geralmente muito quentes e fluidas, o que contribui para ocorrerem escoadas longas. O maior vulcão deste tipo na Terra é o Mauna Loa, no Havaí, com 9000 m de altura (assenta no fundo do mar) e 120 km de diâmetro. O Monte Olimpus em Marte é um vulcão-escudo e também a maior montanha do sistema solar.
  • Cones de escórias: é o tipo mais simples e mais comum de vulcões. Esses vulcões são relativamente pequenos, com alturas geralmente menores que 300 metros de altura. Formam-se pela erupção de magmas de baixa viscosidade, com composições basálticas ou intermediárias.
  • Estratovulcões: também designados de "compostos", são grandes edifícios vulcânicos com longa atividade, forma geral cônica, normalmente com uma pequena cratera no cume e flancos íngremes, construídos pela intercalação de fluxos de lava e produtos piroclásticos, emitidos por uma ou mais condutas, e que podem ser pontuados ao longo do tempo por episódios de colapsos parciais do cone, reconstrução e mudanças da localização das condutas. Alguns dos exemplos de vulcões deste tipo são o Teide na Espanha, o Monte Fuji no Japão, o Cotopaxi no Equador, o Vulcão Mayon nas Filipinas e o Monte Rainier nos EUA. Por outro lado, esses edifícios vulcânicos são os mais mortíferos da Terra, envolvendo a perda da vida de aproximadamente 264000 pessoas desde o ano de 1500.
  • Caldeiras ressurgentes: são as maiores estruturas vulcânicas da Terra, possuindo diâmetros que variam entre 15 e 100 km². À parte de seu grande tamanho, caldeiras ressurgentes são amplas depressões topográficas com uma massa elevada central. Exemplos dessas estruturas são a Valles (EUA), Yellowstone (EUA) e Cerro Galan (Argentina).
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quinta-feira, 23 de abril de 2009

Big One: A Califórnia vai tremer

Em 1906, um terremoto arrasou SãoFrancisco. Agora, dizem, o Big Oneperiga voltar, ainda mais devastador – epoderá mandar Los Angeles pelos ares
Sempre se falou do risco de o Estado americano da Califórnia enfrentar um gigantesco terremoto, o “Big One”, que dividiria a região ao meio. A ameaça deve-se à sua localização sobre uma falha geológica, de 1,3 mil quilômetros de extensão, batizada San Andreas. Nos últimos dias, o temor do Big One cresceu. O Instituto de Oceonagrafia Scripps, nos EUA, constatou que essa falha geológica, um fenômeno natural que se movimenta de forma imprevisível a 15 quilômetros abaixo da superfície, “vive um momento de tensão inigualável se comparado a qualquer outra ocasião”. Em sua extremidade sul, sob Los Angeles, não houve nenhum movimento drástico nos últimos tempos. Isso é bom? Não. Eis o paradoxo do terremoto: é justamente esse sossego, essa contida panela de pressão, que dá aos especialistas a certeza de que a Califórnia vai ruir. “A quietude aumenta a probabilidade de ocorrer um evento sismológico, essa energia represada é mais que suficiente para causar o Big One”, diz o cientistaYuri Fialko, autor do mais detalhado estudo sobre o San Andreas. Em 1906, foi esse mesmo fenômeno geológico o responsável por reduzir a pó a cidade de São Francisco. Em 1994, Los Angeles sofreu 20 tremores consecutivos que abalaram a estrutura de edifícios em Hollywood e incendiaram casas no Vale San Fernando. Agora, segundo os geólogos, que nada mais fazem na vida a não ser estudar o San Andreas e tentar cravar uma data para o Big One, com a finalidade de que o governo americano e a defesa civil se previnam e protejam a Califórnia, do subsolo virá uma explosão que arremessará para os ares, a uma altura de mais de dez metros do chão, prédios, casas, árvores, pontes e viadutos. E pessoas.
No interior do nosso planeta, no ponto que os oceanógrafos chamam de “umbigo da Terra” e no qual se localiza a fronteira entre a crosta terrestre e os mantos de magma, há placas tectônicas que se encaixam como peças de um quebra-cabeça. Em algumas áreas do globo, essas placas deslizam umas sobre as outras e essa dança gera um atrito tão forte que empurra a crosta terrestre para cima – isso é um terremoto. Esse é o caso do San Andreas que está entre duas dessas placas tectônicas: a do Pacífico e a Norte-Americana.
O San Andreas foi analisado de cima a baixo com imagens de alta qualidade obtidas através de satélites que mediram os abalos sísmicos entre 1985 e 2005. Quando o pesquisador Fialko cruzou as imagens do defeito geológico com dados de seus últimos movimentos, percebeu o quanto um lado da placa da América do Norte vem deslizando além da placa do Pacífico. Ou seja: elas estão entre seis e oito metros, aquém da posição em que deveriam estar. Essa dimensão de deslizamento é equivalente a um devastador terremoto de magnitude 8 na escala Richter (a escala vai até 9 pontos). Só para efeito de comparação, em 1906 a falha de San Andreas gerou tremores menos intensos de 7,8 pontos e eles foram capazes de desmoronar São Francisco como se desmantela um castelo de cartas. A “Paris das Américas” estava no auge do desenvolvimento econômico e urbano quando tudo o que estava sobre o seu solo foi lançado a uma distância de seis metros. Dos 800 mil habitantes, cerca de três mil morreram e milhares ficaram feridos. Rachaduras engoliram postes e edifícios. No lugar da bela e pujante São Francisco, ficou uma tétrica cidade fantasma. Os abalos sísmicos na falha de San Andreas acontecem em ciclos e, pelos cálculos dos cientistas, o Big One está atrasado, o que aumenta a tensão dos que residem na região de Palm Springs, San Bernardino e Riverside. Finalmente, o medo também sobe de escala porque foi descoberto um ramo do sistema meridional de San Andreas, chamado Falha San Jacinto, que está se deslocando duas vezes mais rapidamente do que se acreditava. “É o próprio sistema nervoso central dessa região”, diz Yuri Fialko. “E esse sistema nervoso está sob pressão e muito abalado."
25 mil bombas atômicas promovem uma destruição semelhante ao Big One.

