A
língua curda pertence ao subgrupo noroeste das
línguas iranianas, que por sua vez pertence ao ramo
indo-iraniano da família de
línguas indo-européias. O curdo deve ter evoluído a partir de línguas caucasianas e do aramaico devido a certas peculiarides que a fazem distinta das outras línguas iranianas. A maioria dos ancestrais dos curdos falava várias línguas da família indo-européia.
A língua original dos curdos foi o hurrita, uma língua não indo-européia que pertencia à família caucasiana. A antiga língua foi substituída pelo indo-europeu por volta de 850 a.C. com a chegada dos medos ao Curdistão. Todavia, a influência do hurrita no curdo ainda é evidente na sua estrutura gramatical
ergativa e nos
topônimos.
A maioria dos curdos são
bilíngües ou
poliglotas, falando as línguas dos povos da vizinhança tais como o
árabe, o
turco e o
persa como
segunda língua. Os
judeus curdos e alguns
cristãos curdos (não confundir com os assírios étnicos do Curdistão) habitualmente falam
aramaico (por exemplo,
lishana deni) como sua primeira língua. O aramaico é uma
língua semítica muito mais próxima do árabe e do
hebraico que do curdo.
A língua curda compreende dois dialetos principais e vários subdialetos:
Comentando sobre as diferenças entre os dialetos curdos, Kreyenbroek esclarece que em algumas direções, curmânji e sorâni são tão diferentes um do outro como inglês e alemão, dando como exemplo que o curmânji possui gênero gramatical e finais casuais, enquanto o sorâni não, e considera que a referência ao sorâni e ao curmânji como "dialetos" de uma língua é suportada apenas pela "sua origem comum... e o fato de que esta convenção reflete o senso de identidade étnica e unidade dos curdos."
Origens genéticas e étnicas
De acordo com a
Encyclopædia Britannica, "os persas, curdos e falantes de outras línguas indo-européias no Irã são descendentes das tribos
arianas que começaram a migrar da Ásia Central para o atual Irã no segundo milênio a.C." De acordo com a Columbia Encyclopedia, os curdos, assim como outros grupos étnicos migrantes da região, estão "entre os descendentes menos miscigenados dos iranianos originais". De acordo com a Enciclopédia do Islã, a classificação dos curdos como arianos é principalmente baseada em dados lingüísticos e históricos e não prejudica o fato de haver uma complexidade de elementos étnicos a eles incorporados.
De acordo com um estudo de 2001 sobre a população turca, os ancestrais dos "curdos, armênios, iranianos, judeus, e outros grupos mediterrâneos (orientais e ocidentais) parecem dividir um ancestral comum" e pertenciam a um substrato mediterrâneo antigo, ou seja, a grupos
hurritas e
hititas e que estes povos não tinham conexão com uma invasão ariana que se supõe ter ocorrido por volta de 1200 a.C.
"Conclui-se que esta invasão, se ocorreu, teve relativamente poucos invasores em comparação às populações já estabelecidas, como os grupos hititas anatolianos e hurritas (anteriores a 2000 a.C.). Estes devem ter iniciado as atuais populações curda, turca e armênia."
Em
2001, uma equipe de cientistas israelenses, alemães e indianos descobriu que entre as várias comunidades judaicas, os judeus
asquenazi apresentam uma relação mais próxima com os curdos
muçulmanos que com a população falante de línguas semíticas mais afastadas do sul da
península Arábica, enquanto os judeus curdos e os
judeus sefarditas parecem ser muitos próximos entre eles. Mais de 95% dos curdos muçulmanos testados indicam uma procedência no norte do Iraque. Além disso, de acordo com outro estudo, o
haplótipo modal Cohen é um marcador genético do norte do
Oriente Médio que não é exclusivo dos judeus.
Em outro estudo, os judeus curdos foram identificados como sendo próximos dos muçulmanos curdos, mesmo sendo asquenazi ou sefarditas, sugerindo que muito se não a maioria das similaridades genéticas entre os judeus e muçulmanos curdos descende de épocas antigas.
A comparação da distância genética em outro estudo revelou que os povos falantes de línguas
turcas e
turcomenas na região do
mar Cáspio agrupam-se com os curdos,
gregos e ossetas. Neste estudo, os falantes de
persa são geneticamente afastados destas populações; eles são, todavia, próximos dos parsis que migraram do
Irã para a
Índia no final do século VII.
População
O número exato de curdos vivendo no
Oriente Médio é desconhecido, devido á análise dos recenseamentos recentes e à relutância dos vários governos das regiões habitadas por curdos em fornecer dados precisos.
