Por Arthur Cote
Em 2010 saí de férias com a minha esposa Debbie. Era maio, lindo tempo para praia. No primeiro dia de viagem, eu estava muito animado para parar em um lugar e comer um grande hambúrguer com meu amigo Jim. Assim que nos sentamos para comer, meu telefone tocou. Era meu otorrinolaringologista. Ele disse calmamente e sem pausas: “Cote, infelizmente, a biópsia deu positivo. Você tem um carcinoma de células escamosas em seu pescoço que precisa ser retirado imediatamente”. Fui operado poucos dias depois de voltar a São Francisco, onde moro. Só que ninguém me avisou sobre as consequências da cirurgia.
Os médicos tiraram o tumor, mas me deixaram com uma dor terrível. Eu quase não podia suportar. Na primeira noite, pedi mais analgésicos à enfermeira. Ela disse que eu já havia tomado minha cota de Tylenol, e que portanto teria que esperar até a manhã seguinte. Eu perguntei se ela estava brincando, que eu tinha feito uma cirurgia mais cedo hoje. Ela não estava. Passei a noite gritando de dor. Passei a noite em agonia. No outro dia, fui apresentado à oncologista, que me passou a lista de prioridades: ressonância magnética, radiação e quimioterapia. Dava para ver que seria um caminho difícil.
Na radioterapia, os médicos cobriram meu rosto com uma máscara para queimar as células cancerígenas da região. Entrei em pânico. Foram 33 dias, cinco dias por semana. Durante os dez minutos de cada sessão, eu era como uma salsicha dentro de um micro-ondas. Meu pescoço ardia e as dores ficaram ainda mais intensas. E pior: a radiação literalmente queimou minhas glândulas adrenais – responsáveis pela produção de hormônios esteróides, fundamentais para o funcionamento do corpo. Passei então a ingerir pílulas diárias de esteróides para continuar vivo, que provocaram enjôos e um enorme mal-estar. Era muito difícil comer e dormir. Os médicos me receitaram vários remédios, como a metadona, mas quase não surtiam efeito – eu me sentia cada vez pior.
Há cerca de um ano, meus filhos me sugeriram que eu passasse a usar a maconha. Por acaso, eles trabalham com maconha medicinal em São Francisco e me recomendaram a droga para amenizar a dor e aliviar a minha alta ansiedade sobre o início do tratamento. Eu fiquei surpreso, pois pela primeira vez, desde o inicio do tratamento, eu consegui dormir vez durante a noite.
Meu médico me deu a prescrição. Hoje eu posso viver como uma pessoa normal. A maconha não eliminou a dor, mas a reduziu bastante. Em uma escala de 1 a 10 ( sendo 10 a pior), sinto uma dor grau 7 quando não uso maconha. Com ela, a dor diminui para 4 ou 5.
Consumo a erva geralmente na forma de biscoitos da Auntie Dolores, uma empresa que fabrica produtos comestíveis feitos com maconha medicinal. Isso evita os efeitos colaterais do fumo. Consumo de 4 a 5 mg de maconha de manhã para poder trabalhar. À noite, tomo outros 9 mg para dormir. Eu mesmo ajusto a dose até sentir o efeito, mas continuo tomando os remédios, como a hidrocortisona (esteróide similar ao hormônio produzido pelas adrenais) e a fludrocortisona (para controlar o sódio).
O uso da maconha para fins médicos é legal em apenas 18 dos 50 Estados norte-americanos, e poucos deles realmente aplicaram a lei, como é o caso da Califórnia. Assim, mesmo com prescrição médica, você pode ter muita dificuldade para obter a erva nos EUA. Eu tive a sorte de viver em São Francisco. Não sei como seria se não tivesse sido assim. Com todos os remédios disponíveis, a única coisa que realmente me ajudou foi a maconha. Se eu não tivesse acesso à ela, eu estaria em apuros.
Fonte: SuperInteressante
Arthur Cote, 55, é um programador da califórnia, EUA. Ele teve câncer no pescoço
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