Mais de 70 morrem no dia mais violento do ano no Iraque

A polícia do Iraque disse que dois atentados mataram pelo menos 76 pessoas no país nesta quinta-feira, o dia mais violento no país em mais de um ano.
No mais violento deles, pelo menos 48 pessoas morreram e 63 ficaram feridas numa explosão provocada por um homem-bomba em um restaurante próximo a Baquba, na província de Diyala, a nordeste de Bagdá. O restaurante estava lotado com peregrinos xiitas, iranianos e iraquianos.
Outro ataque, no centro de Bagdá, deixou 28 mortos. Um homem-bomba teria se infiltrado em um posto onde policiais distribuíam comida a pessoas sem-teto.
Segundo autoridades na capital iraquiana, as famílias que estavam sendo atendidas no momento do ataque ficaram sem suas casas devido ao conflito sectário que teve início no Iraque logo depois da invasão de 2003, liderada pelos Estados Unidos.
Pelo menos cinco crianças morreram neste ataque e mais de 50 pessoas ficaram feridas, segundo a polícia.

Al-Qaeda
Atentados desse tipo, pela sua violência, têm sido associados por analistas à rede extremista Al-Qaeda.
Os ataques aconteceram no mesmo dia em que um dos maiores nomes da rede no Iraque, Abu Omar Al-Baghdadi, pode ter sido capturado.
Integrantes do governo disseram que o capturado deve ser agora submetido a testes de DNA para confirmar sua identidade.
Baghdadi é considerado o chefe de uma entidade chamada Estado Islâmico no Iraque, que reúne vários grupos militantes.
No passado, os Estados Unidos disseram que Baghdadi poderia mesmo ser um personagem fictício.
Após alcançar relevância durante os primeiros anos da invasão comandada pelos EUA no Iraque, quando dominava cidades e regiões no país, a Al-Qaeda foi perdendo prestígio e diminuindo sua esfera de influência.
Em 2007, a rede começou a ser combatida dentro das próprias comunidades sunitas, cooptadas peles militares americanos. Em Bagdá e em outras partes do Iraque, houve uma queda forte no número de incidentes de violência sectária ao longo do último ano.
No entanto, correspondentes dizem que ataques como os registrados nesta quinta-feira estão gerando dúvidas sobre a segurança no Iraque depois que as tropas americanas deixarem o país.
A retirada total das tropas lideradas pelos Estados Unidos está prevista para 2011.

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quinta-feira, 16 de abril de 2009

FMI diz que Brasil pode sofrer recessão neste ano

Washington, 16 abr (EFE).- O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, previu que o Brasil registrará neste ano um crescimento mínimo ou entrará em recessão, uma previsão muito mais pessimista do que a do governo.
"O Brasil provavelmente terá neste ano uma taxa muito, muito baixa de crescimento, ou até negativa", disse Strauss-Kahn após um discurso no Clube Nacional da Imprensa, em Washington.
O FMI divulgará suas previsões oficiais de crescimento em nível mundial na próxima semana.
Em janeiro, o fundo previu que a economia brasileira se expandiria 1,8% neste ano, mas, desde então, reduziu suas previsões de crescimento de forma generalizada.
Há um mês, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), vinculado ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, estimou, que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceria 2% neste ano, apesar da crise.
O Banco Mundial, por sua parte, espera um crescimento zero, mas não recessão.
Apesar da redução de suas previsões para o país, Strauss-Kahn afirmou que o Brasil está "em uma boa posição" para enfrentar a crise, dado seu considerável volume de reservas, que superam os US$ 200 bilhões, e sua "boa política" econômica.
O Brasil "será menos afetado pela crise do que os Estados Unidos e alguns países europeus", disse Strauss-Kahn.