De acordo com o CIA Factbook, os curdos compreendem 20% da população da
Turquia, de 15 a 20% no
Iraque, possivelmente 8% na
Síria, 7% no
Irã e 1,3% na
Armênia. Em todos estes países com exceção do Irã, os curdos formam o segundo maior grupo étnico. Aproximadamente 55% dos curdos no mundo vivem na Turquia, 20% no Irã, 20% no Iraque e um pouco menos de 5% na Síria. Estas estimativas estabelecem o número total de curdos entre 27 e 36 milhões.
Há outras fontes que registram uma população maior de curdos que a mencionada acima. Além disso, estima-se que os curdos, especialmente na Turquia, têm um índice de natalidade quase 50% superior que os
turcos. Devido a isso, eles são vistos como um desafio demográfico para o estado.
História moderna
Curdos no Iraque
Os curdos liderados por
Mustafa Barzani estiveram em luta contra os sucessivos regimes iraquianos de
1960 a
1975. Em março de
1970, o Iraque anunciou um plano de paz contemplando a autonomia curda. O plano seria implementado em quatro anos. No entanto, ao mesmo tempo, o regime iraquiano iniciou um programa de arabização nas regiões ricas em petróleo de
Kirkuk e
Khanaqin. O acordo de paz não durou, e em
1974, o governo iraquiano iniciou uma nova ofensiva contra os curdos. Além disso, em março de 1975, Iraque e Irã assinaram o Pacto de Argel, de acordo com o qual o Irã cortava suprimentos para os curdos iraquianos. O Iraque iniciou outra onda de arabização enviando árabes para os campos de petróleo no Curdistão, particulamrnete aos arredores de Kirkuk. Entre 1975 e
1978, duzentos mil curdos foram deportados para outras regiões do Iraque.
Durante a
guerra Irã-Iraque na
década de 1980, o regime implementou políticas anticurdos e uma guerra civil de facto eclodiu. O Iraque foi amplamente condenado pela comunidade internacional, mas nunca foi seriamente punido pelos meios opressivos que utilizou tais como assassinato em massa de centenas de milhares de civis, a destruição generalizada de milhares de aldeias e a deportação de milhares de curdos para o sul e o centro do Iraque. A campanha do governo iraquiano contra os curdos em
1988 foi chamada Anfal ("Pilhagem de Guerra"). Os ataques Anfal levaram à destruição duas mil aldeias e entre 50 e 100 mil curdos foram mortos.
Após o levante curdo de 1991 (em curdo: Raperîn) liderado pela União Patriótica do Curdistão (UPC) e pelo Partido Democrático do Curdistão (PDC), tropas iraquianas recapturaram as regiões curdas e centenas de milhares de curdos fugiram pelas fronteiras. Para suavizar a situação, uma "zona de exclusão" foi estabelecida pelo Conselho de Segurança da
ONU. A região autônoma curda ficou sendo controlada principalmente pelos partidos rivais UPC e PDC. A população curda recebeu com prazer as tropas americanas em
2003. A área controlada pelas forças curdas foi expandida, e os curdos agora têm o controle efetivo em Kirkuk e em partes de
Mosul. No início de
2006, as duas regiões curdas foram unidas em uma região unificada. Uma série de consultas populares está agendada para
2007, para determinar as fronteiras definitivas da região curda.
Curdos na Turquia
Aproximadamente metade de todos os curdos vivem na Turquia. De acordo com o CIA Factbook, eles representam 20% das 70 milhões de pessoas da Turquia, ou seja, há cerca de 8 milhões de curdos na Turquia. Outras estimativas variam entre 8 e 10 milhões. Eles estão predominantemente distribuídos no sudeste do país.
A melhor estimativa disponível do número de pessoas na Turquia falando uma língua relacionada ao curdo indica cerca de 5 milhões (1980). Há cerca de um milhão de falantes de dimli (
zazaki meridional) e cerca de 140 mil falantes de kirmanjki (zazaki setentrional), o qual tem cerca de 70% do léxico similar ao dimli. Estas estimativas são de 1999 no caso do dimli e de 1972 no caso do kirmanjki. Cerca de 3.950.000 outros falam curdo setentrional (
curmânji) (1980). O crescimento da população sugere que o número de falantes tenha crescido, e também é verdade que o uso da língua tem sido desencorajado nas cidades turcas, e que poucos curdos étnicos vivem no interior do país onde a língua tradicionalmente tem sido usada. O número de falantes é claramente menor que 8 milhões de pessoas que se identificam como sendo curdos étnicos.
De
1915 a
1918, os curdos lutaram pelo fim do domínio otomano sobre sua região. Eles foram encorajados pelo apoio de
Woodrow Wilson às nacionalidades não turcas do império e submeteram sua reivindicação por independência na
Conferência de Paz de Paris de
1919. O
Tratado de Sèvres determinou a criação de um estado autônomo curdo em
1920, mas o subseqüente
Tratado de Lausanne de
1923 não mencionou os curdos. Em
1925 e
1930 revoltas curdas foram suprimidas através do uso da força.
Após estes eventos, a existência de grupos étnicos distintos como os curdos na Turquia foi oficialmente negado e qualquer expressão de identidade étnica feita pelos curdos era duramente reprimida. Até 1991, o uso da língua curda - ainda que freqüente - era ilegal. Como resultado de reformas influenciadas pela
União Européia, transmissões de televisão e rádio em curdo agora são permitidas embora com severas restrições de tempo (por exemplo, transmissões de rádio não podem exceder sessenta minutos por dia nem constituir mais que cinco horas semanais enquanto as transmissões de TV estão sujeitas a restrições maiores). Além disso, a educação em curdo agora é permitida embora apenas em instituições privadas.
Em 1994, todavia,
Leyla Zana, a primeira representante mulher curda no Parlamento da Turquia, foi punida por fazer "discursos separatistas" e sentenciada a quinze anos de prisão. Na sua posse como membro do parlamento, ela supostamente se identificou como curda. A
Anistia Internacional relatou que "ela fez o juramento de lealdade em
turco, como exigido pela lei, e então acrescentou em curdo: 'Eu lutarei para que os povos turco e curdo vivam juntos em um sistema democrático'. O Parlamento irrompeu com gritos de 'Separatista!', 'Terrorista!', e 'Prendam-na!'."
O Partiya Karkerên Kurdistan (PKK) (Partido dos Trabalhadores do Curdistão), também conhecido como KADEK e Kongra-Gel, é considerado pelos
Estados Unidos e pela União Européia como sendo uma organização
terrorista dedicada a criar um estado curdo independente em um território (tradicionalmente referido como
Curdistão) consistindo de partes do sudeste da Turquia, nordeste do Iraque, nordeste da Sìria e noroeste do Irã. É uma organização étnica separatista que usa a força e ameaça de força contra alvos civis e militares com o propósito de alcançar seus objetivos políticos.
Entre 1984 e 1999, o PKK e o exército turco entraram em guerra aberta, e a maior parte do interior do país no sudeste foi despovoada, com os civis curdos sendo deslocados para locais defensíveis como
Diyarbakır,
Van e
Şırnak, assim como para cidades da Turquia ocidental e até mesmo para a Europa ocidental. As causas do despovoamento incluem atrocidades do PKK contra clãs curdos que eles não podiam controlar, a pobreza do sudeste, e as operações militares do estado turco. A
Human Rights Watch documentou várias ocorrências onde os militares turcos evacuaram vilas com uso de força, destruíndo casas e equipamentos para evitar o retorno dos habitantes. Estima-se que 3.000 vilas e aldeias curdas na Turquia foram verdadeiramente varridas do mapa, o que representou o deslocamento de mais de 378.000 pessoas.
Curdos no Irã
Os curdos constituem aproximadamente 20% da população total do Irã. Alguns curdos iranianos têm resistido aos esforços do governo iraniano, tanto antes quanto depois da revolução de
1979, para assimilá-los na vida nacional. Junto com os curdos de regiões no Iraque e na Turquia, há movimentos separatistas que apóiam a idéia de se estabelecer um estado
independente curdo.
No século XVII, um grande número de curdo foi deportado pelo xá
Abbas I da Pérsia para
Khorasan no Irã oriental e por meio da força foram assentados nas cidades de
Quchan e
Birjand. Os curdos de Khorasan, cerca de 700.000, ainda usam o dialeto curdo curmânji. Durante os séculos XIX e XX, sucessivos governos iranianos sufocaram revoltas curdas comandadas por figuras notáveis curdas, tais como o xeque Ubaidullah (contra a
dinastia Qajar em
1880) e Simko (contra a
dinastia Pahlavi na década de
1920).
Em 1946, a
República de Mahabad apoiada pelos
soviéticos foi estabelecida no Curdistão iraniano como parte de uma série de estados fantoches soviéticos, mas que durou apenas onze meses.
Após o
golpe militar de
1953,
Mohammad Reza Pahlavi se tornou mais autocrático e suprimiu a maior parte da oposição, inclusive as minorias étnicas, como os curdos. Ele também proibiu qualquer tipo de ensino em língua curda.