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Socialismo fracassou, capitalismo quebrou: o que vem a seguir?

Eric Hobsbawm - The Guardian

Seja qual for o logotipo ideológico que adotemos, o deslocamento do mercado livre para a ação pública deve ser maior do que os políticos imaginam. O século XX já ficou para trás, mas ainda não aprendemos a viver no século XXI, ou ao menos pensá-lo de um modo apropriado. Não deveria ser tão difícil como parece, dado que a idéia básica que dominou a economia e a política no século passado desapareceu, claramente, pelo sumidouro da história. O que tínhamos era um modo de pensar as modernas economias industriais – em realidade todas as economias -, em termos de dois opostos mutuamente excludentes: capitalismo ou socialismo.
Conhecemos duas tentativas práticas de realizar ambos sistemas em sua forma pura: por um lado, as economias de planificação estatal, centralizadas, de tipo soviético; por outro, a economia capitalista de livre mercado isenta de qualquer restrição e controle. As primeiras vieram abaixo na década de 1980, e com elas os sistemas políticos comunistas europeus; a segunda está se decompondo diante de nossos olhos na maior crise do capitalismo global desde a década de 1930. Em alguns aspectos, é uma crise de maior envergadura do que aquela, na medida em que a globalização da economia não estava então tão desenvolvida como hoje e a economia planificada da União Soviética não foi afetada. Não conhecemos a gravidade e a duração da atual crise, mas sem dúvida ela vai marcar o final do tipo de capitalismo de livre mercado iniciado com Margareth Thatcher e Ronald Reagan.A impotência, por conseguinte, ameaça tanto os que acreditam em um capitalismo de mercado, puro e desestatizado, uma espécie de anarquismo burguês, quanto os que crêem em um socialismo planificado e descontaminado da busca por lucros. Ambos estão quebrados. O futuro, como o presente e o passado, pertence às economias mistas nas quais o público e o privado estejam mutuamente vinculados de uma ou outra maneira. Mas como? Este é o problema que está colocado diante de nós hoje, em particular para a gente de esquerda.Ninguém pensa seriamente em regressar aos sistemas socialistas de tipo soviético, não só por suas deficiências políticas, mas também pela crescente indolência e ineficiência de suas economias, ainda que isso não deva nos levar a subestimar seus impressionantes êxitos sociais e educacionais. Por outro lado, até a implosão do mercado livre global no ano passado, inclusive os partidos social-democratas e moderados de esquerda dos países do capitalismo do Norte e da Australásia estavam comprometidos mais e mais com o êxito do capitalismo de livre mercado.Efetivamente, desde o momento da queda da URSS até hoje não recordo nenhum partido ou líder que denunciasse o capitalismo como algo inaceitável. E nenhum esteve tão ligado a sua sorte como o New Labour, o novo trabalhismo britânico. Em suas políticas econômicas, tanto Tony Blair como Gordon Brown (este até outubro de 2008) podiam ser qualificados sem nenhum exagero como Thatchers com calças. O mesmo se aplica ao Partido Democrata, nos Estados Unidos.A idéia básica do novo trabalhismo, desde 1950, era que o socialismo era desnecessário e que se podia confiar no sistema capitalista para fazer florescer e gerar mais riqueza do que em qualquer outro sistema. Tudo o que os socialistas tinham que fazer era garantir uma distribuição eqüitativa. Mas, desde 1970, o acelerado crescimento da globalização dificultou e atingiu fatalmente a base tradicional do Partido Trabalhista britânico e, em realidade, as políticas de ajudas e apoios de qualquer partido social democrata. Muitas pessoas, na década de 1980, consideraram que se o barco do trabalhismo não queria ir a pique, o que era uma possibilidade real, tinha que ser objeto de uma atualização.Mas não foi. Sob o impacto do que considerou a revitalização econômica thatcherista, o New Labour, a partir de 1997, engoliu inteira a ideologia, ou melhor, a teologia, do fundamentalismo do mercado livre global. O Reino Unido desregulamentou seus mercados, vendeu suas indústrias a quem pagou mais, deixou de fabricar produtos para a exportação (ao contrário do que fizeram Alemanha, França e Suíça) e apostou todo seu dinheiro em sua conversão a centro mundial dos serviços financeiros, tornando-se também um paraíso de bilionários lavadores de dinheiro. Assim, o impacto atual da crise mundial sobre a libra e a economia britânica será provavelmente o mais catastrófico de todas as economias ocidentais e o com a recuperação mais difícil também.
É possível afirmar que tudo isso já são águas passadas. Que somos livres para regressar à economia mista e que a velha caixa de ferramentas trabalhista está aí a nossa disposição – inclusive a nacionalização -, de modo que tudo o que precisamos fazer é utilizar de novo essas ferramentas que o New Labour nunca deixou de usar. No entanto, essa idéia sugere que sabemos o que fazer com as ferramentas. Mas não é assim.Por um lado, não sabemos como superar a crise atual. Não há ninguém, nem os governos, nem os bancos centrais, nem as instituições financeiras mundiais que saiba o que fazer: todos estão como um cego que tenta sair do labirinto tateando as paredes com todo tipo de bastões na esperança de encontrar o caminho da saída.
Por outro lado, subestimamos o persistente grau de dependência dos governos e dos responsáveis pelas políticas às receitas do livre mercado, que tanto prazer lhes proporcionaram durante décadas. Por acaso se livraram do pressuposto básico de que a empresa privada voltada ao lucro é sempre o melhor e mais eficaz meio de fazer as coisas? Ou de que a organização e a contabilidade empresariais deveriam ser os modelos inclusive da função pública, da educação e da pesquisa? Ou de que o crescente abismo entre os bilionários e o resto da população não é tão importante, uma vez que todos os demais – exceto uma minoria de pobres – estejam um pouquinho melhor? Ou de que o que um país necessita, em qualquer caso, é um máximo de crescimento econômico e de competitividade comercial? Não creio que tenham superado tudo isso.
No entanto, uma política progressista requer algo mais que uma ruptura um pouco maior com os pressupostos econômicos e morais dos últimos 30 anos. Requer um regresso à convicção de que o crescimento econômico e a abundância que comporta são um meio, não um fim. Os fins são os efeitos que têm sobre as vidas, as possibilidades vitais e as expectativas das pessoas.
Tomemos o caso de Londres. É evidente que importa a todos nós que a economia de Londres floresça. Mas a prova de fogo da enorme riqueza gerada em algumas partes da capital não é que tenha contribuído com 20 ou 30% do PIB britânico, mas sim como afetou a vida de milhões de pessoas que ali vivem e trabalham. A que tipo de vida têm direito? Podem se permitir a viver ali? Se não podem, não é nenhuma compensação que Londres seja um paraíso dos muito ricos. Podem conseguir empregos remunerados decentemente ou qualquer tipo de emprego? Se não podem, de que serve jactar-se de ter restaurantes de três estrelas Michelin, com alguns chefs convertidos eles mesmos em estrelas. Podem levar seus filhos à escola? A falta de escolas adequadas não é compensada pelo fato de que as universidades de Londres podem montar uma equipe de futebol com seus professores ganhadores de prêmios Nobel.
A prova de uma política progressista não é privada, mas sim pública. Não importa só o aumento do lucro e do consumo dos particulares, mas sim a ampliação das oportunidades e, como diz Amartya Sen, das capacidades de todos por meio da ação coletiva. Mas isso significa – ou deveria significar – iniciativa pública não baseada na busca de lucro, sequer para redistribuir a acumulação privada. Decisões públicas dirigidas a conseguir melhorias sociais coletivas com as quais todos sairiam ganhando. Esta é a base de uma política progressista, não a maximização do crescimento econômico e da riqueza pessoal.Em nenhum âmbito isso será mais importante do que na luta contra o maior problema com que nos enfrentamos neste século: a crise do meio ambiente. Seja qual for o logotipo ideológico que adotemos, significará um deslocamento de grande alcance, do livre mercado para a ação pública, uma mudança maior do que a proposta pelo governo britânico. E, levando em conta a gravidade da crise econômica, deveria ser um deslocamento rápido. O tempo não está do nosso lado.