Nos anos recentes, lutas intensas ocorreram entre os curdos e o estado iraniano entre 1979 e 1982. Em agosto de 1979,
Ruhollah Khomeini declarou uma "guerra santa" contra os curdos. Uma fotografia de um pelotão de fuzilamento da Guarda Revolucionária executando prisioneiros curdos próximo a
Sanandaj ganhou fama internacional e venceu o
Prêmio Pulitzer em
1980. O
Corpo de Guarda da Revolucão Islâmica atacou as regiões curdas para restabelecer o controle do governo iraniano; como resultado, cerca de dez mil curdos foram mortos. Desde 1983, o governo iraniano mantém o controle sobre todas as áreas habitadas pelos curdos. Intranqüilidade freqüente e tomadas de posições militares tem ocorrido desde a
década de 1990.
No Irã, os curdos expressam sua identidade cultural livremente, mas os direitos de governo e auto-administração são negados. Da mesma forma que em outras partes do Irã, membros de qualquer partido político não-governamental no Curdistão pode ser punido com perseguição, aprisionamento e até mesmo a morte. Os ativistas de
direitos humanos curdos no Irã têm sido ameaçados pelas autoridades iranianas por causa de seu trabalho. Após a morte do ativista opositor curdo
Shivan Qaderi e de dois outros homens curdos pelas forças de segurança iranianas em
Mahabad em 9 de julho de 2005, seis semanas de tumultos e protestos ocorreram nas cidades e vilas curdas por todo o Curdistão Oriental. Uma grande quantidade de pessoas foi morta ou ferida, e outros tantos foram presos sem acusação. As autoridades iranianas também fecharam vários dos principais jornais curdos e prenderam editores e repórteres. Entre estes estava
Roya Toloui, uma ativista
feminista e chefe do jornal Rasan ("Despertar") em Sanandaj. Ela foi torturada por dois meses por suposto envolvimento na organização de protestos pacíficos por toda a província do Curdistão.
Curdos na Síria
Os curdos são cerca de 15% da população da
Síria, o que corresponde a cerca de 1,9 milhão de pessoas. Isto faz deles a maior minoria étnica no país. Eles estão majoritariamente concentrados no nordeste e no norte mas há também populações curdas significativas em
Aleppo e
Damasco. Eles falam com freqüência curdo em público, a menos que todos os presentes não o façam. Os ativistas de direitos humanos curdos são maltratados e perseguidos. Nenhum partido político é permitido a qualquer grupo, curdo ou não.
As técnicas usadas para suprimir a identidade étnica dos curdos na Síria incluem várias proibições do uso da língua curda, recusa em registrar crianças com nomes curdos, substituição de nomes de lugares curdos com novos nomes em
árabe, proibição de negócios que não tenham nomes árabes, proibição de escolas privadas curdas e proibição de livros e outros materiais escritos em curdo. Com o direito à nacionalidade síria negado, cerca de trezentos mil curdos são privados de quaisquer direitos sociais, violando-se assim as leis internacionais. Como conseqüência, estes curdos estão efetivamente de mãos atadas dentro da Síria. Em fevereiro de 2006, no entanto, fontes relataram que que a Síria então estava planejando conceder cidadania a estes curdos.
Em 12 de março de 2004, em um estádio em
Qamishli (cidade majoritariamente curda no nordeste da Síria), eclodiram confrontos entre curdos e sírios que duraram vários dias. Pelo menos trinta pessoas foram mortas e mais de cento e sessenta feridas. O distúrbio se espalhou para outras cidades curdas ao longo da fronteira com a Turquia, e em seguida para Damasco e Aleppo.
Curdos na Armênia
Entre as décadas de 1930 e 1980, a
Armênia fez parte da
União Soviética e os curdos, como outros grupos étnicos, tinham o status de minoria protegida. Aos curdos armênios era permitido ter seu próprio jornal patrocinado pelo estado, transmissões de rádio e eventos culturais.
Durante o conflito em
Nagorno-Karabakh, muitos curdos não-yazidis foram forçados a deixar suas casas. Com o fim da União Soviética, os curdos na Armênia foram alijados de seus privilégios culturais e a maioria fugiu para a
Rússia ou para a Europa Ocidental.
Curdos no Azerbaijão
Em
1920, as duas áreas habitadas por curdos de Jewanchir (capital
Kalbajar) e Zangazur oriental (capital
Lachin) foram reunidas para formar o
Curdistão Vermelho (Kurdistan Uyezd). O período de existência da unidade administrativa curda foi breve e não durou após
1929. Os curdos subseqüentemente enfrentaram muitas medidas repressivas, inclusive deportações. Como resultado do conflito em Nagorno-Karabakh, muitas regiões curdas foram destruídas e mais de 150.000 curdos foram deportados desde
1988.
Diáspora curda
www.wikipedia.org