Artigo publicado originalmente no jornal The Guardian

segunda-feira, 13 de abril de 2009


Para onde vai o leste europeu?

Há muita confusão no ar. Mas uma coisa é certa: o leste europeu está passando por um “realinhamento” significativo, num movimento em que, por trás das cortinas, se digladiam a União Européia, a OTAN e a “nova Rússia” de Putin/Medvedev.O começo de abril foi marcado por protestos – alguns violentos – em duas das repúblicas do leste europeu que emergiram da submersão da finada União Soviética.Houve protestos pacíficos em Tbilisi, na Geórgia, contra o presidente Mikhail Saakashvili. Saakashvili chegou ao poder em 2003, no curso de um movimento batizado no Ocidente como “Revolução Rosa”. Na ocasião, foi saudado por George Bush com o apelido de “Farol da Liberdade”. O movimento afastou a Geórgia da Rússia, o que a tornou logo um alvo para a União Européia, de um lado, com sua aproximação econômica de “levar o capitalismo” a quem dele precisa; da OTAN, de outro, com sua aproximação militar de ocupação das áreas de influência de sua arquiinimiga, a Rússia.Antes de prosseguirmos com a história dos protestos, vale uma observação: cada vez mais fica evidente que a finada União Soviética era uma espécie de “cortina de fumaça” para a “Grande Rússia”, um sonho/plano que acabou determinando uma curiosa linha de continuidade histórica entre os regimes czarista e soviético, no fim de contas. De certo modo o fim do comunismo “libertou” a Rússia de suas “peias ideológicas”, e a questão das áreas de influência retorna a galope, agora que aquele país e o Kremlin estão se reerguendo das cinzas do passado (isso será tema de um próximo artigo). Enquanto isso, a União Européia tenta alargar suas fronteiras e mercados, e a OTAN, atavicamente, continua a cercar a Rússia.Saakashvili, o “Farol da Liberdade” de Bush, logo revelou-se adepto de métodos tirânicos. Eleito em 2008 para um mandato que vai até 2013, embalou-se no sonho de sua “Grande Geórgia”, e provavelmente com o sonho/desejo de que a OTAN viesse em seu socorro, invadiu o território da Osséssia do Sul, vista como uma “província rebelde” em relação ao seu país. Acontece que o Osséssia do Sul tornara-se uma espécie de protetorado russo, por sua vizinhança com a Osséssia do Norte, em território do Kremlin. Putin estava em Pequim, para a abertura dos jogos olímpicos do anos poassado. Realizou uma reunião de meia hora com Bush, que também estava lá, onde deve ter dito cobras e lagartos ao então presidente norte-americano (basicamente, deve ter dito: “nós vamos resolver isso do nosso modo, vocês podem espernear e protestar, mas não se metam, pois a coisa foi longe demais”). Depois, tocou-se para o lugar das operações, de onde comandou uma ofensiva dos blindados russos que varreu do mapa as tropas de Saakashvili que, aliás, foram acusadas de várias atrocidades em jornais da própria Europa.Para completar esse quadro de desastre, a Geórgia é um dos países que vem sendo dos mais afetados pela recente crise de origem no sistema financeiro norte-americano. Resultado: as oposições, de vários tipos, que permaneciam divididas, estão em maré montante contra o presidente, cuja fama de “déspota não esclarecido” faz fortuna. Analistas políticos de dentro e de fora da Geórgia dizem que Saakashvili não vai renunciar, mas que provavelmente não terá condições políticas de permanecer no poder até o fim de seu mandato, o que vai reabrir a “questão geórgica” para norte-americanos, europeus e russos.Alguns países mais a oeste, a pequena Moldávia passava também neste começo de abril por acontecimentos dramáticos. A Moldávia, espremida entre a Romênia e a Ucrânia, é uma pequena ilha “comunista” neste encapelado mar “capitalista”. Tudo entre aspas, porque o comunismo, como regime social, desapareceu; mas o antigo Partido Comunista, liderado por Vladimir Voronin, permanece no poder, e com apoio dos russos. Essa permanência foi confirmada no dia 7 de abril, em eleições em que Voronin obteve uma vitória apertada para a ocupação das cadeiras no parlamento (61 a 60). As oposições não se conformaram, e chamaram protestos na capital Chisinau contra o governo, alegando fraude nas eleições. Os protestos, de início pacíficos, viraram pancadaria, quando grupos bem organizados ocuparam e aparentemente saquearam o prédio do parlamento, o escritório da presidência e outros prédios governamentais.Uma coisa chama a atenção: a participação de jovens nos protestos é muito grande. Para eles uma derrota de Voronin significaria uma aproximação maior com a União Européia e suas perspectivas de um possível capitalismo afluente. A Moldávia é o país mais pobre da Europa; tem mais ou menos 3,5 milhões de habitantes, dos quais 800 mil reivindicam a cidadania romena. Comentaristas pró-Ocidente se referem à Moldávia de Voronin como uma “república de aposentados”. Outros, mais agressivos, falam de uma “república de desdentados”. Entretanto o clima desses comentários era uma situação anterior que hoje não existe mais, qual seja, a de um capitalismo rutilante que oferecia paetês e lantejoulas para populações desiludidas com a falta de democracia e de perspectivas do finado comunismo.Hoje, pelo contrário, o que o capitalismo vizinho oferece são as “noites de terror” em que milhares de pessoas dormem com um emprego e acordam desempregadas, o que só complica mais o caldo de cultura desse imbróglio em que se misturam ambições territoriais de “grandes pequenos países” às desilusões e esperanças muitas vezes enraivecidas com ambos os regimes, o comunista e o capitalista. O caso complicou-se mais ainda porque, segundo o próprio governo moldavo, alguns dos manifestantes levavam bandeiras romenas. A vizinha Romênia já teve posse de grande parte do território moldavo entre 1918 e 1940, que fazia parte do sonho da “Grande Romênia”, buscado pela então monarquia vigente. Além das disputas de fronteira, há cicatrizes históricas consideráveis: o governo da Romênia alinhou-se com os nazistas durante a guerra, e o exército romeno promoveu seus próprios “progroms” na vizinha Moldávia, contra judeus e contra comunistas, ciganos e outros grupos “indesejáveis”. A re-anexação da Moldávia à Romênia significaria uma entrada imediata na União Européia, uma vez que esta já faz parte do condomínio com sede política em Bruxelas. Voronin acusou a Romênia de patrocinar os protestos, fechou a fronteira com o vizinho, expulsou o embaixador, e prometeu endurecer a política de vistos de entrada para romenos.Por sua vez a Rússia, que no começo do ano “enquadrou” o rebelde governo da Ucrânia através do “lockout” do fornecimento de gás durante o inverno (sem falar que mais ou menos 30% do gás utilizado na Europa vem da Rússia através de gasodutos em território ucraniano), promete sustentar o governo de Voronin; ao mesmo tempo, a União Européia tem prevista uma reunião para 7 de maio, em Praga, para a qual estão convidadas, além da Moldávia e da Romênia, a Ucrânia, a Bielo-Rússia, a Armênia, o Azerbaijão e a Geórgia (ainda) de Saakashvili, um caldo efervescente que pode entornar a sopa.

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sexta-feira, 3 de abril de 2009

Crise financeira?

Tornou-se dominante interpretar a atual crise econômica mundial como financeira, inclusive nos arraiais marxistas, seguindo-se as indicações elaboradas por François Chesnais sobre os regimes de acumulação à dominância financeira. E as evidências empíricas levam água ao moinho dessa explicação, haja visto que foi o estouro das chamadas hipotecas subprime, que acendeu, finalmente, a luz vermelha de uma intervenção urgente e profunda. Bush ainda brincou, e deixou o Lehmann Brothers ir à breca, bem no receituário liberal. Mas o tsunami não perdeu o poder destrutivo e agora o elegante Barack Obama tenta domá-lo, sem muito êxito, até aqui.A crise que aí está é a primeira da globalização, não a primeira global, pois de há muito todas as crises produzidas no centro do sistema propagam-se imediatamente. Uma crise da globalização é diferente: ela pode ser gestada nas periferias do sistema, atingir o centro e daí propagar-se. Teoricamente, ela é uma crise clássica na interpretação marxista: é de realização do valor, mas aqui está sua novidade: a produção do valor se dá na China e sua realização nos EUA. É no que pode dar a assimetria entre os 10% de crescimento da China e os modestos 3 a 4% dos EUA. Nos últimos vinte anos, o capitalismo mundial experimenta uma violentíssima expansão: 800 milhões de trabalhadores foram transformados em operários entre a Índia e a China, e em todos os países do vastíssimo arco asiático. Ficaram de fora nessa verdadeira revolução capitalista, a África, como sempre, e praticamente toda a América Latina. Uma ampliação quase sem precedentes na história mundial das fronteiras da mais-valia. Descentralidade do trabalho? Vade retro! Com certeza, quem escreve e quem lê estão calçando um tênis e usando um relógio digital produzidos nessa nova fronteira. Isto quer dizer em teoria do valor que o custo de reprodução da força de trabalho nos países que importam tais bens de consumo foi drasticamente reduzido, sem a contrapartida de um aumento do salário monetário das suas classes trabalhadoras; Robert Kurz já os chamou, faz tempo, “sujeitos monetários sem dinheiro”. Flynt (GM), Dearborn (Ford) e toda Detroit são hoje cidades fantasmas, casas abandonadas, com desempregos duas vezes superiores à taxa nacional norte-americana, e uma cena medieval diária, inimaginavel na América das oportunidades: trabalhadores em filas recebendo refeições; ao invés de Lutero e Calvino, São Francisco de Assis.. Atenção: esta revolução nos mercados de trabalho mundiais não poderia ter sido feita sem uma pesada mudança técnico-científica nos métodos e produtos. O relógio digital que se descarta é banal porque produzido por uma enorme infra-estrutura técnico-científica que tornou as imensas reservas de mão-de-obra baratíssimas. A China hoje tem mais estudantes de curso universitário que os EUA, e mais pós-graduandos que o total de estudantes universitários do Brasil. Nos EUA isto significou que a não-contrapartida em salário monetário deixou um buraco nas contas dos consumidores e das famílias, que no boom da especulação imobiliária tinham adquirido a casa dos seus sonhos. Cujos empréstimos os norte-americanos imediatamente deixam de pagar, abandonam as casas e vão morar nos trailers de seus carrões, estacionados à noite nos parkings, onde dormem. E os bancos e financeiras hipotecárias deixaram até de cobrar, porque o crédito novo, obtido através do FED e dos empréstimos chineses, era mais barato do que cobrar dos inadimplentes. A oferta de dinheiro barato, as subprimes, veio das aplicações chinesas em títulos do tesouro americano, cujo FED deixou os bancos privados expandirem o crédito para além de qualquer critério. Já em março de 2005, Ben Bernanke, então importante economista de Princeton, alertava para o risco da utilização dos empréstimos chineses para financiar os pesados gastos das famílias norte-americanas, em hipotecas de casas e carros. Ben é hoje o todo-poderoso presidente do FED, e de crítico converteu-se em administrador da bancarrota (citado em Mark Landler, “Somente os bolsos chineses se enchiam” Folha de S.Paulo, 5/jan/2009, artigos selecionados do The New York Times).
Francisco de Oliveira é Professor Emérito da FFLCH-USP.

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Otan celebra 60 anos buscando novas soluções para Afeganistão

Os países-membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) devem discutir uma possível mudança na estratégia de sua missão no Afeganistão a partir desta sexta-feira, na França, durante uma cúpula de dois dias que marcará os 60 anos da aliança e o início de um debate sobre seu futuro papel.
O evento está sendo realizado sob um forte aparato de segurança e marcado por simbolismos e celebrações, a começar pelo local escolhido para sua realização: às margens do rio Reno, nas cidades fronteiriças de Estrasburgo, na França, e Kehl, na Alemanha, que representam a reconciliação entre os dois países ao final da Segunda Guerra Mundial.
O encontro selará o retorno dos franceses à estrutura militar da Otan depois de 43 anos de uma ausência imposta pelo general Charles de Gaulle, que defendia que o país ganharia mais autonomia ao se afastar da administração do bloco transatlântico.
Também celebrará a nova ampliação da Otan no Leste europeu, com a integração esta semana de Croácia e Albânia, elevando a 28 o número de países-membros.
Afeganistão
A agenda dos 28 governantes da aliança será dominada pela missão no Afeganistão, a mais importante da história da organização, que atua no país há pouco mais de seis anos e admite estar longe de conseguir neutralizar as ações do Talebã.
Em sua primeira cúpula, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, tentará convencer os demais países a adotar uma nova estratégia de combate no Afeganistão, que inclua negociações com líderes do Talebã considerados moderados e ações coordenadas com o vizinho Paquistão, onde militantes organizam muitos de seus ataques.
Obama também deve pedir mais recursos para a missão, a fim de proporcionar reforço aos 60 mil soldados de 42 países presentes atualmente no Afeganistão.
O presidente americano já anunciou que pretende enviar em breve 21 mil soldados ao país, para somar-se a um contingente que hoje conta com 38 mil homens.
Por sua parte, o secretário-geral da Otan, Jaap de Hoop Scheffer, defende que é "imprescindível" o envio de quatro batalhões adicionais, especialmente antes das eleições gerais previstas para agosto próximo, mas enfrenta resistência de muitos países da União Europeia, entre eles a França.
Ainda assim, o porta-voz da Otan, James Appathurai, disse confiar em um acordo para o envio de pelo menos 450 tropas suplementares por parte de Espanha, Itália, Holanda e Portugal, que teriam como missão dar formação a militares e policiais afegãos.
Reforma
Os líderes aliados também deverão iniciar nessa cúpula um debate sobre o futuro da organização, que quer se adaptar aos "desafios do século 21".
"O atual conceito estratégico da Otan data de 1999, antes dos atentados de 11 de setembro de 2001, da missão no Afeganistão e do terrorismo cibernético. Por isso, é de grande importância definir uma nova estratégia", defendeu Appathurai em uma entrevista coletiva prévia à cúpula.
Esta semana a chanceler alemã, Angela Merkel, pediu uma "transformação revolucionária" na estrutura e estratégia da aliança, com maior cooperação com a Organização das Nações Unidas (ONU) e com a União Europeia.
Para muitos de seus países-membros, a Otan também deve contemplar intensificar suas relações com Rússia e o Irã, dois países cujo apoio é considerado de fundamental importância para a luta contra a insurgência afegã.

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quinta-feira, 2 de abril de 2009

Queda da população pode afetar economia da Rússia

O declínio acentuado da população russa poderá ter graves consequências nas áreas econômica e de defesa e ameaçar o crescimento do país na próxima década, segundo a opinião de especialistas ouvidos pela BBC Brasil.

De acordo com Sergei Zakharov, do Instituto de Demografia da Higher School of Economics, em Moscou, a Rússia de 2020 estará sofrendo os efeitos da redução da sua população. Em 2015 a Rússia já poderá ter oito milhões de pessoas na força de trabalho a menos do que tem hoje e, no Exército, a redução poderá ser de até um milhão até 2050.

"Os números são assustadores", diz Zakharov.

Um estudo patrocinado pelas Nações Unidas e divulgado ano passado por especialistas em demografia mostrou que a população do país poderá encolher dos atuais 142 milhões de pessoas para 100 milhões até 2050.

Natalidade e mortalidade

Dois principais fatores explicam o declínio da população russa. O primeiro são as baixas taxas de natalidade registradas ao longo das últimas décadas, uma tendência observada em muitos países europeus e agravada na Rússia pelas dificuldades econômicas dos anos 90, quando o país sofreu a transição do comunismo para o capitalismo.

O segundo fator é a alta taxa de mortalidade, principalmente entre os homens em idade reprodutiva.

Segundo Zakharov, um em cada três russos morre antes de se aposentar e as causas mais comuns são externas, como alcoolismo, acidentes de trânsito e mortes por envenenamento, causadas por consumo de bebida alcoólica fabricada de forma clandestina.

De acordo com dados oficiais, o número de mortes superou o de nascimentos em 12 milhões de 1992 a 2007, uma perda compensada parcialmente pela chegada de 5,5 milhões de imigrantes no mesmo período.

A Rússia é um dos únicos países do mundo em que a expectativa de vida diminuiu desde os anos 60. De acordo com dados oficiais de 2006, os homens russos vivem em média 60 anos, 15 abaixo da média europeia. Para as mulheres, a expectativa de vida é de 72 anos.

Impactos

O encolhimento da população pode ter diversos impactos na economia russa. Economistas estimam que a redução da força de trabalho possa resultar na queda da produção econômica, causando um impacto direto no Produto Interno Bruto (PIB) do país.

Uma população em declínio também poderá afastar investidores internacionais, interessados no potencial do consumo interno.

"Onde o investidor prefere aplicar recursos? Na Índia ou na China, onde a renda per capita cresce junto com a população, ou na Rússia, onde a renda per capita vem crescendo, mas o mercado consumidor vem encolhendo?", indaga Markus Jaeger, economista do Deutsche Bank.

A previdência social também poderá sofrer com a crise demográfica, afirma Jaeger.

"Se a força de trabalho não for renovada, não haverá pessoas suficientes para gerar a renda necessária para pagas as pensões de aposentados. Isso pode prejudicar as políticas fiscais e econômicas e gerar tensões políticas", estima o economista.

Ainda segundo Jaeger, em termos demográficos a Rússia está na pior posição em relação aos outros países do BRIC.

Ele detalha que na Índia a população vem crescendo rapidamente, enquanto na China a força de trabalho continuará expandindo até 2015, data a partir da qual a população começará a envelhecer, mas não deverá declinar. Já o Brasil, segundo ele, se beneficiará de um aumento de 20% na força de trabalho até 2025.

"A Rússia, infelizmente, poderá sofrer um colapso populacional", acredita.

Medidas

Para tentar reverter o declínio da população, o governo vem oferecendo, desde 2006, estímulos financeiros para famílias que decidirem ter o segundo filho.

A estratégia teve resultados imediatos, com aumento de 130 mil nascimentos de 2006 para 2007. Para Sergei Zakharov, os resultados são temporários e serão seguidos, segundo ele, por uma "queda catastrófica na taxa de natalidade".

Outra estratégia do governo é estimular a imigração. Em 2006, o governo do ex-presidente e atual primeiro-ministro, Vladmir Putin, implementou um programa que visa a atrair para a Rússia imigrantes de etnia eslava que falem russo.

O presidente do Centro de Pesquisa sobre Problemas de População, da Universidade Estadual de Moscou, Valery Yelizarov, teme que a imigração cause tensões sociais na Rússia.

"Os russos não gostam de estrangeiros, não gostam de se misturar com pessoas de outras culturas e credos", afirma ele. "E, com a crise financeira deixando milhões de russos sem emprego, os imigrantes serão cada vez mais alvos de ataques xenófobos", acrescenta.

Para Yelizarov, o governo deveria ampliar o programa de benefícios às famílias e agir para diminuir os índices de mortalidade.